Boa parte
dos defensores da “redefinição” do conceito de casamento costuma apelar para valores como “tolerância”,
“compreensão”
e “aceitação
das diferenças” a fim de “ampliar” o significado do termo e
embutir nele todo tipo de união romântica ou sexual entre duas (ou mais)
pessoas de qualquer sexo. Isso inclui modalidades de união que nada têm a ver
com a formação de um núcleo de pai, mãe e filhos, mas que, ainda assim, não
apenas “podem” como até “devem” ser chamadas de “casamento”.
Não poderiam
usar outra palavra? Poderiam, é claro. Mas alguém resolveu que tudo é
“casamento”, de maneira que aquilo que todo mundo entende por casamento seja
cada vez menos entendido como o que é.
Um exemplo
significativo e “ligeiramente extremo” é a tendência (crescente?) a se
considerar até certa forma de poligamia como uma das “modalidades” do
“casamento”, nem que, para isto, ela tenha de ser rebatizada com o pomposo nome
“técnico” de “poliamor” (veja mais sobre o assunto neste artigo recomendado).
Pretende-se,
enfim, que toda uma ampla variedade de uniões instáveis e fugazes seja
equiparável ao compromisso matrimonial definitivo, natural e aberto à vida – e
que se finja que não decorrerá nenhuma consequência socialmente prejudicial de
tamanha indiferenciação forçada, na qual tudo deveria ser visto como
simplesmente “a mesma coisa”.
Por outro
lado, as alardeadas virtudes da “tolerância”, da “compreensão” e da “aceitação
das diferenças” se revelaram uma via de
mão única, inacessível para as pessoas que discordam das “mudanças” ideológicas (e
jurídicas) no conceito de casamento.
É o que
vão descobrindo os cidadãos de países que estão “mexendo” nessa definição ou
que já “mexeram”, como a França.
Já em março
de 2013, aquele país testemunhou as suas maiores
manifestações sociais desde
maio de 1968: no dia 24, cerca de 1 milhão de cidadãos protestaram pedindo que
a união entre pessoas do mesmo sexo não fosse equiparada ao matrimônio entre um
homem e uma mulher, dadas as notórias
e naturais diferenças entre
uma realidade e a outra. Foram tachados de intolerantes.
Um relatório
do Centro Europeu de Lei e Justiça denunciou, na época, o uso excessivo da
força por parte das autoridades para reprimir
esses manifestantes: “Ninguém se salvou: mulheres, crianças,
idosos, deficientes. Os manifestantes foram pisoteados e agredidos”.
O famoso
jornal francês Le
Figaro publicou que,
em 26 de maio do mesmo ano, houve mil
prisões e quinhentas detenções de pessoas que manifestaram a sua opinião contra a equiparação da união
entre pessoas do mesmo sexo ao casamento.
Ainda na
mesma época, denúncias da organização norte-americana C-FAM
(sigla abreviada para o Instituto da Família Católica e dos Direitos Humanos)
registraram que os manifestantes pró-família foram tratados pelas autoridades
socialistas francesas como “uma ameaça pública” e
submetidos a “verificações
de identidade, prisões e detenções arbitrárias, brutalidade policial, agressões
físicas e uso de gás lacrimogêneo”.
O C-FAM,
aliás, fez uma significativa comparação: naquele mês de maio, cerca de 300
pessoas foram detidas porque participaram de manifestações em defesa do
matrimônio tradicional na França. No mesmo mês, durante uma briga violenta e
generalizada que se seguiu a um jogo de futebol em Paris, só 11 pessoas foram
detidas.
O instituto
norte-americano também apontou vários vídeos, gravados durante os protestos,
nos quais a polícia francesa aparece atacando
até manifestantes pacíficos com
gás lacrimogêneo, o que incluía famílias com crianças, idosos e pessoas com
deficiências físicas.
Para o
Centro Europeu de Lei e Justiça, houve clara “evidência de brutalidade contra o movimento social em defesa da
família”.
A gravidade
dos fatos foi tamanha que a Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa chegou
a organizar uma audiência sobre os protestos e sua repressão. Os resultados não
foram nada claros e os franceses continuam correndo o risco de ser processados
caso se manifestem em defesa do casamento natural, já que podem ser acusados de
“crime de ódio”.
Da França
para o mundo, a tendência é, cada vez mais, a mesma – disfarçada, sempre, de
“tolerância”, “compreensão” e “aceitação das diferenças”.
O que está em discussão, aqui, não é o direito individual de um
cidadão adulto de tomar decisões a respeito da própria vida particular, mas sim
a forma como vem se tentando impor artificialmente uma redefinição conceitual
que ignora diferenças objetivas entre tipos naturalmente diferentes de
relacionamento, que não podem ser confundidos com “a mesma coisa” –
simplesmente porque não são “a mesma coisa”.
Entre as
primeiras consequências dessa “redefinição indefinida”, a “tolerância” e a
“repressão” é que passaram a ser “a mesma coisa” na prática – só que para
alvos diferentes, como ocorre em todo regime
ditatorial disfarçado de “igualitarismo”.
Bem disse
Millôr Fernandes: “Democracia é quando eu mando em você. Ditadura é quando você
manda em mim”.
Francisco Vêneto
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Aleteia
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