O grito crucial de Jesus na cruz, na sexta-feira da
paixão: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mateus 27, 46) retoma
todas as situações de aflição da humanidade. É expressão do medo existencial
diante morte que ocupa o lugar da vida, expressa o fim de projetos e sonhos. A
resposta a este grito vem no sábado santo, na madrugada do primeiro dia da
semana: “Ele não está aqui! Ressuscitou, como havia dito”. “Alegrai-vos” (Mt
28,6.9) É um grito de fé e de esperança. De fé, porque anuncia a
ressurreição de Cristo, acontecida uma vez para sempre, a verdade fundamental
da fé cristã; de esperança, porque anuncia aquilo que diz respeito a todos os
homens e mulheres da terra quando irão vê-lo ressuscitado na eternidade.
As constantes notícias de mortes, injustiças,
desonestidades, desilusões e tristezas fazem diminuir as esperanças. Isto
talvez, por não termos uma ideia mais clara sobre a libertação trazida por
Cristo Ressuscitado. A páscoa de Jesus Cristo inaugura a criação de uma nova
humanidade. É um fato histórico e o início da transformação global do mundo. É
um evento que transforma o sentido da história, indicando uma nova direção. Um
evento único que revela uma espera escrita no coração humano. É único porque
semelhante fato não foi documentado anteriormente.
É um acontecimento extraordinário, mas que
manifesta um desejo universal da imortalidade. A ressurreição de Cristo
responde as intuições, às esperanças de um destino humano aberto ao futuro, vem
ao encontro do desejo humano de que a morte não seja a última palavra, que a
colocação do corpo inanimado no túmulo não seja o último ato da nossa
existência.
A explosiva notícia da ressurreição de Jesus mexeu
profundamente com as frágeis esperanças humanas, permitindo ver Nele as
primícias da nossa ressurreição, a certeza de uma vida que não acabará. A
ressurreição de Cristo mostra o sentido da salvação definitiva da existência
humana, por obra de Deus e diante dele.
A realidade cotidiana de sofrimento, de violência e
de tantas aflições levanta o questionamento: onde está a mudança que Jesus
ressuscitado operou? A Páscoa de Jesus não se transforma automaticamente no
reino dos sonhos, atinge-nos no coração para nos fazer percorrer com alegria e
esperança o caminho da purificação e da autenticidade, de verificação do nosso
comportamento, que tem como meta a certeza de uma vida que não morre
mais.
O Cardeal Martini (1927+2012) outrora arcebispo de
Milão, Itália, fala que “a páscoa não nos faz passar para um mundo irreal, mas
para uma existência autêntica, uma existência de fé, de esperança, de amor: uma
fé que é fonte de alegria e de paz interior, uma esperança que é mais forte do
que as desilusões, um amor que é mais forte do que qualquer egoísmo. O
ressuscitado está conosco e, junto com ele, somos capazes de vencer o mal com o
bem, de tirar do mal o maior bem. Essa é a força e a novidade da Páscoa”.
Viver a páscoa é viver a vida nova no cotidiano da
existência.
Uma santa e abençoada Páscoa. O Senhor Jesus
ressuscitou, aleluia!
Nenhum comentário:
Postar um comentário