Chega às telas do cinema o filme “A Cabana”,
baseado no livro best-seller de mesmo nome do escritor Willian P. Young, e
muitos estão criticando ou adorando a produção. Afinal, vale a pena assistir ou
não?
Vamos partir da sinopse: “Um homem vive atormentado após perder
a sua filha mais nova, cujo corpo nunca foi encontrado, mas sinais de que ela
teria sido violentada e assassinada são encontrados em uma cabana nas
montanhas. Anos depois da tragédia, ele recebe um chamado misterioso para
retornar a esse local, onde ele vai receber uma lição de vida”.
Até
aí não há problema algum, mas a questão é que esta “lição de vida” que consta
na sinopse é na verdade um encontro deste homem atormentado com Deus. Não se
trata de uma personificação de Deus como realizada em filmes como “Todo
Poderoso”, mas a apresentação da Santíssima Trindade e a discussão sobre
diversos pontos teológicos. E é aqui onde a produção derrapa e derrapa feio.
Entendo
que o primeiro ponto a ser colocado: não é um filme católico. Eu diria mais,
ainda que se apresente como um filme de temática cristão, pelos diversos erros
teológicos não o enquadraria como um filme religioso, no máximo um filme com
muita religiosidade (até porque vemos no enredo que Deus seria contra as
religiões).
O
enredo é a tentativa de Deus em se apresentar ao homem atormentado (Mack),
curar suas feridas e estabelecer com ele um relacionamento. Ficando apenas
nestes pontos (porque da parte teológica falarei mais adiante), os momentos
entre Deus e o homem chegam a ser poéticos, que pode nos levar a questionar a
nossa relação com a Santíssima Trindade, a forma como muitas vezes queremos
conduzir as nossas vidas sem qualquer auxílio de Deus, como O culpamos quando
as coisas dão erradas, entre tantas outras situações.
Ao
mesmo tempo, temos pontos que chamaram a atenção e muitos criaram confusão e
outros que podem passar despercebidos que são realmente danosos aos desatentos.
No filme, Deus Pai é vivido por uma mulher, a ótima atriz
Octavia Spencer. O fato de ser uma “negra mulher gorda” foi alvo de muitas
reclamações. Não li o livro, mas no filme ficou bem claro para mim que Deus usa
a imagem desta mulher para facilitar o acesso a Mack, que quando criança teve
sérios problemas com seu pai que bebia muito e espancava a sua mãe e a ele
também, por isso preferiu não “aparecer” como um pai. Quando seu pai o
espancava, ele recebia carinho e atenção de uma mulher da cidade, que foi a
mesma usada por Deus para se aproximar do homem atormentado. Não se trata de
uma apresentação de que Deus é mulher, até porque em determinado momento do
filme Deus Pai toma a figura de homem quando entende ser necessário. Portanto,
acho uma discussão desnecessária neste aspecto.
Encontraram
um ator judeu com a pele morena e barba para fazer o papel de Jesus. Achei
interessante este cuidado na produção de buscar uma figura que poderia se
parecer etnicamente com o Cristo.
Já
o Espírito Santo, no filme chamado de Sarayu, é protagonizado por uma atriz
japonesa que aparece em muitos momentos com um brilho em sua volta, com a
intenção de indicar que é um espírito. Uma apresentação fraca desta pessoa da
Santíssima Trindade, não por ser uma mulher, mas porque nem de longe lembra o
consolador e inflamador das almas.
Quanto aos erros teológicos, vamos falar de alguns mais gritantes
entre vários apresentados no filme (sei que no livro tem mais coisas e algumas
estão diferentes das colocadas aqui, mas vou me limitar ao filme):
1. Humanidade de Cristo: no filme Jesus é retratado como humano,
apenas humano. Ora, sabemos que Cristo, Deus como o Pai e o Santo Espírito,
ainda que de natureza divina se fez homem, ao contrário do que o filme tenta
nos apresentar. Jesus Cristo não era humano, mas se fez homem e assumiu
novamente sua condição divina após sua ressurreição.
2. Pecado: no filme
Deus não pune o pecado porque este já é uma punição. No Catecismo da Igreja
Católica é claro que uma das penas do pecado é a privação vida eterna (§ 1472)
e condenação ao inferno, o que no filme deixa a entender que Deus não
conseguiria condenar o homem ao inferno em razão de seu amor de Pai.
3. O Pai foi crucificado com o Filho: outro grande erro. Apenas Jesus Cristo foi
crucificado. Mesmo que o Pai tenha sofrido ao ver seu Filho tratado como foi,
não que tenha sido pregado junto com Ele.
4. Cristo não quis religião: Jesus nasceu judeu, viveu como judeu e
morreu como tal, assim como disse claramente que não se fez homem para abolir a
Lei, mas para dar pleno cumprimento à ela (Mt 5, 17-18), além de que diz
textualmente que Pedro será a pedra em que edificará a sua Igreja (Mt 16, 18).
O filme tenta relativizar estes conceitos para fazer acreditar que Jesus não
queria criar uma religião, o que não é verdade.
5. O homem foi criado para ser amado: outro erro, pois sabemos que o homem foi
criado para amar primeiro a Deus e depois ao próximo como a si mesmo. Não foi
criado para ser amado, mas para amar e servir a Deus (Catecismo da Igreja
Católica, 358).
Os
conceitos apresentados no filme podem criar uma grande confusão na cabeça dos
desavisados, ao mesmo tempo em que poderá reforçar alguma ideia errada já
existente. Mesmo com a bela mensagem de que Deus nos ama e quer curar nossas
feridas, o filme cai no mesmo erro criado pelo autor do livro em tentar
destruir as religiões e criar um deus que não existe e propagar mentiras com
cara de teologia.
André Luiz de Oliveira Brandalise,
Coordenador do blog Projeções de Fé
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Cléofas
/ Com. Shalom
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