Hoje, festa litúrgica da Cátedra de São Pedro. Festa antiga: desde o
século IV. Nela, a Igreja celebra a missão, o ministério de Pedro na Igreja.
Por ele mesmo, esse Apóstolo não passa de um homem meio rude, impetuoso e
inconstante. Mas, por graça de Cristo, torna-se Pedra da Igreja. Cristo
escolheu para o ministério petrino um Simão tão frágil, que negou o Mestre!
Fica claro que a força de Pedro é Cristo: "Eu orei por ti para que a tua
fé não desfaleça!" E Simão desfaleceu miseravelmente: negou o Mestre.
"E tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos!" - Eis aqui o
ministério e o mistério de Pedro e de seus sucessores, os papas de Roma!
Observe Mateus 16: o mundo tem tantas opiniões sobre o Cristo, sobre a
verdade do Evangelho, mas é a Simão Pedro que o Pai revela a verdade que não
pode ser alcançada simplesmente pela força da carne e do sangue! Por isso
mesmo, somente Pedro pode falar em nome de todos os discípulos. Ainda hoje é
assim: somente o Sucessor de Pedro - e mais ninguém - pode falar de modo
vinculante e definitivo em nome de toda a Igreja! E um concílio? Somente em
valor se reconhecido e aprovado pelo Papa!
Note: o que Pedro liga na terra como cabeça visível da Igreja, Cristo, o
Cabeça invisível e glorioso, liga no céu; o que Pedro, como chefe visível,
desliga na terra, Cristo, o Chefe invisível, desliga no céu. E um Concílio?
Somente em comunhão com Pedro: com Pedro e sob Pedro. Do contrário não há
concílio, não há Colégio Episcopal, mas um monte de Bispos juntos...
Pedro é o chefe visível, o pastor supremo da Igreja... No entanto,
somente Cristo é o fundamento da Igreja, somente Cristo é o Senhor e Esposo da
Igreja, somente Cristo é o Guia definitivo da Igreja, somente Cristo é o
sustento da Igreja! Se o Papa é infalível quando proclama dogmaticamente a fé
da Igreja, como homem é tão frágil, tão falível! Mas, recordemos da palavra do
senhor: "Simão, Simão, Satanás tentou peneirar-te como o trigo, mas Eu
orei por ti para que a tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, confirma
os teus irmãos!" Eis a missão, a honra, a fraqueza e a força de Pedro na
Igreja, até o fim dos tempos!
A festa da Cátedra de São Pedro, ocasião mais do que especial e oportuna
para rezarmos pelo Santo Padre e por todos os pastores, bispos e presbíteros,
da Santa Igreja de Deus.
Disto se vê, pois, a importância de pedirmos ao Pai não só que tenha
misericórdia de nossos sacerdotes e os ajude em seu ofício, mas também que os
faça conforme o Coração Sacratíssimo de seu Filho, Pastor eterno e fonte de
todo sacerdócio. Lembremo-nos, porém, de que a santidade dos que nos apascentam
depende em boa medida da nossa própria santidade; lutemos, portanto, por sermos
também nós santos e dignos de receber de Deus guias e pastores que, vendo em
nós um povo bem disposto, nos auxiliem em nossa conversão diária. Viva Pedro!
Viva o Papa, seja quem for e qual for o seu nome! Viva Pedro!
COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
Leituras: 1Pd
5,1-4; Mateus 16,13-19
A exortação de 1Pd 3,1-9 continua na primeira
leitura de hoje, seguindo um esquema semelhante: anciãos, jovens, todos.
“Anciãos”, em lugar de significar idade (correlativo de jovens), passa a
significar a função. Antes de despedir-se, Pedro, o ancião e responsável,
aconselha seus colegas anciãos e responsáveis. Podem se ler esses versículos
como testamento espiritual de Pedro. Exibe primeiro seus títulos: testemunha da
Paixão (que assimilou em sua espiritualidade, ainda que lhe tenha custado tanto
compreende-la) e participante na esperança da glória.
Depois propõe seus conselhos com seu
procedimento favorito de antíteses: “não isso, mas aquilo”. Três antíteses que
sintetizam o programa de um pastor. O aspecto negativo serve para sublinhar o
oposto positivo; mas também poderia aludir a abusos reais ou possíveis entre os
responsáveis. A imagem do pastor era e se tornou tradicional: Jesus Cristo é o
“Arquipastor” (pastor supremo ou chefe dos pastores).
O trecho do evangelho de hoje não é relevante
só para a Igreja Católica, é-o intrinsecamente. Assinala no evangelho de Mateus
uma curva de grande importância. Compõe-se de duas partes: a confissão de
Pedro, porta-voz dos Doze, sobre o messianismo de Jesus (v. 13-16.20) e,
inserida nela, a promessa do primado, feita pode Jesus a Pedro (v. 17-19).
Cronologicamente, as duas coisas não parecem coincidir. Com efeito, a passagem
seguinte (16,21-27) não alude à confissão da divindade de Jesus. O motivo de
haver Mateus unido as duas partes está em sua teologia. A ruptura com Israel é
já agora definitiva: Israel não é mais a planta de Deus (15,13); deve o
discípulo abandoná-la; deixai-os (15,14); o próprio Jesus abandona-o (16,4b).
É, porém, inconcebível um messias sem um povo (uma qahal), e Jesus anuncia-o
fundado sobre a rocha que, visivelmente, após sua partida, será Pedro, a quem
dá as chaves.
Diante de Jesus é necessário tomar posição.
Entre a crescente hostilidade dos chefes e a incompreensão da multidão, para se
concentrar na formação dos discípulos, particularmente dos Doze, Jesus levanta
uma “questão de confiança”. Pedro, em nome dos outros, faz uma positiva
profissão de fé: “Jesus é o Cristo, o Filho de Deus”. De fato - diz Jesus- foi
o Pai que lho revelou. Por isso Cristo edificará sua Igreja sobre Pedro. Mas
devia ser aceito como “Messias-Servo sofredor”, e Pedro aqui se lhe opõe com a
veemência de um pensamento puramente humano: torna-se “pedra de tropeço”. Por
isso Jesus rezará por sua “conversão”, a fim de que possa confirmar os “irmãos”
(Lc 22,31s). Tudo isso vale para nós: Devemos declarar-nos abertamente por
Cristo Salvador; pertencer a Cristo na Igreja construída sobre a rocha;
deixar-nos confirmar na fé por Pedro que tem de Cristo poder e missão para
isso; chorar com Pedro a infidelidade passada.
PARA REFLETIR
Dentre todos os homens do mundo, Pedro foi o
único escolhido para estar à frente de todos os povos chamados à fé, de todos
os apóstolos e de todos os padres da Igreja. Embora no povo de Deus haja muitos
sacerdotes e pastores, na verdade, Pedro é o verdadeiro guia de todos aqueles
que têm Cristo como chefe supremo. Deus dignou-se conceder a este homem,
caríssimos filhos, uma grande e admirável participação no seu poder. E se ele
quis que os outros chefes da Igreja tivessem com Pedro algo em comum, foi por
intermédio do mesmo Pedro que isso lhes foi concedido.
A todos os apóstolos o Senhor pergunta qual a
opinião que os homens têm a seu respeito; e a resposta de todos revela de modo
unânime as hesitações da ignorância humana.
Mas, quando procura saber o pensamento dos
discípulos, o primeiro a reconhecer o Senhor é o primeiro na dignidade
apostólica. Tendo ele dito: Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo, Jesus lhe
respondeu: Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que
te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu (Mt 16,16-17). Quer dizer, és
feliz, porque o meu Pai te ensinou, e a opinião humana não te iludiu, mas a
inspiração do céu te instruiu; não foi um ser humano que me revelou a ti, mas
sim aquele de quem sou o Filho unigênito.
Por isso eu te digo, acrescentou, como o Pai
te manifestou a minha divindade, também eu te revelo a tua dignidade: Tu és
Pedro (Mt 16,18). Isto significa que eu sou a pedra inquebrantável, a pedra
principal que de dois povos faço um só (cf. Ef 2,20.14), o fundamento sobre o
qual ninguém pode colocar outro. Todavia, tu também és pedra, porque és
solidário com a minha força. Desse modo, o poder, que me é próprio por
prerrogativa pessoal, te será dado pela participação comigo.
E sobre esta pedra construirei a minha Igreja,
e o poder do inferno nunca poderá vencê-la (Mt 16,18). Sobre esta fortaleza,
construirei um templo eterno. A minha Igreja destinada a elevar-se até ao céu
deverá apoiar-se sobre a solidez da fé de Pedro.
O poder do inferno não impedirá esse
testemunho, os grilhões da morte não o prenderão; porque essa palavra é palavra
de vida. E assim como conduz aos céus os que a proclamam, também precipita no
inferno os que a negam.
Por isso, foi dito a São Pedro: Eu te darei as
chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus;
tudo o que desligares na terra, será desligado nos céus (Mt 16,19).
Nenhum comentário:
Postar um comentário