Há uma bonita
tradição que representa São José "Adormecido", cuja imagem encontrei
há poucos dias. O José do Novo Testamento recorda José do Egito, chamado
"homem dos sonhos". Nenhum dos dois viveu fora da realidade, como
pode parecer por uma análise superficial. Antes, foram pessoas atentas aos
planos de Deus, na permanente prontidão para realizar a sua vontade. São José,
sendo um homem justo, tomou decisões a partir da revelação dos rumos a serem
assumidos, dentro da história da salvação. "A origem de Jesus Cristo foi
assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José e, antes de
passarem a conviver, ela encontrou-se grávida pela ação do Espírito Santo.
José, apareceu-lhe em sonho um anjo do Senhor, que lhe disse: José, Filho de
Davi, não tenhas receio de receber Maria, tua esposa; o que nela foi gerado vem
do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus,
pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados. Tudo isso aconteceu para se
cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: "Eis que a virgem ficará
grávida e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que
significa: Deus-conosco. Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor
tinha mandado e acolheu sua esposa. E, sem que antes tivessem mantido relações
conjugais, ela deu à luz o filho" (Mt 1, 20-24)... "Depois que os
magos se retiraram, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse:
Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te
avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo”. José levantou-se, de
noite, com o menino e a mãe, e retirou-se para o Egito" (Mt 2, 13-15)...
"Quando Herodes morreu, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no
Egito, e lhe disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe, e volta para a terra
de Israel; pois já morreram aqueles que queriam matar o menino”. Ele
levantou-se, com o menino e a mãe, e entrou na terra de Israel. Mas quando
soube que Arquelau reinava na Judeia, no lugar de seu pai Herodes, teve medo de
ir para lá. Depois de receber em sonho um aviso, retirou-se para a região da
Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré" (Mt 2, 19-23). À
percepção da vontade de Deus, segue-se sempre uma ação, toda voltada para
"o menino e sua mãe".
Em Nazaré, José
constituiu e sustentou sua original família, cujas razões e desenvolvimento se
encontram no Céu, solidamente ancorada no trabalho. Foi carpinteiro dos bons e
Jesus, chamado seu filho, aprendeu a mesma profissão. Maria, aquela que
veneramos com tanto apreço, foi imensa em sua pequenez e simplicidade de dona
de casa! A José e Maria não faltaram Anjos para lhes revelarem o que Deus
queria, nem lhes faltou a responsabilidade para assumir as próprias tarefas,
sem fugir da missão que lhes foi entregue, que incluía o direito e o dever do
trabalho.
O grande Papa
São João Paulo II, na introdução da Encíclica Laborem Exercens, ofereceu um
precioso ensinamento, oportuno para o tempo em que vivemos, com os desafios
ligados ao trabalho e ao emprego: "É mediante o trabalho que o homem deve
procurar-se o pão quotidiano e contribuir para o progresso contínuo das
ciências e da técnica, e sobretudo para a incessante elevação cultural e moral
da sociedade, na qual vive em comunidade com os próprios irmãos. E com a
palavra trabalho é indicada toda a atividade realizada pelo mesmo homem, tanto
manual como intelectual, independentemente das suas características e das
circunstâncias, quer dizer toda a atividade humana que se pode e deve
reconhecer como trabalho, no meio de toda aquela riqueza de atividades para as
quais o homem tem capacidade e está predisposto pela própria natureza, em
virtude da sua humanidade. Feito à imagem e semelhança do mesmo Deus no
universo visível e nele estabelecido para que dominasse a terra, o homem, por
isso mesmo, desde o princípio é chamado ao trabalho. O trabalho é uma das
características que distinguem o homem do resto das criaturas, cuja atividade,
relacionada com a manutenção da própria vida, não se pode chamar trabalho;
somente o homem tem capacidade para o trabalho e somente o homem o realiza
preenchendo ao mesmo tempo com ele a sua existência sobre a terra. Assim, o
trabalho comporta em si uma marca particular do homem e da humanidade, a marca
de uma pessoa que opera numa comunidade de pessoas; e uma tal marca determina a
qualificação interior do mesmo trabalho e, em certo sentido, constitui a sua
própria natureza".
E o Papa
Francisco, com a força de sua palavra e seu testemunho ilumina mas ainda nossa
reflexão, ligando família e trabalho: "No início do Salmo 127, o pai é
apresentado como um trabalhador que pode, com a obra das suas mãos, manter o
bem-estar físico e a serenidade da sua família: "Comerás do fruto do teu
próprio trabalho: assim serás feliz e viverás contente" (V. 2). O fato de
o trabalho ser uma parte fundamental da dignidade da vida humana deduz-se das
primeiras páginas da Bíblia, quando se afirma que Deus "colocou o homem no
Jardim do Éden, para o cultivar e, também, para o guardar" (Gn 2, 15).
Temos aqui a imagem do trabalhador que transforma a matéria e aproveita as
energias da criação, fazendo nascer o "pão de tanta fadiga" (Sl 126,
2), para além de se cultivar a si mesmo. O trabalho torna possível
simultaneamente o desenvolvimento da sociedade, o sustento da família e também
a sua estabilidade e fecundidade: "Possas contemplar a prosperidade de
Jerusalém todos os dias da tua vida e chegues a veros filhos dos teus
filhos" (Sl 127, 5-6). No livro dos Provérbios, realça-se também a tarefa
da mãe de família, cujo trabalho aparece descrito nas suas múltiplas mansões
diárias, merecendo o elogio do marido e dos filhos (Cf. 31, 10-31). O próprio
apóstolo Paulo sentia-se orgulhoso por ter vivido sem ser um fardo para os
outros, porque trabalhou comas suas mãos, garantindo-se deste modo o sustento
(Cf. At 18, 3; 1Cor 4, 12; 9, 12). Estava tão convencido da necessidade do
trabalho, que estabeleceu esta férrea norma para as suas comunidades: "Se
alguém não quer trabalhar, também não coma" (2Ts 3,10; Cf. 1Ts 4, 11).
Dito isto, compreende-se que o desemprego e a precariedade laboral gerem
sofrimento, como atesta o livro de Rute e como lembra Jesus na parábola dos
trabalhadores sentados, em ócio forçado, na praça da localidade (Cf. Mt 20,
1-16), ou como pôde verificar pessoalmente vendo-Se muitas vezes rodeado de
necessitados e famintos. Isto mesmo vive tragicamente a sociedade atual em
muitos países, e esta falta de emprego afeta, de várias maneiras, a serenidade
das famílias. Também não podemos esquecera degeneração que o pecado introduz na
sociedade, quando o homem se comporta como um tirano com a natureza,
devastando-a, utilizando-a de forma egoísta e até brutal. Como consequência,
temos, simultaneamente, a desertificação do solo (Cf. Gn 3, 17-19) e os
desequilíbrios econômicos e sociais, contra os quais se levanta, abertamente, a
voz dos profetas, desde Elias (Cf.1Rs 21) até chegar às palavras que o próprio
Jesus pronuncia contra a injustiça (Cf. Lc 12, 13-21; 16,1-31) (Amoris Laetitia
23-26).
Impossível
calar, a esta altura dos acontecimentos e da crise do trabalho e do emprego, a
voz do Papa Francisco, na recente Exortação Apostólica sobre o Matrimônio e a
Família, que soa como um grande apelo, cujo eco esperamos ver acolhida no dia
do trabalho. Confiamos a São José Operário o desejo de que não se abafem os
legítimos sonhos e aspirações de nosso povo.
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