Padre Miguel Lucas da Costa é de Itapebussu, no Ceará, e há mais de três anos está em missão na cidade de Boca do Acre – Amazonas, pertencente à Diocese do Rio Branco, no Acre. O sacerdote rejeitou receber o título de cidadão Bocacrense que seria conferido pela Câmara Municipal daquela cidade a pedido do vereador José Silva Noronha (PSD), a quem o padre endereçou uma carta explicitando os motivos da não aceitação da honraria.
“Como receber um título de cidadão, se os cidadãos naturais, não têm seus direitos respeitados? Como me sentir cidadão, se os próprios cidadãos de Boca do Acre, principalmente os mais pobres levam uma vida miserável?”, questiona o sacerdote em favor do seu povo.
Padre Miguel continua a carta apresentando mais motivos para a rejeição ao título. “Agora se é para ser cidadão como os cidadãos da Boca do Acre vivem, mendigando cesta básica, uma passagem para ir ao médico em Rio Branco, ajuda para uma cirurgia, dinheiro para comprar um remédio, ou serviço para ganhar um trocado , NÃO ACEITO".
Falta de hospital digno, saúde precária, ruas esburacadas, esgoto a céu aberto, água sem tratamento e localidades sem fornecimento de água para consumo diário foram algumas das mazelas denunciadas pelo padre, que pertence à Arquidiocese de Fortaleza.
O pedido do sacerdote que ao invés de um projeto pedindo que o honrassem, fossem aprovados “projetos que venham a favorecer a vida do povo, principalmente os mais pobres, que são humilhados sem o necessário para sobreviver”. O padre finaliza a carta agradecendo ao vereador pela intenção e compreensão.
Leia a resposta do padre enviada ao vereador José Silva de Noronha
Como posso receber um título de cidadão, se os cidadãos naturais, não têm os seus direitos respeitados? Como se sentir um cidadão, se os cidadãos próprios de Boca do Acre, principalmente os mais pobres levam uma vida de miseráveis?
Se vou me tornar um cidadão, gostaria de viver como cidadão, com os direitos básicos garantidos: saúde, emprego, educação, saneamento básico.
Agora se é para ser cidadão como os cidadãos de Boca do Acre vivem, mendigando cesta básica, uma passagem para ir ao médico em Rio Branco, uma ajuda para uma cirurgia, um dinheiro para comprar um remédio, um serviço para ganhar um trocado, NÃO ACEITO.
Como posso abrir a boca e bater no peito e dizer orgulhosamente que sou Cidadão Bocacrense, quando vejo o povo padecer por não ter um hospital digno, onde a saúde é péssima, ruas esburacadas e tomadas pela lama, esgoto a céu aberto, água sem tratamento, e o pior, localidade que devido à distância, nem água tem para o consumo diário. Viver dessa forma é ser cidadão? Se é, NÃO ACEITO SER.
Gostaria sim, que em vez e aprovarem o Título de Cidadão para mim, aprovassem PROJETOS que venham a favorecer a vida do povo, principalmente dos mais pobres, que são humilhados sem o necessário para a sua sobrevivência.
O povo quando elege um vereador, tem a esperança de que as coisas vão mudar. Acredita que não está sozinho na luta por dias melhores, pois o vereador iria representa-lo e reivindicar os seus direitos.
Isso na grande maioria, se torna uma frustração para o povo, pois os seus representantes representam-se a si mesmos.
Um dia, quem sabe, poderei receber esse tão nobre Título Cidadão Bocacrense, se de fato eu puder, assim como os demais cidadãos desta terra querida, desfrutar de uma vida digna, com todos os direitos garantidos, próprios a todo ser humano.
Isso é ser Cidadão. Se o povo de Boca do Acre vive como esse ser cidadão, seria uma imensa alegria para mim também ser cidadão bocacrense.
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Ancoradouro/ O Povo
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