Para
o economista Frederico Melo, do Dieese, a proposta da reforma previdenciária
rompe um pacto entre as gerações, pois leva ao desencorajamento das contribuições
dos jovens que se questionam o sentido de trabalhar durante 49 anos para ter
uma aposentadoria integral.
O
fenômeno da quinquenarização da sociedade, ou seja, do quinto setor, integrado
pelos aposentados, depende do sistema solidário e de partilha entre as
gerações. Kofi Hamann que foi presidente da ONU, sempre defendeu a tese de uma
sociedade para todas as idades, de acordo com ele, ter pessoas anciãs, era um
valioso capital humano e moral. Na perspectiva da reforma atual, voltamos a
distopia (contra utopia) de Aldous Huxley, “Um maravilhoso mundo feliz”, em que
as pessoas tinham um prazo de validade para viver, depois do qual tinham que
ser sacrificadas. Um modelo que restringe direitos, precarizando os recursos da
terceira idade, terá como efeito reduzir a expectativa de vida e inviabilizar a
sobrevivência dos idosos que não tiverem amparo na sua família.
Ora,
num quadro de 13,5 milhões de desempregados, a renda familiar diminuiu, como
manter o grupo nuclear da família (país e filhos) com a necessidade (que é
dever) de amparar os idosos? Quando se priorizam os lucros de possíveis
aposentadorias privadas e não se olha para as pessoas, especialmente os mais
pobres e desprotegidos, estamos diante de uma economia sem alma que não duvida
em sacrificar o povo para fazer “caixa”.
Em
vez de ampliar as políticas de amparo e proteção para os idosos ou contar com o
apoio da cidadania deste setor em que poderíamos abrir frentes de voluntariado,
se prefere seguir a lógica do capital e da ganância. Quando pensamos que as
pessoas são problema em vez de solução, quando optamos por resolver a equação
da partilha da renda ou dos convidados à mesa eliminando direitos consagrados,
escolhemos, como afirmou a Nota da CNBB, o caminho da exclusão, da segregação e
da marginalização social. Não concordamos com esta proposta de reforma
previdenciária que tira do trabalhador a justa aposentadoria para seu
envelhecimento com paz e dignidade. Que o Senhor de todas as idades inspire as
lideranças políticas a rejeitar esta reforma descabida e arbitrária fazendo
justiça a nossos trabalhadores e aposentados.
Deus
seja louvado!
Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo Diocesano de Campos (RJ)
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