Caros amigos, a onda de violência urbana que atingiu
nossos irmãos capixabas nos deixou perplexos diante da crueldade sem sentido.
Segundo números oficiais, foram 143 mortos, sem falar das perdas materiais e da
imensa insegurança que até hoje se abate naquela região. Mas quem foram os
saqueadores e assassinos que executaram esta barbárie? Não foram terroristas,
nem membros de outra facção criminosa ou partido político beligerante, mas os
próprios moradores daqueles centros urbanos, que se armaram em violência contra
seus irmãos.
Esta é mesma
lógica de Caim (Cf. Gn 4), que por inveja tirou a vida do seu irmão Abel. Tal
situação representa a violência do indivíduo contra os outros e, por isso,
contra a sociedade em desprezo ao bem comum.
Entretanto,
cabe recordar que foi o pensamento político e econômico de nossa atual
sociedade do bem-estar que gerou este mal que se irradia incontrolavelmente por
todos os lados. As definições de que “o homem é o lobo do homem” e “antes de
toda regulação estatal a sociedade é uma guerra de todos contra todos” (Thomas
Hobbes) são pensamentos negativos de liberdade que levam ao absolutismo demente
e homicida do ser humano que, ao fim, destrói a si mesmo e a tudo aquilo que
ama.
O homem,
criado a imagem e semelhança de Deus Uno e Trino, não se realiza fora da
sociedade e do amor fraterno. Assim sendo, qualquer alternativa que não seja
este caminho de comunhão e justiça será sempre falsa ou incompleta.
Recordo uma
reflexão do Papa Francisco, quando ainda era Cardeal de Buenos Aires: “Que
outro sentido pode ter a liberdade senão abrir-me para possibilidade de ‘ser
com os outros’? Para que quero ser livre se não tenho nem um cão que lata para
mim? Para que quero construir um mundo se nele eu vou estar sozinho num cárcere
de luxo? A liberdade, desde este ponto de vista, não ‘termina’, senão ‘começa’
com os demais. Como todo bem espiritual, ela é maior quanto mais partilhada
seja” (18/04/2007).
Este
princípio social, fundado na justiça e no amor, é coerente com o Evangelho de
Nosso Senhor e bem pode ser aplicado à família, à comunidade laboral, à cidade
ou qualquer outra comunidade. Contudo, para que seja realidade é preciso uma
tomada de consciência de toda a sociedade, que deve parar de educar seus
cidadãos para o individualismo e o lucro, e transmitir outros valores mais
elevados e verdadeiros. Não queremos a lógica fratricida de Caim, mas o
mandamento novo do Evangelho de Jesus Cristo.
Dom Edney Gouvêa
Mattoso
Bispo de Nova
Friburgo (RJ)
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