No Pontifício Instituto Teológico João Paulo
II, não havia apenas os cursos de Teologia Moral Fundamental, mas também uma
Área de Pesquisa em Teologia Moral ativa desde 1990. Ainda não se sabe se esta
área será incluída no novo instituto, mas se sabe que a Teologia Moral será
“cortada”, gerando uma grande preocupação, adverte o professor Stephan
Kampowski em uma entrevista.
Stephan Kampowski é professor de antropologia
filosófica no Pontifício Instituto Teológico João Paulo II. Ao chegar a Roma
como doutorando em 2000, uniu-se ao trabalho da Área de Pesquisa. Em três
ocasiões, trabalhou como secretário organizador de um congresso ou colóquio.
Desde que assumiu o cargo de professor do Instituto, foi convidado como
palestrante em vários colóquios.
Além disso, o professor Kampowski escreveu,
juntamente com os professores José Granados e Juan José Pérez Soba, o volume
“Amoris laetitia. Acompanhar, discernir, integrar”. No renovado Pontifício
Instituto Teológico João Paulo II, ensinará “Antropologia teológica do amor” e
o curso complementar “Quem é o homem? Indivíduo, mulher e comunhão ”.
Entre os docentes, segundo as primeiras
divulgações, estarão também o professor Granados, que lecionará “Teologia do
sacramento e do matrimônio” e que, em recente entrevista ao Grupo ACI, lamentou
a eliminação dos cursos de teologia moral; e o professor Pérez Soba, que
ensinará “Pastoral do matrimônio e da família”. Mas também estarão o professor
Gilberto Marengo, que publicou um estudo imponente sobre a gênese da Humanae
Vitae, e o professor Maurizio Chiodi.
Enfim, no novo instituto estarão representados
teólogos com orientações opostas; mas não estará mais o professor Livio Melina,
que foi presidente do Instituto durante anos e que não foi considerado na nova
estrutura. Além disso, desapareceu a cátedra de Teologia Moral Fundamental que
ele lecionava.
Nesse sentido, em entrevista ao Grupo ACI, o
professor Kampowski advertiu que a cátedra de Moral Fundamental era “a mais
importante na mente do fundador do instituto, São João Paulo II”, tanto que “a
confiou ao primeiro presidente do Instituto, Carlo Caffarra, depois criado
cardeal e Arcebispo de Bolonha”.
Mas não é só isso, porque essa cátedra é tão
importante que “uma das iniciativas mais frutíferas em termos de eventos
públicos, publicações e repercussão internacional é a ‘Área Internacional de
Pesquisa em Teologia Moral’”, nascida para estar dedicada à “teologia moral
fundamental”, uma orientação que “manteve também depois da mudança de
denominação há alguns anos”.
Segundo o professor Kampowski, “os resultados
acadêmicos dessa área de pesquisa são extraordinários e visíveis para quem
quiser ver”, como “o grande número de colóquios e conferências organizados; sua
qualidade confiável, entre outras coisas, pela ampla origem internacional de
renomados conferencistas convidados e pelo alto número de participantes
qualificados ao longo dos anos; a quantidade e a qualidade das atas de conferências,
monografias e teses de doutorado publicadas em seu contexto”.
Nesse sentido, explicou que uma área de
pesquisa está destinada a “dar uma forma mais definida à missão de pesquisa de
uma instituição” e os professores são incluídos em um “projeto comum”, o que
faz com que “o trabalho deles tenda a ser mais frutífero, porque é beneficiado
pelo intercâmbio com colegas e pelas hipóteses norteadoras que são formuladas
no contexto”.
Os temas das teses também “não são escolhidos
aleatoriamente, mas se incluem em um marco mais amplo, no qual cada estudante
de doutorado desenvolve um aspecto particular de um tema mais amplo que seria
muito grande para uma pessoa desenvolver”. Enquanto isso, acrescenta Kampowski,
“os colóquios e as conferências seguem diretrizes e servem para desenvolver
essas teses”.
Em conclusão, uma área de pesquisa
institucionaliza a missão de um instituto acadêmico, “tornando o estudo mais
proveitoso”.
Recordou que a área de estudo foi estabelecida
pelo então presidente do Instituto, Angelo Scola, que mais tarde foi criado
Cardeal e Arcebispo de Milão, em 1997, e foi liderada por Livio Melina até
2013, que foi substituído por Pérez Soba.
Sobre o motivo da fundação desta cátedra, o
professor Kampowski indicou que foi a publicação da encíclica Veritatis
esplendor de São João Paulo II, “que é dedicada à moral fundamental e procura
responder à crise da teologia moral após o Concílio Vaticano II”.
“Uma crise que, em última análise, não passou
de uma consequência extrema do enfoque casuístico adotado após o Concílio de
Trento. A casuística é uma forma centrada no ato de lidar com a moralidade que
não olha a vida da pessoa como um todo”, assinalou.
Algo que leva ao “voluntarismo, que considera
as normas morais como imposições de um bem superior sobre o inferior”.
Mas, assinala o professor Kampowski, a
Veritatis splendor muda o paradigma, ressalta que a moral se refere à plenitude
da vida e que “uma norma moral é a expressão da verdade sobre o bem e, em
particular, sobre o bem da pessoa e sobre a verdadeira realização da pessoa
humana” e, portanto, existe “uma relação íntima entre verdade e liberdade”.
A encíclica também enfatiza que “o centro da
moral cristã é encontrado através do encontro com Cristo”, afirmando que “a fé
não é extrínseca à moral”.
O professor Kampowski enfatiza que a Área
Internacional de Pesquisa em Teologia Moral buscou enfrentar esses aspectos e
que um dos eventos mais bem-sucedidos são os 18 “Colóquios”, um termo preferido
para “conferência”, porque parte da ideia de troca intelectual.
Esses eventos acontecem desde 1998, uma vez
por ano, com muitos participantes ilustres. O último foi realizado em 2018 com
o tema “Reconstruir o sujeito moral cristão. Um desafio 25 anos depois da
Veritatis splendor”.
Além desses colóquios, foram realizados três
congressos internacionais sobre Veritatis splendor (2003), Evangelium vitae
(2005) e sobre a constituição pastoral Gaudium et spes (2015).
Entre os frutos, o professor Kampowski também
inclui o manual de teologia moral “Caminhar na luz do amor. Os fundamentos da
moral cristã”, escrito em 2008 pelos professores Livio Melina, José Noriega e
Juan José Pérez Soba.
Ou seja, para o professor Kampowski, o novo
estatuto evidencia que aqueles que “afirmam fortalecer e ampliar o Instituto
João Paulo II e, como primeiro passo, apagam a teologia moral fundamental do
plano de estudos do Instituto, falam não para revelar, mas para ocultar a
verdade. Depois de tudo, é pelo menos irônico falar de reforçar o instituto e
eliminar a sua parte mais vibrante.”
O professor Kampowski também enfatizou que
ainda não se sabe qual será o futuro da área de pesquisa, mas mesmo assim “o
fato da cátedra de Teologia Moral Fundamental ter sido eliminada traz maus
presságios”.
Nas últimas semanas, a mudança dos estatutos
do Instituto, a nova organização e a não renovação das cátedras dos professores
Melina e Noriega, receberam várias críticas, entre elas a carta que alunos e
ex-alunos do centro enviaram ao Grão-Chanceler, Arcebispo Vicenzo Paglia, e ao
presidente, Mons. Pierangelo Sequeri, expressando sua preocupação pelas
mudanças.
Da mesma forma, circulou uma carta aberta dos
professores dirigida também a ambas as autoridades.
O texto é assinado por professores e
pesquisadores que colaboraram na elaboração do “Dicionário sobre Sexo, Amor e
Fecundidade”, promovido pelo Instituto.
Os signatários expressaram que receberam “com
grande consternação” a notícia da “retirada” – na realidade trata-se de um
contrato não renovado – “de dois professores ordinários, José Noriega e Livio
Melina, junto a outros colegas como Maria Luisa Di Pietro, Stanisław Grygiel,
Monika Grygiel, Przemysław Kwiatkowski, Vittorina Marini, alguns dos quais são
autores do Dicionário junto conosco, sendo todos estudiosos de excelente
reputação internacional”.
Os professores indicaram que não veem “nenhum
motivo convincente de caráter científico-acadêmico, tampouco doutrinário ou
disciplinar, que justifique a retirada de seus cargos” e concluem: “Se seu
Instituto deseja manter um alto perfil acadêmico e sua reputação internacional,
rogamos-lhes que suspendam esta revogatória e reintegrem estes estudiosos ao
corpo docente do instituto”.
O professor Livio Melina foi recebido
recentemente pelo Papa Emérito Bento XVI, que sempre acompanhou o
desenvolvimento do Instituto João Paulo II.
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Centro Santo Afonso de Ligório/ ACI Digital
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