“Não basta reformar os livros litúrgicos para renovar a
mentalidade (...), a educação litúrgica de Pastores e fiéis é um desafio a ser
enfrentado sempre de novo”." Depois deste magistério e depois
deste longo caminho, podemos afirmar com segurança e com autoridade magisterial
que a reforma litúrgica é irreversível”.
Ao
encontrar na manhã desta quinta-feira (24) na Sala Paulo VI os participantes da
Semana Litúrgica Nacional italiana, o Papa Francisco falou sobre a
irreversibilidade da reforma litúrgica, recordando - ao começar seu
pronunciamento - os acontecimentos “substanciais e não superficiais” ocorridos
no arco dos últimos 70 anos na história Igreja e em particular, “na história da
liturgia”.
O Concílio Vaticano II e a reforma litúrgica –
disse o Papa – são dois eventos diretamente ligados, “que não floresceram
repentinamente, mas foram longamente preparados”, como testemunha o movimento
litúrgico “e as respostas dadas pelos Sumos Pontífices às dificuldades
percebidas na oração eclesial”. “Quando se percebe uma necessidade – observou –
mesmo se não imediata a solução, existe a necessidade” de começar a fazer algo.
Francisco começa por citar, neste sentido, São
Pio X, que dispôs uma reordenação da música sacra e a restauração celebrativa
do domingo, além de instituir “uma comissão para a reforma geral da liturgia,
consciente de que isto comportaria” um grande e longo trabalho, mas que daria
“um novo esplendor” à dignidade e harmonia do “edifício litúrgico”.
Um projeto reformador que foi retomado mais
tarde por Pio XII com a Enciclica Mediator
Dei e a instituição
de uma comissão de estudo, sem falar em decisões como “a atenuação do jejum
eucarístico, o uso da língua viva no Ritual, a importante reforma da Vigília
Pascal e da Semana Santa”.
O Concílio Vaticano II fez amadurecer mais tarde
– recordou o Papa - “como bom fruto da árvore da Igreja, a Constituição
sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum
Concilium”, cujas linhas da reforma geral respondiam às
necessidades reais e à concreta esperança de uma renovação, “para que os fiéis
não assistam como estranhos e mudos espectadores a este mistério de fé, mas
compreendendo-o por meio dos ritos e das orações, participem da ação
sagrada conscientemente, piamente e ativamente (SC, 48)”.
O Papa recorda que “a direção traçada pelo
Concílio encontrou forma, segundo o princípio do respeito da sã tradição e do
legítimo progresso nos livros litúrgicos promulgados pelo Beato Paulo VI”, já
há quase 50 anos “universalmente em uso no Ritual Romano.
E a aplicação prática, guiada pelas Conferências
Episcopais para os respectivos países, está ainda em andamento, pois não basta
reformar os livros litúrgicos para renovar a mentalidade”:
“Os livros reformados por norma dos decretos do
Vaticano II, introduziram um processo que requer tempo, recepção dos fiéis,
obediência prática, sábia atuação celebrativa por parte, antes, dos ministros
ordenados, mas também dos outros ministros, dos cantores e de todos aqueles que
participam da liturgia. Na verdade, o sabemos, a educação litúrgica de Pastores
e fiéis é um desafio a ser enfrentado sempre de novo”.
“O próprio Paulo VI, um ano antes de sua morte –
recordou o Papa – dizia aos Cardeais reunidos em Consistório: “Chegou o
momento, agora, de deixar cair definitivamente os fermentos desagregadores,
igualmente perniciosos em um sentido e em outro, e de aplicar integralmente nos
seus justos critérios inspiradores, a reforma por nós aprovada em aplicação aos
votos do Concílio”. E completou:
“E hoje ainda há trabalho a ser feito nesta
direção, em particular redescobrindo os motivos das discussões realizadas com a
reforma litúrgica, superando leituras infundadas e superficiais, recepções
parciais e práticas que a desfiguram. Não se trata de repensar a reforma
revendo as suas escolhas, mas de conhecer melhor as razões subjacentes, também
por meio da documentação histórica, como de interiorizar os princípios
inspiradores e de observar a disciplina que a regula. Depois deste magistério e depois
deste longo caminho, podemos afirmar com segurança e com autoridade magisterial
que a reforma litúrgica é irreversível”.
Após “repassar com a memória este caminho”, o
Papa falou sobre alguns aspectos do tema que guiou a reflexão nestes dias do
encontro do Centro de Ação Litúrgica: “Uma liturgia viva para uma Igreja viva”:
“A liturgia é “viva”, afirmou Francisco, e “sem
a presença real do mistério de Cristo, não existe nenhuma vitalidade litúrgica.
Como sem o batimento cardíaco não existe vida humana, da mesma forma, sem o
coração pulsante de Cristo não existe ação litúrgica”. “E entre os sinais
visíveis do invisível Mistério está o altar, sinal de Cristo pedra viva,
descartada pelos homens mas que se tornou a pedra angular do edifício espiritual
em que é oferecido a Deus vivo o culto em espírito e verdade”.
A liturgia – disse depois o Papa – “é vida para
todo o povo da igreja. Por sua natureza, a liturgia é de fato “popular” e não
clerical, sendo – como ensina a etimologia – uma ação para o povo, mas também
do povo”:
"A Igreja em oração acolhe todos aqueles
que têm o coração na escuta do Evangelho, sem descartar ninguém: são convocados
pequenos e grandes, ricos e pobres, crianças e idosos, saudáveis e doentes,
justos e pecadores. À imagem da "multidão imensa" que celebra a
liturgia no santário do céu, a assembleia litúrgica supera, em Cristo, todo
limite de idade, raça, língua e nação".
“A dimensão “popular” da liturgia nos
recorda que ela é inclusiva e não exclusiva, criadora de comunhão com todos,
sem todavia homologar, porque chama cada um com a sua vocação e originalidade,
a contribuir no edificar o corpo de Cristo”.
Não devemos esquecer – alertou o Papa – que a
liturgia expressa a piedade de todo o povo de Deus e nela cada um contribui a
edificar o corpo de Cristo.
A liturgia – disse o Papa analisando um terceiro
ponto – é vida e não uma ideia a ser entendida. “Leva de fato a viver uma
experiência iniciática. Ou seja, transformadora do modo de pensar e de
comportar-se e não para enriquecer a própria bagagem de ideias sobre Deus”:
“A Igreja é realmente viva se, formando um
só ser vivo com Cristo, é portadora de vida, é materna, é missionária, sai ao
encontro do próximo, solícita de servir sem buscar poderes mundanos que a
tornam estéril. Por isto, celebrando os santos mistérios, recorda Maria, a
Virgem do Magnificat”.
Por fim, o Papa recorda que “não podemos
esquecer que a riqueza da Igreja em oração enquanto “católica” vai além do Rito
Romano que, mesmo sendo o mais difundido, não é o único’:
“A harmonia das tradições rituais, do Oriente e
do Ocidente, pelo sopro do mesmo Espírito dá voz à única Igreja orante por
Cristo, com Cristo e em Cristo, a glória do Pai e para a salvação do mundo”.
Ao agradecer a visita o Papa encoraja os
responsáveis do Centro de Ação Litúrgica a prosseguir e a ajudar “os ministros
ordenados, assim como os outros ministros, os cantores, os artistas, os
músicos, a cooperarem para que a liturgia seja “fonte e ápice da vitalidade da
Igreja””.
O pronunciamento do Papa Francisco pode ser
conferido na íntegra - no momento apenas em italiano – AQUI.
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Rádio Vaticano
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