Natal
é um acontecimento festivo, alegre, com troca de presentes e muitas luzes. Tudo
isto para ressaltar o anúncio do anjo: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma
grande alegria, que será também a de todo o povo: hoje, na cidade de Davi,
nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor!” (Lucas 2,10-11). Todas as
manifestações externas, por mais grandiosas e belas que sejam, ainda são
insuficientes para celebrar o mistério do Natal, isto é, Deus veio habitar
entre nós e o sinal é “um recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa
manjedoura” (Lc 2,12).
Outra
atitude fundamental para celebrar o Natal é o silêncio. Os textos bíblicos não
falam de silêncio, mas fazem silêncio. A sobriedade e a brevidade dos relatos
bíblicos impressionam. São breves dados e quase nada de falas, tudo reduzido a
uma extrema simplicidade. Como dizemos com frequência: “não tem palavras para
explicar”.
Pode-se
caracterizar duas espécies fundamentais de silêncio: um que podemos chamar de
ascético ou natural e o outro podemos chamar de sobrenatural. O silêncio
ascético ou natural é realizado de muitas formas. Uma forma é a que busca o
silêncio exterior em lugares e ambientes com menos ruídos, menos pessoas.
Lugares privilegiados são aqueles que proporcionam o contato com a natureza. Também
há o silêncio ascético interior que busca serenar o coração, a mente e o corpo.
A espiritualidade da quietação do coração busca diminuir a influência da razão
para dar lugar à oração. Encontramos esta busca em muitas religiões. O homem se
impõe conscientemente o silêncio.
Vivemos
imersos, as vinte quatro horas do dia, em barulhos e numa vida desenfreada. O
período que antecede o Natal, também por coincidir com o final do ano, acelera
ainda mais o ritmo. Toda esta agitação pode desviar o foco e impedir de viver o
essencial. Desafiador é tomar a atitude de fazer silêncio. Romper com a lógica
e a onda da maioria e aquietar-se. Fazer silêncio para provocar um encontro com
Deus e com as pessoas.
A
outra modalidade de silêncio é que podemos chamar de sobrenatural. Ela é
provocada pelo contato com Deus. Um silêncio originado da manifestação ou da
teofania de Deus. Aqui a iniciativa é de Deus e não do homem. O primeiro
silêncio é do homem que quer conquistar Deus; o segundo é do homem que foi
conquistado por Deus. A presença Dele faz calar o homem. Um silêncio marcado
pelo assombro, adoração, alegria, e às vezes, até de temor.
No
Natal fazemos silêncio sobrenatural diante misteriosa maneira escolhida por
Deus para chegar a nós rompendo toda lógica humana. A grandeza de Deus é
manifestada na fragilidade de uma criança, num presépio, num lugar singelo.
Deus se revela sob o seu contrário. Escondendo a grandeza na pequenez, a força
na fraqueza, a majestade na humildade. O homem moderno se lamenta com
frequência do silêncio de Deus, mas não se dá conta de que Deus cala exatamente
por que ele fala, porque não é suficientemente humilde para escutá-lo. Deus
fala ao homem também com o seu silêncio; com isso o reconduz à verdade.
Acolhamos
este grito que se eleva do Natal: Deus se despojou da sua tremenda majestade;
não apavora mais, não quer apavorar; agora é Emanuel – Deus-conosco. Cale-se
toda a terra, ajoelhe-se e O adore.
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo
Nenhum comentário:
Postar um comentário