Esses dias passei na frente do "Templo de Salomão" feito
por Edir Macedo. A escala da construção é realmente monumental. Mas não me
chamou tanta atenção o tamanho do prédio, nem a
loja de souvenirs com vitrines repletas de miniaturas da arca da aliança,
menorás, etc., nem mesmo a franquia do Giraffas comprada pelo "bispo"
Macedo e acoplada às dependências do complexo religioso para comodidade dos
fiéis e dos que passam à rua. Chamou-me mesmo a atenção foi uma Igreja de São
João Batista posicionada no outro lado da rua, simetricamente alinhada com o
quarteirão do Templo.
Ao contrário de nós, Deus não fala apenas por palavras, mas por
palavras e por coisas, de modo que tudo na estrutura da realidade é
manifestação de um desígnio Divino, uma revelação de sua vontade e uma mostra
da sua onipotente providência controlando todo o acontecer - "Até os
cabelos de vossas cabeças estão todos contados" (Lc 12,7). Tendo isso em
vista, aquele parelhamento não poderia ser coincidência:
- De um lado havia a imitação do grande templo, símbolo do Antigo
Testamento, dos sacrifícios imperfeitos da antiga lei; do outro lado da rua
havia uma Igreja dedicada ao último grande profeta da antiga Lei, João Batista,
responsável por anunciar ao mundo o cordeiro verdadeiro, o sacrifício perfeito,
a superioridade da Nova Aliança;
- De um lado havia um homem auto-intitulado bispo, ávido por
riquezas, profeta da prosperidade material; do outro lado da rua a imagem de um
João Batista vestido com peles de camelo, habitante do deserto, pobre, sujo,
alimentando-se de gafanhotos e mel silvestre, desprezando o mundo, desprezando
toda riqueza como um nada e elogiado pelo Cristo como o maior dos homens nascidos
de mulher (Mt 11, 11);
- De um lado um homem da Nova Aliança, por autoridade que ele
próprio se deu, usando os símbolos da Antiga Lei para ser aclamado pelo mundo;
do outro lado um homem da antiga aliança, profeta do altíssimo por determinação
divina, afastando-se do mundo para, de lá, do deserto, pregar o messias que
haveria de vir.
Toda a imponência do Templo tornava-se pó apenas pela mera presença
daquela Igreja de São João Batista, ali do outro lado da rua. No afã de
demonstrar grandeza, o dono da Universal não percebeu que a providência lhe
permitiu construir o templo naquele lugar apenas para lhe expor ao ridículo,
para demonstrar a todos que quem quiser encontrá-lo pode atravessar a rua e ir
ali, dez metros à frente, na casa dedicada ao homem achado digno de batizar seu
Filho.
A pequena igreja de tons amarelados, aliás, elevava-se ereta, firme,
encarando varonilmente a aberração do outro lado da rua, tal qual João Batista
fizera várias vezes ao longo de sua vida, encarando os ímpios de seu tempo, condenando-os
abertamente, envergonhando-os não apenas com discursos duros, mas com sua
própria vida. O deserto, a pobreza, a humildade, a força, a autoridade, eram
tão escandalosas para o tetrarca Herodes e sua corte quanto são hoje para o
heresiarca da Universal e seu séquito.
Ao fim, tudo estava lá. Em duas construções, separadas por alguns
metros de asfalto, no meio de um movimentado bairro da capital paulistana, Deus
esculpiu um testemunho de sua vontade e os colocou à vista de todos que
quiserem ver.
Como disse no início do texto, esses dias passei na frente do
"Templo de Salomão" feito por Edir Macedo.
E ri dele.
Pedro Augusto
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