Durante toda a sua vida, Padre Cícero Romão Batista
atraía milhares de romeiros ao Juazeiro do Ceará, buscando seus conselhos e as
bênçãos de Deus, por suas mãos. Padim Ciço conquistou o coração do povo pobre,
sem trabalho, apenado com as secas. A figura do santo nordestino permanece no
imaginário religioso popular, até hoje. Após a sua morte, em 1934, lá se vão
mais de 70 anos de ininterrupta peregrinação de fiéis acorrendo aos lugares
onde Padim Ciço viveu.
Além da vitalidade espiritual, Padim Ciço
conquistou o desenvolvimento regional do Cariri cearense. Configurado como
santo e sábio, ele possuía um forte carisma político, desempenhando funções
administrativas voltadas à inclusão socioeconômica da população empobrecida.
Milhares de famílias arrancadas da fome e miséria seguiam as suas práticas de
convivência com o semiárido nordestino. A prosperidade do povo mexeu na posição
dos poderosos, incluindo as esferas da política e da hierarquia da Igreja.
Padim Ciço co-dividia sua santidade com a
extraordinária articulação de forças políticas, conquistando a confiança do
povo pobre. Homem de visão e prática administrativa, os seus conselhos
concretizavam-se. Seus talentos movimentavam as políticas públicas,
indispensáveis para a época. Sua fama popular consagrou-o como santo em vida.
Exemplo. O Padim “bolou” a indústria caseira de lamparinas, aproveitando
latinhas nutridas com óleo de mamona, alumiando a vida de muita gente. Ninguém
morria de fome com serviços alternativos ocupando mão-de-obra do povo para
escapar da seca, já que dos céus não caía chuva para a plantação.
Recentemente a Santa Sé reconheceu o Padim Ciço “em
sua complexa história humana, não privada de fraquezas e de erros. Sem dúvida
alguma, ele foi movido por um intenso amor pelos mais pobres e por uma
inquebrantável confiança em Deus. Ele teve, porém, que viver em um contexto
histórico e social pouco favorável, empregando todas as suas forças e
procurando agir segundo os ditames da sua consciência, em momentos e
circunstâncias bastante difíceis. Se nem sempre soube encontrar as justas
decisões a tomar ou se adequar às diretrizes que lhe foram dirigidas pela
legítima autoridade, ele foi movido por um desejo sincero de estender o Reino
de Deus” (trecho da Carta do Cardeal Parolin, a pedido do Papa Francisco). Deus
escreve certo por linhas certas e se serve de instrumentos imperfeitos para
realizar a sua obra. Quem vê linha torta ilude-se.
Dom Aldo
Pagotto
Arcebispo da
Paraíba
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