quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Eis que salvarei o meu povo




O Pai eterno criou todo o universo por totalmente livre e secreto desígnio de sua sabedoria e bondade. Decretou elevar os homens à participação da vida divina. Quando caíram na pessoa de Adão, jamais os abandonou, oferecendo-lhes sempre os auxílios para a salvação, em vista de Cristo, o Redentor, que é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda criatura. Antes dos tempos, o Pai conheceu todos os eleitos e os predestinou a se tornarem conformes à imagem de seu Filho, para que este fosse o primogênito entre muitos irmãos.

Determinou, pois, congregar na santa Igreja os que creem em Cristo. Desde a origem do mundo foi a Igreja prefigurada. Admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na antiga Aliança, foi constituída agora, nestes tempos que são os últimos, e manifestada pela efusão do Espírito. No fim dos tempos, será gloriosamente consumada. Então, como se lê nos santos padres, todos os justos desde Adão, do justo Abel até o último eleito, serão reunidos na Igreja universal junto ao Pai.

Aqueles, porém, que ainda não receberam o Evangelho, por diversos modos se ordenam ao Povo de Deus.

Em primeiro lugar, aquele povo a quem foram dados os testamentos e as promessas e do qual nasceu Cristo segundo a carne. Por causa dos patriarcas, segundo a eleição, é um povo caríssimo; pois os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis.

O plano da salvação ainda abrange aqueles que reconhecem o Criador. Entre estes destacam-se os muçulmanos que, professando manter a fé abraâmica, adoram conosco o Deus único, misericordioso, juiz dos homens no último dia.

Deus também não está longe dos outros homens, que procuram o Deus desconhecido em sombras e imagens, porque é ele quem dá a todos a vida, a respiração e tudo o mais. O Salvador quer que todos os homens se salvem.

Portanto, os que, sem culpa, ignoram o Evangelho de Cristo e sua Igreja, mas buscam a Deus com coração sincero, tentando, sob o influxo da graça, cumprir por obras a sua vontade conhecida através dos ditames da consciência, podem conseguir a salvação eterna. A divina Providência não nega os auxílios necessários à salvação aos que, sem culpa, ainda não chegaram ao expresso conhecimento de Deus e se esforçam, não sem a divina graça, por levar uma vida reta. A Igreja julga tudo quanto de bom e de verdadeiro neles se encontra como uma preparação evangélica, dada por Aquele que ilumina todo homem, para que enfim tenham a vida.



Da Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja, do Concílio Vaticano II (N.2.16)                     (Séc.XX)

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