A crise da fé e a crise da ética atual são realidades intimamente
conexas, já que a moral ocidental nasceu da cultura gerada pelo
judeu-cristianismo.
A questão fundamental é a fé em Jesus Cristo, o encontro com a sua
Pessoa. A fé é um dom; mas, deve suscitar uma resposta, impregnando o modo de
pensar e de viver e compreender a realidade.
A fé nos faz ver e avaliar a partir de Deus como Se revelou em Jesus Cristo e é anunciado pela Igreja desde os tempos apostólicos. Ela nos dá uma nova percepção da realidade e da vida, mais global, profunda e verdadeira que qualquer outra percepção, gerada por qualquer outro ponto de vista, por válido e positivo que seja: a fé nos faz avaliar e viver segundo Cristo, segundo os critérios do Evangelho de Cristo!
O conhecimento provindo da fé nos ajuda a compreender Deus, nós mesmos e o próprio mundo. Tem-se, então, um conhecimento mais profundo que o filosófico e científico. Fé, filosofia e ciência não se contrapõem, mas a fé abre novas possibilidades àquelas pois, sem em nada forçar ou desfigurar os métodos dessas áreas de saber, oferece-lhes uma possibilidade mais profunda para interpretar a realidade.
É somente como resposta do homem livre a Deus que Se nos revelou e
Se nos deu em Jesus Cristo que se pode compreender a moral cristã: não como
algo imposto de fora, mas consequência de um “sim” livre e amoroso dado a Deus
em Cristo. Todo amor é consequente, é exigente! Daqui brota uma ética da fé: um
modo de viver inspirado, fundado e alimentado pela fé em Cristo, nascido do
encontro vivo com Ele.
Um Jesus que não seja o Jesus da Igreja de todos os tempos e
presente na Igreja atual fiel à fé apostólica, é ilusório, fruto de nossos
preconceitos. Por isso, a moral tal como a Igreja apresenta, não é algo que nos
vem de fora para impor, mas, expressão exigente de um amor radical: o de Deus
que tanto nos amou em Cristo, e o nosso, que deve concretizar-se no dizer “sim”
aos apelos do Senhor com um modo de pensar, julgar e agir próprios do
Evangelho.
A espiritualidade e a moral devem caminhar juntas: Uma moral sem
espiritualidade seria moralismo asfixiante e desumanizador. Se o mundo percebe
a moral cristã assim, é porque falta a experiência viva e pessoal do encontro
com Jesus Cristo! Por outro lado, a espiritualidade verdadeira exige a moral:
seguir a Cristo compreende a resposta concreta aos seus apelos. Daqui nasce a
moral cristã!
A crise moral atual é gerada, sem dúvida, pela falta dessa experiência viva de Jesus!
Dom Henrique Soares da
Costa
Bispo de Palmares - PE
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