"Todos querem ser felizes mas nem todos desejam viver o único modo
como se pode ser feliz", diz Santo Agostinho, citado por Monsenhor João
Scognamiglio Clá Dias, EP (1) em sua muito ilustrativa obra "O inédito
sobre os Evangelhos", obra que deveria ser consultada frequentemente por
todo pregador.
Muitos, comenta o fundador dos Arautos do Evangelho, fazem da busca do
dinheiro o caminho para encontrar a felicidade. "Veem o equilíbrio
financeiro como sinônimo de prestígio, poder e influência na sociedade, bem
como garantia de um futuro despreocupado". Entretanto, estes, preocupados
pelo dinheiro, vivem intranquilos, e portanto infelizes.
Outros não desejam ter inúmeras riquezas, lhes bastaria uma vida
medianamente cômoda, e em sua concessão "se preocupam excessivamente com
os bens materiais e com banalidades próprias a existência terrena". São a
legião dos medíocres, esses que não gostam de pensamentos que vão um pouco mais
além das considerações de seu estômago, de seus pequenos interesses de
sobrevivência míope. "Tal mesquinhez o leva (a este tipo de homem) a
esquecer-se do efêmero desta vida, e, menosprezando a eternidade, a viver como
se o Criador não existisse".
Para outros a felicidade está na descoberta do conhecimento:
"Aspirando a dominar assuntos de difícil compreensão para o geral das
pessoas e obstinados pela ideia de ser laureados pela erudição, consomem o
tempo em estudos, investigações e escritos". Mas o conhecimento deve ser
somente um meio para conhecer mais e mais a Deus. Alcançado o conhecimento
desejado, os sedentos de ciência seguem com sede, pois a inteligência somente
descansa em Deus. "Por isso, muitos intelectuais, inclusive sendo
aplaudidos pelo mundo, terminam seus dias na amargura".
E aqui poderíamos seguir citando e citando caminhos que são de
infelicidade.
Entretanto, Monsenhor João Clá recorda que a felicidade está em dar-se,
em dar de si, por amor de Deus:
"Se Deus nos concedeu o instinto de sociabilidade, e acima deste a
lei moral e a graça, é preciso estar com uma preocupação primordial de fazer o
bem aos outros, sem acepção de pessoas. Essa disposição de alma, de contínuo e
generoso desvelo com o próximo, torna nossas almas transbordantes de
alegria".
Ao final do dilema, insiste Monsenhor João Clá, é o egoísmo podre e
putrificador e a generosidade que se consegue com a adoração a Deus: isso é
claro e muito provavelmente todos experimentamos em nossas vidas.
Entretanto, depois do pecado original, sem a graça de Deus, vence em nós
o egoísmo. Então o dilema acaba sendo, entre quem não acessa a graça de Deus
(que com quase sempre é quem não reza), e quem se nutre da seiva divina, da
oração, dos sacramentos.
Ao final esse é o dilema: estar a todo momento em atitude de oração, ou
estar a todo instante em atitude de adoração... de si mesmo.
Saúl Castiblanco
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(1) Todas as citações são tiradas de: João Scognamiglio Clá Dias, EP. O
inédito sobre os Evangelhos - Comentários aos Evangelhos dominicais - I - Ano C
- Domingos do Advento, Natal, Quaresma e Páscoa. Libreria Editrice Vaticana.
Cidade do Vaticano. 2012.
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Gaudium Press
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho
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