Acusação protestante
Maria pecou, porque Romanos 3:23 diz:
“Todos pecaram e carecem da glória de Deus.” A primeira carta
de João 1:8 acrescenta: “Se alguém diz que não tem pecado é
mentiroso e a verdade não está nele”. Estes textos não poderiam ser mais claros
para milhões de protestantes, será que os Católicos não percebem isso? Como
alguém poderia acreditar que Maria estava livre de todo pecado à luz dessas
passagens da Escritura, ainda mais quando a própria Maria disse: “A minha alma
se alegra em Deus, meu Salvador em Lucas 1:47. Maria compreendia claramente
ser uma pecadora e admite precisar de um salvador!!
A resposta católica
Muitos protestantes ficariam surpresos
ao descobrirem que a Igreja Católica, na verdade, afirma que Maria foi
“salva”. De fato, Maria precisava de um salvador como qualquer outro mortal! No
entanto, Maria foi “salva” do pecado de uma forma mais sublime. A ela foi
dada a graça de ser “salva” completamente do pecado, para que nunca cometesse a
menor transgressão. Os evangélicos tendem a enfatizar a “salvação” quase
que exclusivamente como o perdão dos pecados já cometidos. No
entanto, a Sagrada Escritura indica que a salvação também pode se referir ao
homem no sentido de protegê-lo do pecado antes do fato:
Ora, àquele que é poderoso para vos
guardar de tropeçar e apresentar-vos irrepreensíveis diante da presença de sua
glória, com alegria, ao único Deus, nosso Salvador, por Jesus Cristo nosso
Senhor, glória, majestade, domínio e poder, antes de todos os tempos e agora e
para sempre. (Judas 24-25)
Seiscentos anos atrás, o grande teólogo
franciscano Duns Scotus explicou que a queda em pecado poderia ser
comparada a um homem se aproximando inadvertidamente à uma vala profunda.
Se ele cai na vala, ele precisa de alguém para baixar uma corda e salvá-lo. Mas
se alguém avisá-lo do perigo à frente, impedindo-o de cair na vala, ele
seria salvo antes de cair. Da mesma forma, Maria foi salva do pecado ao receber
a graça de não pecar e assim ser preservada. Mas ainda assim, foi salva.
Todos pecaram, exceto...
Mas o que dizer das passagens “todos
pecaram ” ( Rom. 3:23 ), e “se alguém diz que não tem pecado é mentiroso e a
verdade não está nele ” (1 João 1:8 ) ? Não seria “todo” e “qualquer homem”
incluindo Maria? Em princípio, isso soa razoável e parece lógico. Mas esta
maneira de pensar, levada à sua conclusão lógica, significaria incluir TODOS,
inclusive um recém-nascido inocente, como parte desse “todos”. Nenhum cristão
fiel ousaria dizer isso. No entanto, nenhum cristão pode negar a clareza dos
textos da Escritura afirmando a plena humanidade de Cristo. Assim, tomar 1 João
1:8 em um sentido estrito, literal, seria aplicar “qualquer homem” também a
Jesus, porque o texto diz TODOS, não diz: TODOS, exceto Jesus.
A verdade é que Jesus Cristo foi uma
exceção a Romanos 3,23 e 1 João 1,8. E a Bíblia nos diz isso em Hebreus 4,15 –
“Cristo foi tentado em todos os pontos como nós somos e ainda assim ele estava
sem pecado”. A questão agora é: Existem outras exceções a esta regra? Sim,
provavelmente muitas delas.
Tanto Romanos 3,23 e 1 João 1,8 lidam
com pecado pessoal ao invés de pecado original. (Romanos 5 trata de pecado
original). E há duas exceções a essa norma bíblica em geral. Mas, por agora,
vamos simplesmente lidar com Romanos 3,23 e 1 João 1,8. Primeiro a Carta de
João 1,8, obviamente, refere-se ao pecado pessoal porque, no próximo verso,
João nos diz: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos
perdoar os pecados … “Nós não confessamos o pecado original; confessamos os
pecados pessoais.
O contexto de Romanos 3,23 deixa também
deixa claro que ele se refere a pecado pessoal:
Não há justo, nem sequer um, ninguém
que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se
fizeram de errado, ninguém faz o bem, nem um sequer. As suas gargantas são um
sepulcro aberto. Eles usam suas línguas para enganar. O veneno está nos seus
lábios. Suas bocas estão cheias de maldição e amargura. (Romanos 3,10-14)
O pecado original não é algo que
fazemos, é algo que herdamos. Romanos capítulo 3 lida com o pecado pessoal,
porque fala de pecados cometidos pelo pecador. Com isso em mente, considere o
seguinte: Um bebê no útero ou uma criança de dois anos já cometeu um pecado
pessoal? Não. Porque para pecar a pessoa tem que saber que o ato que ele
está prestes a realizar é pecaminoso e, ao mesmo tempo, livremente engajar
a sua vontade em realizá-lo. Portanto, sem as faculdades adequadas que
lhes permitam o pecado, as crianças antes de alcançarem a idade da
responsabilidade e da razão, bem como quem não tem o uso de seu intelecto, não
podem pecar. Assim, existem e existiram milhões de exceções a Romanos 3,23 e 1
João 1,8!!!
Mas então podemos com isso concluir que
a Bíblia mentiu ou errou? Claro que não, o mais provável é que a interpretação
protestante, essa sim esteja em erro!! Para negar isso o protestante deve
necessariamente afirmar que um bebezinho recém-nascido está incluído na palavra
TODOS pecaram!
Mesmo assim, como sabemos que Maria é
uma exceção à norma do “todos pecaram”? E mais importante, há apoio bíblico
para essa afirmação? Sim, há muito apoio bíblico!
O nome já diz tudo
E [o anjo Gabriel] veio à [ Maria ] e
disse: “Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo ! ” Mas ela ficou perturbada
com essas palavras e considerava em sua mente que tipo de saudação seria essa.
O anjo disse-lhe: “Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus.” (Lucas
1:28-30)
Muitos protestantes insistirão que este
texto não passa de uma saudação comum do Arcanjo Gabriel a Maria.” O que isso
tem a ver com Maria não ter pecado? É que, de acordo com a própria Maria,
esta não era uma saudação comum. O texto revela que Maria ficou “muito
perturbada com o dito e considerou em sua mente que tipo de saudação seria essa”
(Lucas 1:29 , ênfase adicionada) . O que havia nesta saudação que era tão
incomum para Maria reagir desta maneira? Podemos considerar pelo menos dois
aspectos chaves:
Primeiro, de acordo com os estudiosos
bíblicos (bem como o Papa João Paulo II), o anjo fez mais do que simplesmente
cumprimentar Maria. O anjo realmente comunicou um novo nome ou título a ela. (
cf. Redemptoris Mater, 8, 9). Em grego, a saudação foi Kaire, kekaritomene, ou
seja, “Ave, cheia de graça”. Geralmente, quando alguém é saudado com Kaire
(Salve), um nome ou título é adicionado no contexto imediato. “Salve, rei
dos judeus” em João 19,03 e “Claudias Lysias, a Sua Excelência o governador
Felix, Salve” (Atos 23,26 ) são dois exemplos bíblicos deste fato. O fato de
que o anjo substitui o nome de Maria na saudação por “Kekaritomene” ou “cheia
de graça” não foi nada comum. Isso seria análogo a alguém, por exemplo, ao
falar a um técnico em computação dizer: “Olá, Aquele Que Conserta
Computadores.” Na cultura hebraica, nomes e mudanças de nome nos dizem algo
permanente sobre o caráter e a vocação e do chamado daquele indivíduo.
Apenas para ilustrar a importância
deste ponto, vamos recordar as mudanças de nome de Abrão para Abraão (de “pai”
para ”pai das multidões”) em Gênesis 17,05, de Saray para Sara (“minha
princesa” para “princesa”) em Gênesis 17,15, e de Jacó para Israel
(“suplantador” para “ele que prevalece com Deus”) em Gênesis 32,28. O nome na
era bíblica, principalmente na cultura hebraica, era algo seríssimo, escolhido
com critério e grande seriedade. Portanto, não se deixe levar pela frivolidade
dos nossos tempos ao olhar para os nomes usados na Bíblia, isso é um grande erro
cometido por amadores ao estudarem as escrituras.
Em cada caso, os nomes revelam algo
permanente sobre o nomeado. Abraão e Sara são a transição de ser um “pai” e
“princesa” de uma família para serem “pai” e “princesa” ou ”mãe” de todo o povo
de Deus (cf. Rom 4:1-18). Eles se tornam patriarca e matriarca do povo de Deus
para sempre. Jacó para Israel se torna patriarca cujo nome, “ele que prevalece
com Deus”, continua para sempre na Igreja, que é chamada de “o Israel de Deus”
(Gl 6:16) . O povo de Deus sempre vai ”prevalecer com Deus” na figura do
patriarca Jacó. Pedro, antes Simão, recebeu um nome Cephas (Petrus = Pedro),
tornando-se a pedra, etc.
O que há em um nome ?
Segundo as
Escrituras, muito.
São Lucas usa o particípio passivo
perfeito, kekaritomene, como o seu “nome” para Maria. Esta palavra significa
literalmente “aquela que foi agraciada” em um sentido completo. Este
adjetivo verbal, “agraciada“, não está apenas descrevendo uma ação simples
passada. O Grego tem outra conjugação para esse sentido. O tempo perfeito é
usado para indicar que uma ação foi concluída no passado, resultando em um
estado atual de ser. “Cheia de graça” é o nome de Maria. Então, o que isso nos
diz sobre Maria? Bem, o cristão comum não é pleno em graça e em um sentido
permanente (ver Phil 3,8-12). Mas de acordo com o anjo, Maria é. Você e eu
pecamos, não por causa da graça, mas por causa de uma falta de graça, ou a
falta de nossa cooperação com a graça, em nossas vidas. Esta saudação do
anjo é uma indicação para o caráter e o chamado único da Mãe de Deus. Só à
Maria é dado o nome de “cheia de graça” e no tempo verbal perfeito, indicando
que este estado permanente de Maria foi concluído.
Arca da (Nova) Aliança
A Arca do Antigo Testamento da Aliança
era um verdadeiro ícone do sagrado. Porque continha a presença de Deus
simbolizada por três ‘tipos’ (ou tipologia) da vinda do Messias – o maná, os
Dez Mandamentos, o cajado de Aarão, que tinha que ser pura e intocada pelo
homem pecador (ver 2 Sam. 6,1-9 e Ex. 25,10 ss; Num 4,15).
No Novo Testamento, a nova Arca não é
um objeto inanimado, mas uma pessoa: a Mãe de Deus. Quão mais pura seria a nova
Arca, quando consideramos que a velha arca era uma mera “sombra ou
prefiguração” em relação à nova (ver Hb 10, 01 )? Esta imagem de Maria como a
Arca da Aliança é um indicador de que Maria seria oportunamente livre de todo
contágio do pecado para ser um vaso digno de levar Deus em seu ventre. E o mais
importante, assim como a Arca da Antiga Aliança foi preservada desde o momento
em que foi construída, com instruções divinas explícitas em Êxodo 25, do mesmo
modo Maria foi pura a partir do momento de sua concepção. Deus, em certo
sentido, preparou sua própria moradia, tanto no Antigo como no Novo Testamento.
A Arca da Aliança continha três “tipologias”
de Jesus dentro de si: o maná , o cajado de Arão, e os Dez Mandamentos. Em
hebraico, mandamento (dabar) pode ser traduzido como “palavra”. Compare:
Maria carregou a realização de todos esses tipos em seu corpo. Jesus é o
“verdadeiro [ maná ] que vem do céu ” (João 6,32), o verdadeiro “sumo
sacerdote” (Hb 3,1) , e ” a palavra que se fez carne ” (João 1:14) .
A nuvem de glória (hebraico Anan) foi
representativa do Espírito Santo, e ”ofuscou ” a Arca quando Moisés a consagrou
em Ex . 40, 32-33. A palavra grega para “ofuscar ou encobrir” encontrada na
Septuaginta é uma forma do termo episkiasei. Compare: “O Espírito Santo virá
sobre ti, e o poder do Altíssimo te encobrirá, por isso a criança que vai
nascer será chamado santo, Filho de Deus” (Lucas 1:35 ) . A palavra grega para
“ofuscar ou encobrir” é episkiasei. David “pulou e dançou” perante a Arca
quando estava sendo levada para Jerusalém em procissão em 2 Sam . 6,14-16.
Compare: Assim que Isabel ouviu o som de saudação de Maria, João Batista “pulou
de alegria” em seu ventre (cf. Lc 1,41-44 ) .
Após a manifestação do poder de Deus
trabalhando através da Arca, David exclama: “Como é que a Arca do Senhor, vem a
mim? ” Compare: Depois da revelação de Isabel sobre a verdadeira vocação
de Maria, que estava carregando Deus em seu ventre, Isabel exclama: “Por que me
é dado, que a mãe do meu Senhor venha me visitar? ” (Lucas 1:43)
A Arca do Senhor “permaneceu na casa de
Obede-Edom … por três meses “em 2 Samuel 6,11. Compare: “Maria permaneceu com
[ Isabel ] por cerca de três meses” ( Lucas 1:56 ) .
O Novo
É importante para nos lembrarmos que as
realizações da Nova Aliança são sempre mais gloriosas e mais perfeitas do que
as ‘tipologias’ do Antigo Testamento, que são ”apenas uma sombra das boas
coisas por vir” na Nova Aliança (Hb 10,1). Com isto em mente, vamos considerar
a revelação de Maria como a “Nova Eva“. Após a queda de Adão e Eva em Gênesis
3, Deus prometeu o advento de uma outra “mulher” em Gênesis 3:15 , ou uma “Nova
Eva” que iria se opor à Lúcifer, e cuja “semente” iria esmagar a cabeça dele. Esta
“mulher” e “a semente” iriam reverter a maldição, por assim dizer, que o
“homem” original e “mulher” trouxeram à humanidade através de sua
desobediência.
É mais importante aqui notar “Adão” e
“Eva ” são revelados simplesmente como “homem ” e “mulher” antes do nome da
mulher ser mudado para “Eva” (hebraico, “mãe dos viventes ”) depois da queda
(veja Gn 2,21 ss). Quando, em seguida, olhamos para a Nova Aliança, Jesus é
explicitamente chamado de “último Adão”, ou o “Novo Adão” em 1 Coríntios.
15,45. E o próprio Jesus indica que Maria é a profética “mulher” ou ” Nova Eva”
de Gênesis 3,15 , quando ele se refere à sua mãe como “mulher” em João 2,4 e
19,26. Além disso, São João refere-se à Maria como “mulher” oito vezes em
Apocalipse 12. Assim como a primeira Eva trouxe a morte a todos os seus filhos
através da desobediência ao ouvir as palavras da antiga serpente, o diabo, a
“Nova Eva” do Apocalipse 12 traz vida e salvação a todos os seus filhos através
de sua obediência. A mesma “serpente” que enganou a mulher original do Genesis
é revelada, em Apocalipse 12, ao falhar em sua tentativa de superar esta nova
mulher. A Nova Eva vence a serpente e, como resultado, “A serpente zanga-se com
a mulher, e faz guerra ao resto de sua descendência, aos que guardam os mandamentos
de Deus, e dão testemunho de Jesus” (Ap . 12:17).
Se Maria é a nova Eva e as realizações
do Novo Testamento são sempre mais gloriosas do que as que as antecedem no
Antigo Testamento, seria impensável que Maria fosse concebida em
pecado. Se não o fosse assim, ela seria inferior a Eva, a qual foi criada em um
estado perfeito, livre de todo pecado, mas pecou depois.
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Católicos Online / Ecclesia Militans
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