No oitavo dia de Natal, a Igreja celebra a
Solenidade de Maria, Mãe de Deus. É o dia 1º de janeiro, abertura do ano civil
e celebra-se também o Dia Mundial da Paz.
Foi o Papa Paulo VI quem transladou para o dia
1º de janeiro a festa da Maternidade divina de Maria, que antes caia no dia 11
de outubro. De fato, antes da reforma litúrgica realizada depois do concilio
Vaticano II, no primeiro dia do ano se celebrava a memoria da circuncisão de
Jesus no oitavo dia depois do seu nascimento- como sinal de submissão à lei,
sua inserção oficial no povo eleito- e no domingo seguinte se celebrava a festa
do nome de Jesus.
A piedade cristã plasmou de mil formas
diferentes a festa da Mãe de Deus que celebramos hoje! Um exemplo disso é que
inúmeras são as imagens de Maria com o Menino nos braços. A Maternidade de
Maria é o fato central que ilumina toda a vida da Virgem e é o fundamento dos
outros privilégios com que Deus quis adorná-la.
Maria é a Senhora, cheia de graça e de
virtudes, concebida sem pecado, que é Mãe de Deus e Mãe nossa, e está nos céus
em corpo e alma. A Bíblia fala-nos dela como a mais excelsa de todas as
criaturas, a bendita, a mais louvada entre as mulheres, a cheia de graça (Lc
1,28), Aquela que todas as gerações chamarão bem-aventurada (Lc 1,48).
A Igreja ensina-nos que Maria ocupa, depois de
Cristo, o lugar mais alto e o mais próximo de nós, em função da sua maternidade
divina. Diz o Concilio Vaticano II, na Lumen Gentium, 63: “Ela, pela graça de
Deus, depois do seu Filho, foi exaltada sobre todos os anjos e todos os
homens.”
Ensina S. Paulo: “Quando chegou a plenitude
dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei…” (Gl
4,4). Jesus não apareceu de repente na terra vindo do céu, mas fez-se realmente
homem, como nós, tomando a nossa natureza humana nas entranhas puríssimas da
Virgem Maria. Enquanto Deus, é eternamente gerado, não feito, por Deus Pai.
Enquanto homem, nasceu, “foi feito”, de Santa Maria. “Muito me admira –diz por
isso São Cirilo- que haja alguém que tenha alguma dúvida de que a Santíssima
Virgem deve ser chamada Mãe de Deus. Se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, por
que a Santíssima Virgem, que o deu à luz, não há de ser chamada Mãe de Deus?
Esta é a fé que os discípulos do Senhor nos transmitiram, ainda que não tenham
empregado essa expressão. Assim nos ensinaram os Santos Padres”.
“Quando a Virgem respondeu livremente Sim
àqueles desígnios que o Criador lhe revelava, o Verbo divino assumiu a natureza
humana: a alma racional e o corpo formado no seio puríssimo de Maria. A
natureza divina e a natureza humana uniam-se numa única Pessoa: Jesus Cristo,
verdadeiro Deus e, desde então, verdadeiro Homem; Unigênito eterno do Pai e, a
partir daquele momento, como Homem, filho verdadeiro de Maria. Por isso Nossa Senhora
é Mãe do Verbo encarnado, da segunda pessoa da Santíssima Trindade que uniu a
si para sempre –sem confusão- a natureza humana. Podemos dizer bem alto à
Virgem Santa, como o melhor dos louvores, estas palavras que expressam a sua
mais alta dignidade: Mãe de Deus” (São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n.
274).
“Concebendo Cristo, gerando-o, alimentando-o,
apresentando-o ao Pai no templo, padecendo com seu Filho quando morria na Cruz,
cooperou da forma inteiramente ímpar com a obra do Salvador mediante a
obediência, a fé, a esperança e a ardente caridade, a fim de restaurar a vida
sobrenatural das almas. Por isso Ela é nossa Mãe na ordem da graça” (LG,61).
Jesus deu-nos Maria como Mãe nossa no momento
em que, pregado na Cruz, dirigiu à sua Mãe estas palavras: “Mulher, eis aí o
teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí a tua mãe” (Jo 19,26-27). Desde
aquele dia, toda a Igreja a tem por Mãe; e todos os homens a têm por Mãe. Todos
entendemos como dirigidas a cada um de nós as palavras pronunciadas na Cruz.
Quando Cristo dá a sua Mãe por Mãe nossa,
manifesta o amor aos seus até o fim. Quando a Virgem Maria aceita o Apóstolo
João como seu filho, mostra o seu amor de Mãe para com todos os homens.
Hoje também é o dia Mundial da Paz. Com
espírito de misericórdia, abraçamos todos aqueles que fogem da guerra e da fome
ou se veem constrangidos a deixar a própria terra por causa de discriminações,
perseguições, pobreza e degradação ambiental.
Hoje, primeiro dia do ano, rezemos com o salmista: Deus nos dê a sua graça e nos
abençoes! Sim fomos abençoados. E se abençoados, somos chamados a ser fonte de
benção para nosso próximo. Que a saudação Feliz Ano Novo desperte em nós o
propósito de comunicar a paz e a alegria a todos!
COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
Leituras: Nm 6, 22-27; Gal 4, 4-7: Lc 2, 16-21
Meus caros irmãos e irmãs, iniciamos um novo
ano e a Igreja nos convida a confiá-lo à celeste proteção de Nossa Senhora, que
hoje a liturgia nos faz invocar com o seu título mais antigo e importante, o de
Mãe de Deus. Ainda envolvidos pelo clima
espiritual do Natal, no qual contemplamos o mistério do nascimento de Cristo,
celebramos, com estes mesmos sentimentos, a Virgem Maria.
O dogma que declara verdade de fé que Maria é
Mãe de Deus foi proclamado pelo Concílio de Éfeso, no ano 431. Maria recebeu o
nome de “Theotokos”, palavra grega que diz exatamente “Mãe de Deus”.
Para este dia a Liturgia da Palavra nos
apresenta como primeira leitura a solene bênção que os sacerdotes pronunciavam
sobre os Israelitas nas grandes festas religiosas, marcada precisamente pelo
nome do Senhor, repetido três vezes, como que para exprimir a plenitude e a
força que deriva desta invocação: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor
faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti
o seu rosto e te dê a paz!” (Nm 6,24-26).
Este texto da bênção litúrgica, de fato, evoca
a riqueza de graça e de paz que Deus concede ao homem. Trata-se de uma bênção
dada por Deus através de Moisés, a Aarão e aos seus filhos, ou seja, aos
sacerdotes do povo de Israel. É um tríplice voto cheio de luz que brota da
repetição do nome de Deus e da imagem de seu rosto. Cada repetição do santo
nome de Deus está inserido dois verbos que indicam uma ação do Senhor em favor
de cada ser humano. A paz é, portanto, o ponto culminante dessas seis ações em
prol do homem, a quem Deus dirige o esplendor da sua face. Esta bênção evoca a
riqueza de graça e de paz que o Criador concede a cada um de nós, sinal da Sua
benevolência para conosco.
A palavra bíblica “shalom”, que normalmente
traduzimos por “paz”, indica um conjunto de bens que Cristo Salvador, o Messias
anunciado pelos profetas, trouxe para cada um de nós. Por isso, reconhecemos
Nele o Príncipe da paz. Ele se fez homem e nasceu numa gruta em Belém para
trazer a sua paz aos homens de boa vontade, aos que o acolhem com fé e amor.
Neste primeiro dia do ano pedimos ao Senhor
que nos abençoe e nos conceda a paz. Todos nós desejamos viver em paz, mas a
paz verdadeira, a que é anunciada pelos anjos na noite de Natal, é antes de
tudo, dom divino que se deve implorar constantemente e, ao mesmo tempo,
compromisso que se deve levar em frente com paciência e perseverança.
O texto evangélico narra o nascimento de Jesus
e as circunstâncias que o acompanhara.
Neste contexto está o anúncio do anjo aos pastores daquela região e, ao
mesmo tempo, indica a eles os sinais para que possam reconhecer a criança. Enfim, os pastores constatam a realidade do
anúncio evangélico. Eles fazem a experiência do encontro com Deus na pessoa um
“recém-nascido deitado na manjedoura” (Lc 2.16). É justamente desse menino que
se irradia uma nova luz que brilha na escuridão da noite. Agora, é Dele que nos
vem a bênção.
E os pastores passam a ser os anunciadores da
boa nova anunciada pelo anjo (v. 17), e esta novidade da mensagem dos pastores
enche os ouvintes de admiração (v. 18).
Esses pastores, considerados impuros e de reputação duvidosa, são os
primeiros a propagar o nascimento do Salvador.
A passagem do Evangelho termina com uma menção
à circuncisão de Jesus. Como de fato, Maria, como qualquer mãe judia, leva seu
filho até o templo para que se cumpra a lei da circuncisão. Conforme a Lei de Moisés, oito dias após o
nascimento, o menino devia ser circuncidado, e nesse momento lhe era dado o
nome. O próprio Deus, através de seu Anjo, dissera a Maria e também a José, que
o nome a ser dado para a criança era “Jesus” (cf. Mt 1,21; Lc 1,31). Aquele
nome que Deus já tinha estabelecido antes mesmo que o menino fosse concebido, lhe
é dado oficialmente no momento da circuncisão. E isto marca definitivamente a
identidade de Maria: ela é a mãe de Jesus, ou seja, a mãe do Salvador.
O nome Jesus, no hebraico, significa “Deus
salva”. Jesus é o Verbo de Deus, o Filho de Deus, por isso a Igreja deu a Maria
o título de “Theotokos”, ou seja, Mãe de Deus, porque Jesus Cristo é Deus.
Certa vez, disse Filipe a Jesus: “Mostra-nos o Pai, isso nos basta” (Jo 14,8).
Ao que Jesus lhe respondeu: “Há tanto tempo estou convosco Filipe e não me conheces?”.
E o Senhor logo acrescentou: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9).
E o Evangelho acrescenta também que Maria
“conservava todas estas coisas, meditando-as no seu coração” (Lc 2, 19). Como
Ela, também a Igreja conserva e medita a Palavra de Deus, confrontando-a com as
diversas e mutáveis situações que encontra ao longo do seu caminho. O título de “Mãe de Deus”, a que hoje a
liturgia dá relevo, ressalta a missão única da Virgem Santa na história da
salvação: missão que está na base do culto e da devoção que o povo cristão lhe
reserva.
Maria deu a vida terrena ao Filho de Deus,
continua a oferecer aos homens a vida divina, que é o próprio Jesus. Por esta
razão, Maria é considerada mãe de todos os homens que nascem para a Graça e ao
mesmo tempo é invocada como a Mãe da Igreja.
Nas bodas de Caná, Maria pronuncia uma frase que pode ser considerada a
solene ordem do seu coração para os seus filhos: “Fazei tudo o que Ele vos
disser” (Jo 2,1-11). Este mandato de
Maria aos serventes em Caná da Galileia vale para todos os momentos da nossa
vida cristã.
É no nome de Maria, Mãe de Deus e dos homens,
que desde o dia 1º de Janeiro de 1968 se celebra em todo o mundo o Dia Mundial
da Paz. Ao olharmos Cristo, vindo sobre
a terra para nos dar a sua paz, nós celebramos no primeiro dia do ano o “Dia
Mundial da Paz”.
Que a Virgem de Nazaré, que hoje veneramos com
o título de Mãe de Deus, nos ajude a contemplar a face de Jesus, Príncipe da
Paz (cf. Is 9,5). Que ela nos acompanhe e nos proteja ao longo deste ano. E, com a sua poderosa intercessão, possamos
progredir no caminho do bem, da paz e da concórdia. Assim seja.
PARA REFLETIR
Caríssimos em Cristo, certamente o pensamento
mais presente neste hoje é o do início de mais um ano, que é sempre, para nós,
cristãos, Ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo; mais um ano entre a
primeira e a segunda Vinda do Senhor nosso Salvador.
Precisamente por este motivo, a primeira
leitura da Missa invocou a bênção e a paz sobre nós: “O Senhor te abençoe e te
guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a Sua Face e Se compadeça de ti! O
Senhor volte para ti o Seu Rosto e te dê a paz!” Três vezes foi pronunciado o
Nome do Senhor! Começamos bem o ano este Novo Ano!
Mas, nunca esqueçamos quem é este Senhor: é o
Menino que nos nasceu, o Filho que nos foi dado e que, precisamente, hoje, oito
dias após o Seu admirável nascimento, recebeu o nome de Jesus, que significa
Deus salva! Eis: em Jesus, Deus nos salva com a verdadeira paz, paz que brota
da comunhão com o Senhor! Que Ele inunde com Sua doce paz os dias deste Novo
Ano, criança como o Menino de Belém!
Mas, hoje, é também a Oitava do Santo Natal,
dia no qual a Igreja volta-se para a Virgem que gerou em seu seio e deu à luz o
verdadeiro Deus feito homem. Chegou a plenitude dos tempos e “Deus enviou o Seu
Filho, nascido de uma mulher”, aquela mesma que os pastores encontraram velando
o “Recém-nascido deitado na manjedoura”. Somos gratos à Virgem Santa e,
contemplando o seu filhinho, reconhecemos Nele o Deus perfeito e a proclamamos
verdadeiramente Mãe de Deus: “Salve, ó Santa Mãe de Deus! Vós destes à luz o
Rei que governa o Céu e a terra pelos séculos eternos!’ – assim canta a Igreja
hoje, saudando a Toda Santa Virgem Maria. Como exclamava São Gregório
Nazianzeno, grande Bispo e doutor da Igreja no século IV: “Nós proclamamos, em
sentido absoluto, que a santa Virgem é própria e verdadeiramente Mãe de Deus”.
Nossos irmãos orientais, de rito bizantino, no
Natal, cantam assim: “Ó Cristo, que podemos oferecer-vos como dom por vos
terdes manifestado sobre a terra na nossa humanidade? Com efeito, cada uma das
Vossas criaturas exprime a sua ação de graças, e a Vós traz: os Anjos, o seu
cântico; o céu, uma estrela; os Magos, os seus dons; os Pastores, a admiração;
a terra, uma gruta; o deserto, uma manjedoura; e nós, uma Virgem Mãe!” Eis,
pois, caríssimos irmãos, nosso presente ao Salvador: a mais bela flor de nossa
raça, a mais bendita entre as mulheres, o mais belo membro da Igreja, a Virgem
Maria!
Comprometamo-nos, então, a viver os dias do
Novo Ano com as mesmas atitudes de Nossa Senhora!
Primeiro, uma atitude de fé: ela escutou a
Palavra, ela creu de todo o coração. Foi mulher totalmente aberta ao seu Senhor.
Que neste tempo novo que hoje inicia, saibamos, também nós, viver de fé; mesmo
quando tudo parecer escuro, mesmo nos dias difíceis, mesmos nos momentos de
pranto e nossa inteligência não conseguir compreender nem nossa vista conseguir
enxergar os passos do Senhor.
Em segundo lugar, uma atitude de
disponibilidade à missão. Nossa Senhora não se furtou ao convite do Senhor, não
se acomodou numa vida centrada nos seus próprios interesses: fez-se serva,
fez-se disponível, fez-se ministra do plano salvífico do Senhor em nosso favor.
Do mesmo modo, saibamos nós discernir o que o Senhor nos vai pedir e, sem medo,
sem mesquinho fechamento, digamos-Lhe “sim”, mesmo quando tal resposta for
difícil e sofrida!
Mas, tudo isso será impossível sem uma
terceira atitude que devemos aprender da Mãe de Deus: aquela de escuta
silenciosa e contemplativa. O Evangelho nos dá conta de que Maria “guardava
todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração!” Eis! A Virgem rezava,
a Virgem pensava nos acontecimentos à luz de Deus, na presença silenciosa do
Senhor, procurando entender o sentido profundo do que acontecia ao seu redor.
Somente quem faz assim pode ver sempre Deus em todas as coisas e em todas as
circunstâncias...
Caríssimos, certamente,
haveremos de sorrir e chorar nestes dias do Novo Ano. Que lágrimas e sorrisos,
vitórias e derrotas, abraços e separações, sejam vividos na luz do Senhor, do
Menino que brilhou como Luz nas nossas trevas e que, Nele, encontremos sempre a
paz. Para tanto, em cada dia deste Novo pedaço de tempo a que chamamos ano,
valha-nos as preces da Toda Santa Mãe de Deus! Amém.
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