As eleições,
em qualquer estado democrático do mundo, tem um efeito curioso sobre os
católicos: ao mesmo tempo em que sentimos a responsabilidade de ajudar na
construção da casa comum, também nos sentimos confusos, perdidos, muitas vezes
obrigados a escolher “o mal menor”.
Do meu ponto
de vista, chegamos a esta situação devido à perda de sentido do nosso
pertencimento ao povo de Deus – um pertencimento que também é político. Nós,
cristãos, somos uma “nação de nações”, configurada pelo nosso “ser de Cristo”.
É um pertencimento que não provém de nenhuma decisão ideológica, nem consiste
em estar de acordo com alguma série de postulados abstratos; é um pertencimento
que provém do fato fundamental de termos encontrado o Senhor e caminharmos rumo
a Ele e junto com Ele.
Convém recordar
que a Eucaristia é o primeiro e mais importante “ato político” no mundo. A
celebração da Eucaristia na mais humilde das paróquias é um ato político de
dimensão incomparavelmente maior que qualquer cúpula de chefes de Estado. O
motivo é que, ao comungarmos, somos incorporados ao Corpo de Cristo e nos
tornamos um só, com Ele e com os nossos irmãos, num laço que é mais real e mais
verdadeiro que os laços do sangue e da cidadania.
Todas as
teologias pagãs sustentadas no mundo contemporâneo são meros esforços
grosseiros para simular um pertencimento semelhante.
É decisivo
que compreendamos isto: existem formas de gerir as relações de intercâmbio de
recursos (economia), o crescimento pessoal (educação) e o bem comum (política)
que nascem do encontro com Cristo e que são substancialmente diferentes, nesses
âmbitos e em outros tantos, das que provêm das teologias pagãs nas quais se
alicerça a mentalidade dominante.
É um erro capital pensar que a experiência de Cristo não tenha
relevância em todos e cada um dos atos cotidianos, em todas e cada uma das
nossas práticas e preocupações.
Por isso, a
primeira decisão política não é em quem votar, mas sim a decisão de acolher ou
rejeitar Jesus Cristo como centro da própria vida.
As
dificuldades que vivemos para definir o nosso voto se tornam mais evidentes
quando tentamos decidir a partir de argumentos morais. A moralidade é
importante, mas, separada do seu sentido, que é Cristo, até ela se reduz a
simplesmente mais uma ideologia.
A famosa Carta a Diogneto (leia esta preciosidade AQUI), que é todo um
manual sobre política cristã, declara que o povo de Deus vive no meio dos
outros, mas de maneira assombrosamente diferente; por exemplo, “não abandonando
os filhos de suas entranhas”.
O autor da
carta evoca o fato de que as famílias cristãs, na época dos romanos, iam até os
lugares em que os pagãos abandonavam os filhos recém-nascidos que não desejavam
assumir e os adotavam como próprios, e que esta forma de viver não surgia de
uma simples rejeição ideológica ao aborto e ao infanticídio, mas sim de uma
superabundância de amor, que se derramava sobre todos os aspectos da vida.
Ao
entendermos isto, percebemos que a solução não é criar uma espécie de “partido
católico”, porque ele mesmo só poderia participar do jogo se aceitasse os
pressupostos do poder, que são pagãos: os partidos partem da ideia de que as
relações humanas, todas elas, mas em especial as econômicas, são movidas pelo
interesse. É consequência básica que se preocupem, portanto, em manter seus
privilégios e permanecer no poder adaptando suas “opiniões” ao que redundar em
seu proveito conforme cada contexto.
Li,
recentemente, que o Partido Comunista chinês vem derrubando as cruzes cristãs
porque tem medo da força dessa comunidade – que, no Ocidente, está praticamente
dissolvida. O motivo é que o cristianismo, quando vivido com plena consciência,
transforma impérios, derruba tiranias e faz germinar com força as sementes do
bem comum.
Onde está agora esse povo, o povo de Deus, ao qual eu pertenço?
Está calado,
submisso, porque se tornou infiel à única possibilidade de beleza, de paz e de
entendimento que existe na terra. Ainda assim, esse povo, essa nação de nações,
é a esperança do mundo, porque traz em seu seio a presença do Ressuscitado,
daquele que revela ao homem quem ele é e qual é a altura da sua vocação.
Marcelo López Cambronero
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Aleteia
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