Fala
com um fio de voz e por vezes a respiração lhe pesa tanto que precisa parar.
Mas a mente é lúcida e o coração bondoso.
A
entrevista com o Cardeal Virgílio Noé, 86 anos, Mestre de Cerimônias Litúrgicas
no Pontificado de Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II, Arcipreste Emérito da
Basílica de São Pedro e ex-Vigário do Papa para a Cidade do Vaticano, se revela
comovente, e ao mesmo tempo contagiante.
O
purpurado, que abandonou a vida pública por causa das enfermidades da idade
avançada, e falecido em 24 de julho de 2011, aos 89 anos, em Roma, ajuda-nos,
levando-nos pela mão, a conhecer melhor um Pontífice – erroneamente – esquecido
na pressa da história: Giovanni Battista Montini. E revelou pela primeira vez a
que se referia precisamente Paulo VI quando, em 1972, denunciou a presença da
fumaça de Satanás na Igreja.
Sua
Eminência, quem foi o Papa Paulo VI?
Um
verdadeiro cavalheiro, um santo. Lembro-me ainda como ele vivia o Mistério
Eucarístico, com amor e participação. Quando penso nele choro, mas não à
maneira dos hipócritas. Sinto-me realmente tocado. Devo muito a ele, ensinou-me
muito, ele viveu e pagou um grande preço pela Igreja.
O
Senhor teve o privilégio de ser Mestre das Cerimônias Litúrgicas precisamente
devido à nomeação recebida do Papa Montini nos tempos da reforma pós-conciliar.
Como se recorda daquele tempo?
Esplendidamente.
Uma vez o Santo Padre disse-me, pessoalmente, e de modo afetuosíssimo, como o
Mestre de Cerimônias deveria atuar naquele função e naquele determinado período
histórico. Entrou na sacristia. Aproximou-se de mim e disse-me: o Mestre de
Cerimônias deve prever tudo e encarregar-se de tudo; tem o dever de aplainar a
estrada para o Papa.
Ele
acrescentou algo?
Sim.
Afirmou que a o ânimo de um Mestre de Cerimônias não deve se perturbar nunca
por nada, grande ou pequeno, que seja problema pessoal. Um Mestre de
Cerimônias, reforçou, deve ser sempre senhor de si mesmo e tornar-se escudo do
Papa, pois a Santa Missa deve ser celebrada dignamente, para a Glória de Deus e
do seu povo.
Como
o Santo Padre recebeu a reforma litúrgica querida pelo Vaticano II?
De
bom grado.
Diz-se
que Paulo VI era um homem bastante triste, é verdade ou é uma lenda?
Uma
mentira. Ele era um pai bom e gentil. Ao mesmo tempo, ficou muito triste pelo
fato da Cúria Romana tê-lo deixado sozinho. Mas prefiro não falar sobre isso.
De
modo geral, contradizendo os historiadores, o Senhor, que era um dos seus mais
próximos e fiéis colaboradores, descreve o Papa Montini como uma pessoa serena.
Ele
era. E sabe porquê? Porque afirmava sempre que aquele que serve o Senhor não
pode nunca ser triste. E ele o servia especialmente no sacrifício da Santa
Missa. Continua inesquecível a denúncia de Paulo VI sobre a fumaça de Satanás
na Igreja. Ainda hoje, aquele discurso parece de uma atualidade incrível.
Mas,
com exatidão, o que queria dizer o Papa?
Vocês
da “Petrus” fizeram uma boa pergunta aqui, pois estou em condições de revelar,
pela primeira vez, o que Paulo VI desejava denunciar com aquela afirmação. Aqui
está: o Papa Montini, por Satanás, queria indicar todos aqueles padres ou
bispos e cardeais que não rendem culto ao Senhor, celebrando mal a Santa Missa
por causa de uma errônea interpretação e aplicação do Concílio Vaticano II. Ele
falou da fumaça de Satanás porque sustentava que aqueles prelados que faziam da
Santa Missa uma palha seca em nome da criatividade, na verdade estavam
possuídos da vanglória e do orgulho do Maligno. Portanto, o fumo de
Satanás não era outra coisa além da mentalidade que queria distorcer os cânones
tradicionais e litúrgicos da cerimônia Eucarística.
E
pensar que Paulo VI é citado quase como a causa de todos os males da liturgia
pós-conciliar. Mas, de acordo com o que revelastes, Eminência, Montini comparou
o caos litúrgico, mesmo que de maneira velada, a algo de infernal.
Ele
condenou a ânsia de protagonismo e o delírio de onipotência que se seguiu ao
Concílio, a nível litúrgico. Repetia muitas vezes que a Missa é uma cerimônia
sacra, tudo deve ser preparado e estudado adequadamente respeitando os cânones,
ninguém é “Dominus” (Senhor) da Missa. Infelizmente, e muito, depois do
Vaticano II não o entenderam, e Paulo VI sofreu isso, creditando o fenômeno a
um ataque do demônio.
Sua
Eminência, concluindo, o que é a verdadeira liturgia?
É
render glória a Deus. A liturgia deve ser sempre, e não importa em que
situações, conduzida com decoro: mesmo um sinal da Cruz mal feito é sinônimo de
desprezo e pobreza. Além do mais, eu repito, acreditou-se, depois do Vaticano
II, que tudo, ou quase tudo, era permitido. Agora é preciso recuperar, e
depressa, o senso do sagrado na “ars celebrandi”, antes que a fumaça de Satanás
invada completamente toda a Igreja. Graças a Deus, temos o Papa Bento XVI: sua
Missa e seu estilo litúrgico são um exemplo de correção e dignidade.
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Por Bruno Volpe
Tradução: Daniel
Pinheiro
Fonte: Agência
Petru
Disponível: Cleofas
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