Minha proposta é considerar as
celebrações litúrgicas de agosto 2017 a partir do contexto vocacional,
considerando que agosto é um daqueles meses temáticos instituídos pela CNBB,
dedicado às vocações.
Toda vocação, do ponto de vista de Bíblico, consiste basicamente em três
movimentos: o chamado divino, o tempo da escuta e a resposta pessoal. Mesmo
havendo casos em que a escuta pareça inexistente, sempre existe um momento para
interrogar, como é o caso da vocação de Maria, a Mãe de Jesus. Ela foi chamada
por Deus, escutou e questionou a proposta divina e, depois disso, deu sua
resposta definitiva acolhendo o chamado. Este é um tema que mantém relação com
a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora.
É um dado importante considerar estes
três movimentos — chamado, escuta e resposta pessoal — para não se correr o
risco de precipitação, em se querer responder de maneira apressada. Deus chama
e dá um tempo para que a pessoa decida. Não existe, portanto, uma obrigação,
mas sempre a liberdade de optar entre aceitar ou não aceitar. O papel da
Liturgia, através das celebrações, é fazer memória das respostas vocacionais
presente na Palavra que a Eucaristia propõe nos Domingos de agosto.
Como estes três momentos estão
presentes nas celebrações do mês vocacional 2017
Chamado divino
Existe um chamado vocacional, da
parte de Jesus, ao escolher três de seus discípulos para que subissem com ele
no Monte Tabor (Domingo da Transfiguração). É a dimensão do chamado como
escolha pessoal, da parte de Deus e, de certo modo, escolha privilegiada. Nem
todos são chamados, apenas alguns. Um chamado de destaque é aquele feito a
Pedro, quando recebe a missão de ser “pedra”, fundamento da Igreja de Jesus
Cristo (21DTC-A).
O chamado divino costuma ser com uma
linguagem marcada pela serenidade. O exemplo está no modo como Deus entra em
contato com Elias: não através de tempestades e trovões, mas pelo vento suave
de uma brisa. É o que celebramos no 19DTC-A. Esta mesma experiência de chamado
pela serenidade aconteceu na vocação de Maria Santíssima, na Anunciação.
Tempo da escuta
O segundo movimento da experiência
vocacional é o tempo da escuta. O cenário vocacional da Transfiguração sugere
que este tempo necessita ser vivenciado na contemplação. É o vocacionado que
sente o chamado, mas precisa distanciar-se do mundo, como fez Jesus com seus
três discípulos, para silenciosamente contemplar e ouvir Deus falando com
outros vocacionados: Abrão, Moisés e Elias. Escutar através da contemplação é
um modo de não responder à vocação somente pelo entusiasmo, mas entendendo a
necessidade de ter tempo para si antes de responder.
Elias é o vocacionado que treme de
medo e foge (19DTC-A). Mas Deus o busca e o toca com sua brisa suave.
Elias é aquele vocacionado que (podemos dizer) tem medo do chamado divino e se
esconde. Com esse tipo de vocacionado, Deus não se serve da força e nem de
ameaças, mas o conforta e o fortalece com a ternura de uma brisa suave fazendo-se
presente em seu coração. É a experiência mística pela qual todo vocacionado
passa.
Já fizemos referência ao tempo de
escuta da Virgem Maria. Um tempo de escuta que representa aquele vocacionado
que questiona Deus, que precisa de algumas explicações, que necessita de
confirmações. Escuta, mas questiona. Toda experiência vocacional passa por um
momento de questionamento.
O terceiro exemplo está em Pedro. É
chamado e o seu tempo de escuta dura três anos de convivência. É o vocacionado
que convive por muito tempo com Jesus até ter a certeza que, de fato, é o
Senhor que o chama (21DTC-A). A vocação de Pedro representa a necessidade
de conhecer profundamente o chamado através da convivência com Jesus.
Resposta pessoal
A vocação, por fim, é sempre resposta
pessoal. Ninguém responde em meu lugar. Quando Jesus chama Pedro, Tiago e João
para subir com ele a montanha, eles respondem com a sua presença com o seu
corpo (Transfiguração). Quando Deus chama Maria para ser a Mãe de Jesus,
ela responde com sua presença e com o seu corpo (Assunção). Quando Deus
chama Elias, ele responde com sua presença (19DTC-A), o mesmo acontecendo
com Pedro, ao ser instituído fundamento da Igreja de Jesus Cristo (21DTC-A).
Não existe, em resumo, reposta vocacional que não envolva a pessoa fisicamente.
Dúvida e medo da resposta vocacional
A dúvida e o medo fazem companhia na
vida do vocacionado e são, por assim dizer, normais na dinâmica vocacional do
chamado – escuta – resposta pessoal. Verificamos isso nos personagens com os
quais celebraremos a Liturgia, neste mês de agosto 2017.
Na vocação da Virgem Maria, o
evangelista relata que ela ficou assustada e foi acalmada pelo anjo: “não temas
Maria!”. Já fiz referência ao medo de Elias, que foge da cidade para se
esconder de Deus. Tem ainda o medo de Pedro, ao ser chamado para caminhar sobre
a água (21DTC-A).
O elemento “dúvida”, no afundamento
de Pedro, é um dado interessante no processo vocacional, não pela dúvida em si,
mas por aquilo que se contrapõe à dúvida: a fé como confiança. Confiar em
responder afirmativamente, porque se Deus chama, ele sempre estenderá a mão
para que a pessoa não se afunde no medo.
Serginho Valle
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SAL Serviço de Animação Litúrgica
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