Esta
é, com certeza, uma das mais belas e populares invocações da Ladainha de Nossa
Senhora. A densidade simbólica dessa invocação não cabe em poucas linhas.
Sabemos da importância que tinha a Arca da Aliança no Antigo Testamento. Dentro
dela, estavam as Tábuas da Lei, recebidas por Moisés no Monte Sinai como sinal
da Aliança entre Deus e Seu povo. Essa Arca era a expressão visível de que Javé
estava no meio do povo. Não era um Deus distante e solitário, mas próximo e
solidário. Durante o tempo em que durou a travessia do deserto, o povo
caminhava com o estandarte da presença do Senhor.
Para
a Arca havia uma tenda especial. Ali aconteciam as reuniões dos líderes; nessa
tenda se tomavam as grandes decisões. Era também um lugar de encontro com o
Altíssimo. Quando o povo de Deus atravessou o rio Jordão, sob o comando de
Josué, a Arca ia à frente, carregada por sacerdotes. O rei Davi construiu um
espaço sagrado especial para ela [Arca]. A Bíblia conta com ricos detalhes a
festa que foi feita para levar a Arca em procissão para o seu lugar de destaque
(cf. 1Cr 15). Houve, naquele dia, muita música e dança para celebrar a memória
da presença de Deus no meio do Seu povo. O grande Templo de Jerusalém,
construído por Salomão, foi para conter a Arca da Aliança.
Arca da Aliança
No Novo Testamento, a Arca da
Aliança aparece no testemunho final de Estêvão, o primeiro mártir cristão. Ele
faz uma significativa memória crítica: “”A Arca da Aliança esteve com os nossos
pais no deserto, como Deus ordenou a Moisés que a fizesse conforme o modelo que
tinha visto. Recebendo-a nossos pais, levaram-na sob a direção de Josué às
terras dos pagãos, que Deus expulsou da presença de nossos pais. E ali ficou
até o tempo de Davi. Este encontrou graça diante de Deus e pediu que pudesse
achar uma morada para o Deus de Jacó. Salomão foi quem lhe edificou a casa. O
Altíssimo, porém, não habita em casas construídas por mãos humanas. Como diz o
profeta: ‘’O céu é o meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés. Que casa me
edificareis vós?, diz o Senhor. Qual é o lugar do meu repouso? Acaso não foi
minha mão que fez tudo isto’ (Is 66,1s.)?’ Homens de dura cerviz, e de corações
e ouvidos incircuncisos! Vós sempre resistis ao Espírito Santo. Como procederam
os vossos pais, assim procedeis vós também!””(At 7,44-51).
Portanto, já para os primeiros
cristãos, as Tábuas de Pedra eram insuficientes, pois eles haviam conhecido, em
Jesus, uma Nova Aliança de amor, feita de um coração manso e humilde. A
verdadeira Arca da Aliança não estava mais no Templo de Jerusalém, pois todo
batizado se tornara um templo onde habita Deus. Maria foi a primeira cristã; a
primeira Arca da Aliança de carne! Mas todos nós, de certa forma, seguimos na
mesma direção. Somos contemplados” com essa graça, ou seja, o Espírito Santo
nos transforma em templos vivos”. Somos o corpo de Cristo, a Igreja. Somos
pedras vivas dessa edificação.
Elogiar Maria como Arca da
Aliança” evoca toda esta longa tradição bíblica. Mas é também algo muito atual.
O Verbo se fez carne e armou entre nós a Sua tenda”, como afirma João no
prólogo do seu Evangelho.
Assim como no deserto havia a tenda
da reunião”, que caminhava com a itinerância do povo, também hoje, por onde vão
os passos de um batizado caminha a Arca Santa de Deus. Levamos esta marca em
nosso coração. Somos missionários.
Ficamos maravilhados quando o
Santíssimo Sacramento passa em procissão no meio do povo. É bonito mesmo! Mas
cada um de nós é muito mais do que aquele Ostensório que abriga a Hóstia
Consagrada. Somos Hóstias Vivas, consagradas em corpo e sangue de Jesus. Somos
povo santo! Tudo isso pode vir à nossa memória e ao nosso coração quando
rezamos: Arca da Aliança, rogai por nós!
Padre Joãozinho, SCJ
Padre da Congregação
do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos), doutor em Teologia, diretor da
Faculdade Dehoniana em Taubaté (SP), músíco e autor de vários livros.
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Canção Nova
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