Agosto é tradicionalmente o Mês Vocacional. Muito se fala,
ultimamente, de crise e de diminuição das vocações. A messe cresce sempre mais
e o número de operários da vinha do Senhor diminui também sempre mais. Os
ordenados e os consagrados envelhecem e as novas gerações optam por outros
caminhos vocacionais. Mas, vocação existe, existiu e continuará existindo. Como
tudo na vida, precisa ser descoberta, despertada, promovida e cultivada. A
crise vocacional é proporcional à credibilidade eclesial e a vitalidade da vida
cristã. Quanto mais fraca e frágil forem a eficiência e a eficácia eclesiais,
menos vocações teremos.
A Igreja cultiva e promove as vocações mais por atração do que
por proselitismo. Vocação é um mistério teândrico (divino-humano). Mais divino
do que humano ou mais humano do que divino? Mais divino e mais humano. Para
cada vocação, uma ação, uma missão e uma oração. Jesus, o primeiro promotor
vocacional, comparou a questão vocacional a uma roça. Chamou o mundo de messe e
a humanidade de operário. Dele é que nos vem a inspiração do divino-humano
cuidado e cultivo vocacionais, sincronizados: ação-oração: “a colheita é
grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que
envie trabalhadores para sua colheita” (Lc 10,2; Mt 9,37-38). O milagre da
ciência e da tecnologia do agronegócio está aí para comprovar: “o chão dá se a
gente plantar. Se a gente não planta, o chão não dá”. Ouvi, muitas vezes, meu
pai dizer: “o boi, o arroz, o milho e o feijão crescem com os olhos do dono”.
Sofremos muito com os queixumes, por conta da diminuta
vitalidade da atividade vocacional. Lamentamos sempre a perca e a diminuição
das vocações. E é um fato. Os dados estatísticos estão aí para comprovar.
Contra fatos não há argumentos. Mas não podemos ficar estacionados, na
defensiva, achando que a culpa é de Deus ou da sociedade, sem assumir o nosso
protagonismo. Lembro-me de um antigo cartaz vocacional que dizia: “toda vocação
é graça sua”. Este “sua” tanto pode ser atribuído à graça divina como à ação humana.
Toda vocação é um dom de Deus. Nossa é a missão de cuidá-la e cultivá-la. Se no
final dos esforços vocacionais não tivermos vocações que a comunidade precisa,
ainda assim, devemos nos render e afirmar: vocação existe. Basta descobri-la,
cultivá-la e promovê-la.
Como o Reino dos céus (Mt 13,44-45), a missão de um promotor
vocacional se assemelha a de um caçador de tesouros escondidos. Ao encontrar
uma pepita de ouro, um diamante ou outra pedra preciosa, é preciso garimpar,
tirar os cascalhos e as impurezas, a fim de que o esplendor da glória de Deus
possa brilhar (Mt 5,16). Quem ama a sua vocação, ama a vocação dos outros. Quem
ama, cuida.
Maria, a vocacionada do Pai, disse que devemos fazer tudo o que
o Jesus nos disser (Jo 2,5). A nossa ação é fundamental, como é fundamental a
oração pelas vocações. Meu professor, Achille Triacca, dizia:“reze bem a missa
e terá vocações. Reze mal a missão e não terá vocações”. Por isto, reze comigo
esta simples oração vocacional: “Senhor, envie mais missionários presbíteros,
mais missionários diáconos, mais missionários consagrados e consagradas, mais
missionários leigos e leigas, para o serviço do vosso povo, na vossa Igreja.
Amém!”
Dom Pedro Brito Guimarães
Arcebispo de Palmas (TO)
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