quinta-feira, 26 de março de 2020

Coronavírus, mistério ou castigo? Bispo responde.



O Bispo Emérito da Prelazia do Marajó (PA), Dom José Luis Azcona Hermoso, levantou em um recente artigo a seguinte questão diante da pandemia da COVID-19: “coronavírus, mistério ou castigo?”.

No texto enviado a ACI Digital, o Prelado observa que, “de súbito, inesperado, a humanidade acorda à sombra da morte fugidia e enigmática: o coronavírus. Tem-se a impressão de que séculos de certezas se concentram num segundo para perguntar: ‘O que é a morte? O que é esta morte? A morte do coronavírus?’”.

“O rosto da resposta tem um nome: enigma. Mas esta morte no nosso tempo e espaço, nas suas circunstâncias é interrogante que ultrapassa amplamente o conceito e a realidade da morte”, assinala.

Segundo ele, o atual contexto levanta questionamentos que todo homem “precisa responder”: “Qual o sentido da morte e do mal? Depois de tantos e profundos progressos da humanidade, por que o megavírus? O que é o homem? E depois da morte? O nada? E se algo existe, o que? Quem?”.

Dom Azcona indica que, diante do coronavírus, o homem se pergunta “sobre a origem, características, prevenção, transmissão, terapias, sequelas” e, nestes dias a consciência humana é impregnada por discursos “sobre estabilidade econôminica mundial, assistência médica, luta pela sobrevivência biológica”, isso juntamente com “a apreensão, o medo, angústia, o ceticismo e o desespero”.

Entretanto, “pouco ou nada sobre a morte em si mesma, sua identidade, seu sentido, o seu ‘depois’”, pontua.

“Diante da morte, diante desta morte tão estranha do coronavírus que sem chamar penetra em nossa intimidade familiar, se autoconvida à mesa, partilha conosco o pão e a água e de súbito se levanta arrastando consigo de modo implacável o nosso filho, o papai querido da terceira idade..., se impõem necessariamente considerações como estas”, sublinha o Bispo. 

De acordo com Dom Azcona, “pela sua condição de criatura, o homem experimenta múltiplos limites e, confinado nos seus próprios grilhões e correntes, se encontra submisso de modo objetivo a si mesmo, escravo portanto aos seus próprios poderes: prazer, ter, dominação. No entanto, ilimitado nos seus desejos se sente chamado a uma vida superior”.

Nesse sentido, observa que o próprio homem “se identifica e se configura com seu ‘novo’ coronavírus”, pois, “o homem mesmo é em si, para si e para os outros a sua própria bactéria, ele mesmo se identifica com seu próprio vírus, o megavírus de sua insubordinação a Deus e da sua irreverência”.

“Não causa espanto hoje que a humanidade reaja com respostas tão deprimentes como o faz diante do império universal da morte através do coronavírus?”, questiona o Prelado.

Por outro lado, assinala, “o máximo enigma da vida humana é precisamente a morte” e “o mistério do pecado, o mistério da iniquidade”.

Dom Azcona explica que “o supremo tormento do homem é o temor diante da desaparição definitiva. Com instinto certeiro ele resiste a aceitar a perspectiva da ruína total e do adeus definitivo”.

“A semente de eternidade que todo homem leva em si mesmo é irredutível à matéria, erguendo-se invencível contra a morte. Assim, todos os esforços da técnica moderna, até os mais úteis são incapazes de acalmar esta ansiedade, esta fome e sede de eternidade. Por isso, toda imaginação fracassa diante da morte. Eis o pânico, o horror diante do vírus”, afirma.

O Prelado observa ainda que, “bilhões de pessoas hoje no mundo, mortalmente feridas pelo vírus do materialismo prático, dentro e fora da Igreja, pelo imanentismo e secularismo sistemáticos, pelo medo a pensar fundo, resistem, não querem saber nada da percepção clara deste dramático estado diante do abismo de si mesmos, da humanidade, da morte e do além. Este é o ‘novo’ coronavírus, o megavírus, o todo-poderoso, o onipotente vírus”.

Na realidade, assinala, “o mistério da morte se confunde com o grande mistério do homem e com o qual a Igreja ilumina todos os homens. Por Cristo e em Cristo, portanto, se revela o enigma da dor, do coronavírus e da morte que fora do evangelho nos envolve em uma absoluta escuridão”.

“Jesus Ressuscitou! Com sua morte eliminou a morte e nos deu a vida e a alegria! Assim também diante do megavírus, como verdadeiros filhos (as) no Filho de Deus, clamamos derrotando assim a morte: ‘Pai, Pai nosso!’”, diz.

Assim, ressalta que “ninguém, nada poderá arrancar-nos a soberana certeza de que o mistério do homem, da sua morte e destino último, do seu ‘megavírus’ unicamente se esclarece no mistério de Jesus Cristo Filho de Deus feito homem”.

“E é precisamente na morte do Calvário onde Cristo manifesta o Pai e o seu amor ao mundo comunicando-lhe este Amor no megavírus horroroso da Cruz”, indica o Prelado, acrescentado que, “somente pelo desígnio salvador de Deus, esta Cruz transmite a vida de maneira que ‘todo aquele que nele (Filho do Homem) crer, tenha a vida eterna’”.

Por fim, Dom José Azcona assinala que, “em verdade, o único que pode preencher o coração do homem hoje diante do megavírus e para sempre é aquilo que Agostinho proclamou: ‘Senhor nos fizestes para Ti e nosso coração estará inquieto até que descanse em Ti’!”.
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ACI Digital

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