Certamente, este ano, as solenidades
litúrgicas não terão o brilho e a piedade popular que animavam o coração do Ano
Litúrgico. Mas, a mudança de cenário ou das limitações a movimentos ou
aglomerações, não prejudicará a vivência do grandioso mistério Pascal, que
envolve toda pessoa, criatura e o cosmos inteiro.
Voltaremos às tradições familiares, à liturgia
da memória do êxodo que guardava memória viva e atual da libertação do Egito.
Hoje, os cristãos, em seus lares, ou participando do heróico mutirão
sanitário-médico-solidário, estarão testemunhando, com gestos e ações, a
passagem da morte para a vida, das trevas para a luz, do ódio para o amor sem
limites de um Deus que assume nossa carne, nossas dores e doenças, e nos
soergue com Ele para uma Nova criação.
Sim, porque a luta pelo Reino de misericórdia,
de perdão, justiça e de graça, e por isso mesmo da redenção humana, passa pela
libertação dos laços da cultura da morte, da exclusão e do descarte das pessoas
que não importam ao sistema e que devem ser sacrificadas pelo lucro e o
dinheiro.
O drama da paixão e da Cruz se renovará nos
leitos hospitalares, ou nos que não conseguem chegar lá, na entrega e doação de
médicos, enfermeiros, voluntários trabalhadores da segurança e da alimentação
que sustentam o isolamento sanitário em cuidado da vida. Tudo isto, como a
semente do grão de trigo unido a Cristo Redentor, ressuscitará, vencerá.
A esperança do Domingo da Páscoa raiará nos
rostos, nos corações, nos lares, e nas Igrejas que, com a certeza da fé
renovada, cantarão novamente o Aleluia, o grito da vida e do amor que vence a
morte e a tirania do poder, a alegria transbordante dos filhos da luz, que
deixam para trás as sombras e os grilhões de ganância, corrupção, indiferença e
violência contra a vida e a Casa Comum. Por uma Semana Santa que seja um
verdadeiro encontro com Cristo, o Filho de Deus que veio para resgatar a
humanidade e a toda Criação, do egoísmo, da opressão, e de tudo que destrói e
desfigura a nossa vocação a uma vida plena e abundante. Deus seja louvado!
Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)
Nenhum comentário:
Postar um comentário