quinta-feira, 2 de abril de 2020

Uma Semana Santa vivenciada nas casas, nos hospitais, e na defesa da vida



Certamente, este ano, as solenidades litúrgicas não terão o brilho e a piedade popular que animavam o coração do Ano Litúrgico. Mas, a mudança de cenário ou das limitações a movimentos ou aglomerações, não prejudicará a vivência do grandioso mistério Pascal, que envolve toda pessoa, criatura e o cosmos inteiro.

Voltaremos às tradições familiares, à liturgia da memória do êxodo que guardava memória viva e atual da libertação do Egito. Hoje, os cristãos, em seus lares, ou participando do heróico mutirão sanitário-médico-solidário, estarão testemunhando, com gestos e ações, a passagem da morte para a vida, das trevas para a luz, do ódio para o amor sem limites de um Deus que assume nossa carne, nossas dores e doenças, e nos soergue com Ele para uma Nova criação.

Sim, porque a luta pelo Reino de misericórdia, de perdão, justiça e de graça, e por isso mesmo da redenção humana, passa pela libertação dos laços da cultura da morte, da exclusão e do descarte das pessoas que não importam ao sistema e que devem ser sacrificadas pelo lucro e o dinheiro. 

O drama da paixão e da Cruz se renovará nos leitos hospitalares, ou nos que não conseguem chegar lá, na entrega e doação de médicos, enfermeiros, voluntários trabalhadores da segurança e da alimentação que sustentam o isolamento sanitário em cuidado da vida. Tudo isto, como a semente do grão de trigo unido a Cristo Redentor, ressuscitará, vencerá.

A esperança do Domingo da Páscoa raiará nos rostos, nos corações, nos lares, e nas Igrejas que, com a certeza da fé renovada, cantarão novamente o Aleluia, o grito da vida e do amor que vence a morte e a tirania do poder, a alegria transbordante dos filhos da luz, que deixam para trás as sombras e os grilhões de ganância, corrupção, indiferença e violência contra a vida e a Casa Comum. Por uma Semana Santa que seja um verdadeiro encontro com Cristo, o Filho de Deus que veio para resgatar a humanidade e a toda Criação, do egoísmo, da opressão, e de tudo que destrói e desfigura a nossa vocação a uma vida plena e abundante. Deus seja louvado!


Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)

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