Há uma razão pela qual o Carnaval, a festa que já foi um dos símbolos da identidade nacional, está em franca decadência |
O carnaval ou carne vale (adeus à carne em
latim) surgiu de uma mistura de ritos pagãos. Alguns sacrificiais, como aquele
onde o rei era despojado de seus emblemas e surrado na frente da estátua do
deus Marduk. Outros eram apenas celebrações como as Saturnálias e Lupercálias
ou mesmo os bacanais, oferecidos ao deus greco-romano do vinho, Baco (também
chamado de Dionísio).
Todas essas celebrações
tinham em comum a subversão da ordem estabelecida. Aí encontramos a primeira
pista para sua decadência: quando a ordem já não está estabelecida, perde-se o
sentido de subvertê-la e a festa se transforma simplesmente em uma farra
hedonista e sem sentido.
Flávio Gordon, escritor,
explica isso de forma magistral em seu artigo “O Carnaval Perpétuo” publicado pela Gazeta do Povo.
Outro fato que demonstra
a decadência do carnaval é que, além da subversão da ordem, outro motivo para a
celebração era o tempo de recolhimento e privação que os cristãos fazem na
quaresma. Nesse sentido o carnaval servia como uma despedida dos prazeres
terrenos para que entrássemos em um momento mais reflexivo e espiritual. Retire
isso da receita e o que teremos mais uma vez? Uma farra hedonista e sem
sentido.
Quer queiram os
materialistas, quer não, o espírito humano não vive apenas da busca do prazer.
O vazio existencial aflora quando o sentido da vida se perde, por isso essa
“alegria” que observamos nos blocos e desfiles de hoje nos parece tão falsa. E
é. Enquanto confundirmos busca da felicidade com busca de prazer, não teremos
nem um nem outro. Se o carnaval tem um sentido é o de que o resto do ano não
seja carnaval.
Quando se tira o
contexto sacrificial do carnaval, ele vira apenas mais uma balada de fim de
semana, um baile funk de dimensões nacionais.
E que não serve pra
nada.
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Senso
Incomum
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