Algumas considerações sobre 2Tm 3,14 - 4,2:
1. São Paulo exorta a Timóteo:
“Caríssimo, permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como verdade; tu sabes de quem o aprendeste”.
O que Timóteo aprendeu? A fé cristã no seio da Igreja. A fé não se
descobre ou alimenta de modo individual e fechado em si mesmo. Se crer é um
caminho pessoal, nunca é individual, fechado em si mesmo. É da Igreja que
recebemos a fé e é a fé da Igreja que se faz nossa fé!
Esta fé é guardada e transmitida geração após geração por aquele órgão a que chamamos “Tradição” e, de modo especial, a “Tradição apostólica”, isto é, aquele núcleo, aquela semente que, desenvolvendo-se ao longo da história sob a guia do Espírito Santo e pelo ministério daqueles que receberam a Sucessão apostólica (os Bispos), vai-se explicitando a aprofundando cada vez mais.
Em muitas passagens do Novo Testamento podem-se encontrar referências a essa Tradição ou, como São Paulo gosta de dizer, a esse Depósito; trata-se do “Evangelho” ou “Palavra” que os Apóstolos pregaram oralmente sob a guia do Santo Espírito e permanece ininterrupta na vida e no sentir da Igreja de Cristo (cf. 1Ts 2,13; 2Ts 2,15; 2Tm 2,2).
2. “Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras: elas têm o
poder de te comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo
Jesus”.
Quais são as “Escrituras” que Timóteo conhece desde criança? Os
livros do Antigo Testamento.
Ainda não estava formado o cânon do Novo Testamento. São as Escrituras dos judeus que, lidas à luz da Tradição apostólica, revelam Jesus Cristo. O Antigo Testamento lido em si mesmo não dá acesso a Jesus e não conduz à salvação pela fé em Jesus Cristo.
Ainda hoje é assim: quem lê o Antigo Testamento em si mesmo, sem “re-lê-lo” à luz do Cristo, à luz da Nova Aliança, não passa da leitura judaica!
Por isso mesmo os fundamentalistas cristãos erram gravemente e fazem leituras tão descabidas dos livros sagrados! Neste caso, é deixá-los falando sozinhos sobre imagens, transfusão de sangue, sábados, alimentos puros e impuros e outras "judaizadas" mais...
3. “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para
argumentar, para corrigir e para educar na justiça, a fim de que o homem de
Deus seja perfeito e qualificado para toda boa obra”.
Aqui há afirmações importantíssimas:
(1) A Escritura Sagrada – Novo e Antigo Testamento – é inspirada por Deus. Se a forma da escrita é humana, seu Autor último é Deus. Nas palavras da Bíblia, nós encontramos realmente a Palavra de Deus.! E, em última análise, esta Palavra é o próprio Cristo, o Verbo que Se fez carne. Por isso, podemos dizer que toda Escritura fala de Cristo e desconhecer a Escritura é desconhecer o Cristo, Palavra feita carne.
(2) A Escritura não tem como finalidade o simples estudo e, muito menos, a vã discussão. Sendo uma palavra que Deus nos dirige, ela espera e exige a nossa resposta – resposta na vida e com a vida, qualificando o homem de Deus para toda boa obra. Uma escuta da Escritura que não deságüe em boas obras é vã e inútil – como já dizia São Tiago.
4. “Diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de vir a julgar os
vivos e os mortos, e em virtude da Sua Manifestação gloriosa e do Seu Reino, eu
te peço com insistência: proclama a Palavra, insiste oportuna ou
importunamente, argumenta, repreende, aconselha, com toda a paciência e
doutrina”.
Por último, com solenidade e firmeza, o Apóstolo, exorta a que
Timóteo combata o combate da fé. Na Igreja não deve haver espaço para o
relativismo doutrinal nem moral. Somos discípulos do Cristo nosso Deus e Sua
Palavra (a Escritura lida à luz de Cristo segundo a Tradição da Igreja) é
sempre o critério para nossa fé e nossa vida. Nunca se deve calar a verdade em
nome do diálogo ou do respeito pelos outros. Sem a verdade não há diálogo nem
tampouco há respeito! Verdade e caridade são um binômio que jamais deve ser
decomposto!
Dom Henrique Soares da
Costa
Bispo de Palmares - PE
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