Seu Manuel, o
porteiro, tem um pequeno envelope nas mãos. Com um sorriso, ele me informa: Acho
que é livro, Paulo.
O envelope só tem o meu nome, escrito à mão. Nenhuma
indicação do remetente. Seu Manuel não sabe me dizer quem o deixou.
Em casa, abro cuidadosamente o envelope. Seu Manuel tinha
razão: é um livro. Um pequeno livro sobre um grande homem: "Uma Vida com
Karol — Memórias do Secretário Particular de João Paulo II". Que alegria!
Quem me enviou este livro parece ter tido acesso direto aos
meus pensamentos nos últimos dias. Começo imediatamente a lê-lo. Escrito em
linguagem clara e despretensiosa, ao sabor das recordações, o pequeno volume é
na verdade um depoimento do cardeal polonês Stanislaw Dziwisz ao jornalista
italiano Gian Franco Svidercoschi. Stanislaw foi o braço direito de Karol
Wojtyla por 39 anos — 12 em Cracóvia, 27 no Vaticano.
Percebo, logo nas primeiras páginas, tratar-se uma obra
marcada pelo sentimento de saudade. Grandes livros foram escritos assim: Platão
sentia saudade de Sócrates, São João sentia saudade de Jesus, e assim por
diante... A presença de João Paulo II, um dos maiores homens do nosso tempo,
chega a ser quase palpável no decorrer do livro.
Lendo sobre as façanhas do papa que enfrentou (e venceu) o
comunismo soviético, que lutou obstinadamente em defesa da vida e da paz, que
semeou a espiritualidade cristã em todos os continentes da Terra — percebo
então que também estou com saudade.
Em 1980, eu vi João Paulo II. Foi durante a primeira visita
do pontífice ao Brasil. Eu era um menino de dez anos; estava, ao lado de meu
pai, entre a multidão que o recebeu nas ruas de São Paulo. Karol Wojtyla passou
no papa-móvel, acenando para o povo. Para mim, foi o suficiente: eu posso dizer
que vi João de Deus.
Meses depois, no dia 13 de maio de 1981, o papa sofreu o
atentado a tiros na Praça de São Pedro. As forças do mal conheciam o poder daquele
homem e tentaram eliminá-lo. Quando, dois anos depois, o papa visitou seu Ali
Agca na prisão, o atirador só fazia perguntar e exclamar: "Quem é Fátima
para você? Eu atirei para matar!" João Paulo II nunca teve a mínima dúvida
de que Nossa Senhora de Fátima o salvou naquele 13 de maio — a mesma data da
aparição de 1917.
Um dos episódios mais fascinantes da vida de João Paulo II
foi a luta contra o comunismo ateu em sua pátria, a Polônia — primeiro como
arcebispo de Cracóvia, depois como chefe da Igreja Católica. A coragem e o
equilíbrio daquele homem, diante de um sistema de poder desumano e capaz das
piores atrocidades, servem de modelo para os dias que ora atravessamos. Nem por
isso o papa polonês deixaria de criticar a desumanização e as injustiças
causadas pelo materialismo ocidental, inimigo de toda transcendência.
Em 2018, completam-se 40 anos do conclave que elegeu João
Paulo II. No momento em que o Brasil prende a respiração em dúvida quanto ao
seu futuro, e em que os velhos inimigos da Igreja tentam enfraquecê-la para
reinar sobre o povo, este cronista de sete leitores sente a necessidade de
pedir em voz alta:
São João Paulo II, rogai por nós!
Paulo Briguet
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Folha de Londrina
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