Meu caro Leitor, permita-me partilhar com você
alguns pensamentos que brotam do meu coração nestes dias.
Realmente, o modo de agir de Deus nos
surpreende totalmente: primeiro, Ele Se revela Se escondendo. É assim na
criação, é assim na história, é assim na Igreja, é assim na vida de cada um de
nós...
Depois, vem a nós de modo pessoal, concreto,
visível, palpável, no Seu Filho, o Amado. Mas, Jesus nosso Senhor, ao
revelar-Se nos desconcerta, Se esconde, em certo sentido, porque nos cega o
entendimento!
Como assim? - pergunta-me você.
Não é Se esconder, não é dar um nó no nosso
juízo revelar-Se frágil, pobre, derrotado numa cruz, incapaz de salvar-Se?
Vimo-Lo sofredor, vimo-Lo homem de dores, vimo-Lo cravado na Cruz, vimo-Lo morto,
deixamo-Lo, cadáver, no túmulo... Mas vivo, ressuscitado, glorioso, triunfante,
não O vimos diretamente, não O tocamos em primeira mão!
– Senhor, por que é sempre assim? Por que és
como a água: quando vamos prender-Te em nossas mãos, Tu nos escapas e exiges
que creiamos? Deixas rastros, atrás de Ti deixar marcas, sinais... Mas, és
assim: revela-Te escondendo-Te, dá-Te retendo-Te para Te dares plenamente
somente na Glória final!
Eis por que o Apóstolo não hesita em afirmar
já há dois mil anos o que hoje sentimos tão forte (cf. 1Cor 1,22-25): “Os
judeus pedem sinais, os gregos procuram sabedoria; nós, porém, pregamos Cristo
crucificado, escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos”.
O sinal que Deus apresenta para Israel, o
remédio que Deus preparou para curar a violação da Lei é o Seu Filho
crucificado, morto e ressuscitado! E mais: a explicação, a resposta que Deus
continua a contrapor à humana soberba, à uma razão que pensa que se basta a si
mesma, é o Filho, que somente pode ser visto agora e agora apreendido na fé,
por quem dobra os joelhos e cala o coração!
Meu Leitor paciente e amigo, olhemos para nós,
o novo Povo de Deus, Igreja santa, Mãe católica, o Povo nascido da Morte e
Ressurreição de Cristo. Não somos mais obrigados a cumprir os detalhados
preceitos da Lei de Moisés, mas somos convidados a olhar o Crucificado, cujo
corpo macerado é o lugar do perdão e do encontro com Deus, o lugar da nova e
eterna Aliança... Olhando o Crucificado, ouçamos, mais uma vez, como Israel:
“Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair da casa da escravidão, da miséria do
pecado e da morte, da escuridão de uma vida sem sentido! Eu te dei o Meu Filho
amado! Não terás outros deuses diante de Mim!”
Compreende, Irmão? Os preceitos do Antigo
Testamento passaram; não, porém, a exigência de um coração todo de Deus, um
coração que O ame, um coração sem divisão! E, para nós, a exigência é ainda
maior, porque Israel não tinha ainda visto até onde iria o amor de Deus; quanto
a nós, sabemos: “Deus amou tanto o mundo que entregou o Seu Filho para que todo
aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a Vida eterna” (Jo 3,16).
Meu caro em Cristo, convertamo-nos! Você e eu
ergamos os olhos para o Crucificado, “Poder de Deus e Sabedoria de Deus”, e
mudemos de vida! Que nossa fé não seja fingida, superficial, descomprometida,
mundana; que nossa religião não seja simplesmente uma prática fria e sem desejo
de real conversão ao Senhor nosso! Que nunca caiamos na ilusão de deixar que
nossa fé, nossa adesão a Cristo seja medida pelo mundo, pelo politicamente
correto, pelas ideologias da moda! Cristo crucificado e ressuscitado interpreta
a julga o mundo, não o contrário!
Crer de verdade exige que nos coloquemos
debaixo do preceito de amor do Senhor! Estejamos atentos à advertência tremenda
do Evangelho: “Vendo os sinais que Jesus realizava, muitos creram no Seu Nome.
Mas Jesus não lhes dava crédito, pois conhecia a todos... conhecia o homem por
dentro” (Jo 2,24).
- Ah, Senhor Jesus! Tem piedade de nós!
Converte-nos a Ti e, depois, olha o nosso
coração convertido e dá-nos a Tua salvação!
Piedade, Senhor! Livra-nos de ser um desses,
que creem, mas não merecem a Tua confiança, porque mantêm o coração longe de Ti
e apegado ao mundo!
Na Tua misericórdia infinita, converte-nos e
conduze-nos às alegrias da Glória eterna!
A Ti a glória, Cristo-Deus, pelos séculos dos
séculos! Amém.
Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares, PE
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