sábado, 8 de abril de 2017

Nós não temos outro rei, senão César


Diante de Pilatos, que perguntou aos Judeus: “Mas eu vou crucificar o rei de vocês?”; os chefes dos sacerdotes responderam: “Nós não temos outro rei, senão César” (Jo 19, 14-16).

Vivemos um tempo de muitos “césares”, de muitos reis, presentes na política, na economia, na justiça, nas organizações sociais e nas religiões. Há uma diluição do “reinado”, que é dividido, coexistente e compartilhado, disputando a aquiescência das pessoas. Diante dos massivos apelos dos múltiplos reinados, as pessoas permanecem um pouco livres ou condicionadas para aceitarem ou não a subserviência que lhes é solicitada direta, indireta ou sub-repticiamente. A aceitação ou não de um ou vários reinados parece ser determinada pela conveniência de cada pessoa ou grupo social ou pela capacidade de convencimento e persuasão de cada reinado.

Diante de Nosso Senhor Jesus Cristo, glorificado pela Cruz e Ressurreição, parece que repetimos o grito dos chefes dos sacerdotes: “Nós não temos outro rei, senão César”. Estamos contentes ou de tal modo ocupados com os reinados humanos e históricos, que não nos interessa ou não nos importa o Reino do Céu e a pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, que necessariamente não são objetivamente negados, mas ignorados, menosprezados ou não levados em consideração na organização cotidiana da vida e da sociedade.

O Rei, Nosso Senhor Jesus Cristo, e o Reino do Céu, estão sendo esquecidos também na práxis litúrgica dos batizados, que se distanciam dos sacramentos e não reconhecem e não vivem, como poderiam e deveriam, a peculiaridade dos tempos santificados. Em um número significativo de pessoas, imersas nos reinados históricos, há uma diluição da compreensão e da vivência dos tempos fortes da quaresma e do advento, com consequente relativização da Páscoa e do Natal na vida cristã, transformadas por segmentos da sociedade em ocasião de consumo e comemorações paganizadas com pouco ou nenhum vestígio do seu sentido e significado originário.

A solicitude das mídias em falar da Páscoa Judaica e das festas do Islamismo, ou de comemorações de outras religiões, não se repete na veiculação das festas cristãs; estas, algumas vezes, são mostradas de modo estereotipado e reducionista, apresentadas como fato cultural ou folclórico, um erro fatal e duro golpe, que contribui para uma reducionista ou pseudo compreensão dos mistérios centrais da fé cristã. Assim, a ignorância religiosa, total ou parcial, campeia por amplos espaços sociais. 

A ação missionária e evangelizadora dos cristãos não está conseguindo reverter esta situação de modo satisfatório, o que contribui para a diluição dos valores humanos e cristãos, com graves prejuízos para a sociedade, como o crescimento da violência, a intensificação das desigualdades sociais, o comprometimento da vida do planeta, a relativização da vida humana, a corrupção, o domínio da mentira e do individualismo pessoal, cultural e social. 

Os dias da Semana Santa, sobretudo o Tríduo Pascal, da tarde de quinta-feira santa ao Domingo de Páscoa, são “dias sagrados” para os cristãos católicos e não podem ser transformados por nós em “fim de semana prolongado” regado à peixe, chocolate e bebidas de todo tipo. O jejum e a abstinência na sexta-feira santa, o silêncio e a circunspecção do sábado santo, são atitudes pedagógicas da fé que nos auxiliam na comunhão com o Mistério de Cristo glorificado pela Cruz e Ressurreição e na solidariedade com os sofredores.

Para nós católicos, aproximar-se do sacramento da confissão e a participação na liturgia de Domingo de Ramos, o Domingo da Paixão do Senhor, na Missa da Ceia do Senhor, na Quinta-feira Santa, na Ação Litúrgica, às quinze horas da Sexta-feira Santa, na Vigília Pascal, na noite do sábado santo, e na Missa do Domingo de Páscoa, é uma necessidade vital para o dinamismo da vida de fé e não pode ser negligenciada de forma alguma em qualquer lugar em que nos encontrarmos, embora o ideal seria participarmos na paróquia que habitualmente frequentamos. 

Como são “celebrações complexas”, que exigem e envolvem muitos elementos e pessoas, os fiéis devem estar prontos em cooperar de boa vontade e com alegria para o seu desenvolvimento, renunciando, se necessário, a outras atividades ou postergando-as para outras horas não coincidentes com a celebração do Mistério da Fé. São celebrações que precisam de empenho anterior na preparação dos textos, dos cantos, dos símbolos, do espaço e utensílios, levando em conta as orientações da Igreja, e que não podem e não devem ser improvisadas. 

Tudo o que fizermos, façamos com amor e por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, a nossa Páscoa. A você uma santa e alegre Páscoa e abençoado e frutífero tempo pascal!


Dom Tomé Ferreira da Silva

Bispo de São José do Rio Preto

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