Em
tempos de tanto relativismo, confusão acerca dos valores e permissividade em que
tudo parece ser certo simultaneamente mesmo que não seja possível haver mais de
uma verdade logica e validamente, como muitos pretendem defender, é importante
frisar aos que são católicos que a fé da Igreja não é mera opinião razoável que
podemos ou não aceitar se queremos viver a comunhão com ela.
Somos
livres para sermos católicos ou não. Ninguém é obrigado a sê-lo. Porém ao
aceitar viver numa religião qualquer, não só como praticante de mera frequência
ao sagrado e conhecedor de coisas, e sim enquanto alguém que busca vivê-la de
maneira plena no seu cotidiano condicionando a própria personalidade, temos que
assumir com coerência a normatividade do credo em questão.
A fé
católica implica necessariamente a transformação da pessoa em conformidade a
tudo o que foi instituído como essencial sob a autoridade de Cristo, seja pela
Sagrada Escritura, pela tradição apostólica (isto é, pelos apóstolos que
receberam a sua autoridade), ou pela Igreja no uso do seu Magistério a quem Ele
confiou todo o depósito da fé.
No que
se trata de matéria disciplinar, ou seja, aquilo que é norma eclesiástica, nós
temos condições que são passíveis de mudança ao longo dos séculos, tal como
algumas formas da liturgia, da aplicação de leis canônicas, etc. Podemos chamar
isso de “tradição” de ‘t’ minúsculo porque mutável. Quando chegamos no que diz
respeito à doutrina apostólica e magisterial já definida, o que podemos chamar
de “Tradição” com ‘T’ maiúsculo, estamos tocando naquilo que é
imutável até mesmo pela suprema autoridade da Igreja aqui na Terra, o
Papa.
“Pera
aí! Então o Papa não pode tudo?” Não. Igualmente ele está submetido à
normatividade da fé, e o seu limite no exercício do ministério petrino é a
fidelidade à Tradição e ao Magistério já estabelecidos inerrantemente. A própria
infalibilidade papal se dá adequada a essa continuidade que deve ser
ininterrupta. Jamais se deve vivê-la em descontinuidade.
A
Igreja não é uma democracia baseada no eletivo
Há
fiéis que olham para a Igreja como uma espécie de nação democrática, inclusive
taxando a figura do Papa que fora eleito como alguém com o poder de mudar tudo
da fé. Sem dúvida alguma, tal visão é anti-católica.
A vida
eclesial em Cristo não depende da vontade de maiorias ou minorias, ou da
opinião pessoal de sua hierarquia. Ela é o plano de Deus e a conversão total a
sua vontade: “Christo nihil praeponere” – isto é, “nada antepôr a Cristo”.
O
direito de escolha de verdades para nortear a si mesmo na existência deveria
vir antes da fé, porque depois que tomamos um credo como referência para si
consagramos a nossa consciência a fim de ser condicionada pela divindade e
pelos seus instrumentos instituídos que comunicam a sua vontade. Alguém viria a
dizer: “Mas eu não creio que homens sejam utilizados para expressar a sua
vontade porque são pecadores”. Então lhe falta algo fundamental, a fé. Sem isso
não se vive a religiosidade na sua forma instituída. E aí não é acreditar
meramente em homens, é ter a clara consciência do poder da divindade, da sua
graça, que usa mesmo dos condicionamentos temporais e humanos para a realização
de sua vontade sem jamais contradizer-se no que já fora consumado anteriormente
no seu plano histórico.
Assim é
na Tradição católica de 2000 anos que mediante a diversidade de situações
históricas manteve a sua essência e identidade sem jamais se contradizer no que
foi definido nesta normatividade da fé. Todos que tentaram fazer frente às suas
definições saíram de sua comunhão para viver uma anti-igreja ou outro credo que
não o cristão-católico. Quanto à Igreja, sempre permaneceu Una.
Repaginando
a consciência de fé no contexto atual
Um
exame de consciência fundamental ao homem cristão é: Por que eu sigo essa fé?
Por que frequento essa Igreja? Será que é porque acho mais legais as pessoas
daqui? Afinal, eu me sinto mais solto e menos exigido, por isso estou nela?
Será que é porque penso que minha fé é mais tolerável com a vida ou idéias
mundanas que levo comigo baseado até mesmo no que vejo das pessoas que vão lá
na Igreja e fazem tudo o que eu faço, alguns pensando até o mesmo o que penso?
E muitas outras perguntas podem ser elaboradas para prosseguir aprofundando o
exame.
Então,
para quê estar na Igreja? Não, não somos um clube de associados, nem de
“acionistas” minoritários ou majoritários que de acordo com o nível de
participação dentro e fora da fileira de suas lideranças podemos exigir a
mudança da sua identidade a fim de agregarmos mais e impedirmos a perda de
membros sob medo de uma espécie de falência. É falsa tal idéia pastoral
messiânica que está fundamentada na infidelidade para juntar mais pessoas à
instituição humana, e de outro lado aumentando o rigor do juízo pela hipocrisia
de vida tida como aceitável como quem pensa: “afinal, antes estes aqui perto
vivendo de pecado do que longe”. Não encontramos nenhuma atitude desse tipo no
modo de agir pastoralmente entre os primeiros cristãos. Havia clareza,
objetividade, espírito de resolução e solidez da fé. Encontramos a compaixão
com o pecador, não a admissibilidade do pecado.
Não
trabalhamos para lucrar o agrado das pessoas, uma quantidade massiva de fiéis
como fãs de uma maneira de atuar religiosamente sem serem autênticos discípulos
de Jesus. O serviço da Igreja aos homens consiste em angariar almas para o céu.
Para tanto, às vezes se faz necessário desagradar, corrigir, advertir, exortar,
discordar de práticas e condutas incompatíveis com a fé.
E não
diga que vão diminuir as estatísticas com um discurso emocional que não salva
alma alguma. Nossa pena não salvará as pessoas. É o amor de Deus, a
misericórdia e a graça que transforma que serão a fonte salvífica para os que
crêem.
A
obediência a que chamamos as pessoas é salvífica. O mundo porém não quer viver
sob a ordem da divindade de Cristo. Cada um quer fazer o que bem entende para a
própria perdição da alma. E como lidar com isso? Com concessões sobre
concessões? E quando acabará isso? Quando já “não houver mais fé sobre a
terra”?
Dá um
jeito de ser católico
Se você
é católico, um aspecto da sua conversão para a santidade será a obediência
sempre renovada. Sem a Igreja ninguém poderá ser santo. É uma mentira satânica
dizer que existe verdadeiro profetismo e santidade sem comunhão, na verdade isso
é falso profetismo e hipocrisia. Não existe santidade sem a coerência com os
mandamentos da fé que passam pela Tradição e pela autoridade legítima da
Igreja, – entenda-se bem, de legítima prática porque em comunhão com as
Escrituras e a Tradição.
Roguemos,
irmãos, para que caia por terra toda espécie de usurpação da fé para interesses
pessoais e sectários. A Igreja precisa ser ela mesma do modo como Cristo a
instituiu e confirmou ao longo dos séculos numa comunhão de continuidade, e não
num unitarismo gerado na descontinuidade cheio de mundaneidades.
O mundo
está cansado dos falsos profetas de beira de esquina que insistem em anunciar
uma anti-igreja dentro de comunidades confundindo grande número de fiéis. A
Igreja é Católica, de princípios universais, é apostólica, fiel ao seu
princípio e identidade, e romana, porque está sob o ministério petrino que
sempre deverá ser fiel e forte opositor de uma anti-igreja que tente fazer
sucumbir dentro dela mesma o que lhe é próprio por essência. Assim a
proclamaremos ao mundo como Una, porque é uma assembléia unida em Cristo, e
Santa, porque submetida em comunhão à vontade de Cristo.
Pe. Augusto Bezerra
Padre
da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. Bacharel em filosofia pela
PUC-Rio, e de teologia pelo Instituto Superior de Teologia João Paulo II da
respectiva Arquidiocese.
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