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A história de um evangélico batista que encontrou a plenitude da fé no
catolicismo
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No dia seguinte à quarta-feira de cinzas de 2012, eu liguei
para a minha mãe do meu dormitório no Seminário Teológico Batista do Sul e
contei a ela que estava pensando em me tornar católico.
"Você
não vai se tornar católico, você só sabe que não é batista", disse ela.
"Não,
mãe, eu acho que não é só isso".
Pausa.
"Ah, meu Deus", ela suspirou.
Eu
comecei a chorar.
Não
tenho como enfatizar o suficiente o quanto eu odiava a simples ideia de algum
dia virar católico. Fui reticente até o último instante. Poucos dias
antes de abandonar a Igreja batista, eu cheguei a enviar um sermão para um
concurso; estava decorando o Salmo 119 para me convencer da “sola scriptura”;
marcava reuniões com professores para ouvir os melhores argumentos contrários
ao catolicismo; lia livros protestantes sobre o catolicismo, de propósito, em
vez de livros de autores católicos.
Além
disso, eu sabia que ia perder o subsídio para moradia e teria que devolver o
valor da bolsa se abandonasse o seminário, sem falar da decepção para a minha
família, amigos e para a dedicada comunidade da igreja.
Mas
quando eu tentava estudar, desabava na cama. Tudo o que eu queria era gritar
com o livro: "Quem disse?".
Eu
tinha vivido uma grande mudança de paradigma na minha maneira de pensar sobre a
fé. E a questão da autoridade apostólica surgia mais forte do que nunca.
Mas
vamos voltar alguns anos no tempo.
Eu
cresci num lar protestante evangélico. Meu pai se tornou pastor quando eu estava na
quarta série. Durante o ensino médio, eu me apaixonei por Jesus Cristo e pelo
seu precioso Evangelho e decidi me tornar pastor também.
Foi
nessa época que eu endureci a minha convicção de que a Igreja Católica Romana
não seguia a Bíblia. Quando perguntei a um amigo pastor por que os católicos diziam
que Maria permaneceu virgem depois do nascimento de Jesus, se a Bíblia diz
claramente que Jesus teve "irmãos", ele simplesmente fez uma careta:
"Porque eles não leem a Bíblia".
O
livro “Don’t Waste Your Life” [Não desperdice a vida], de John Piper, me fez
enxergar um chamamento ao trabalho missionário. Passei o verão seguinte
evangelizando os católicos na Polônia.
Fiquei
surpreso quando visitei os meus pais, depois disso, e encontrei um livro
intitulado “Born Fundamentalist, Born Again Catholic” [Nascido fundamentalista,
renascido católico] em cima da mesa do meu pai. Por que o meu pai estaria lendo
uma coisa dessas? Fiquei curioso e, como não tinha trazido nada para ler em
casa, dei uma olhada no livro.
As
memórias de David Currie, que abandonou a sua formação e o seus ministérios
evangélicos, foram desconfortáveis para mim. Sua defesa sem remorsos de
doutrinas controversas sobre Maria e o papado eram chocantes; eu nunca tinha
pensado seriamente que os católicos tivessem argumentos sensatos e embasados
para defender essas crenças.
A
presença do livro na mesa do meu pai foi explicada com mais detalhes alguns
meses depois, quando ele me ligou e disse que estava retornando ao catolicismo
da sua juventude. Minha resposta? "Mas você não pode simplesmente ser
luterano ou algo assim?". Eu me senti traído, indignado e furioso. Nos
meses seguintes, servi como pastor de jovens na minha igreja local e, nos
tempos livres, lia sobre o porquê de o catolicismo estar errado.
Foi
quando encontrei um artigo que falava de uma "crise de identidade evangélica". O autor pintava um retrato de jovens
evangélicos crescendo num mundo pós-moderno, desejosos de encontrar as suas
raízes na história e sedentos do testemunho motivador de quem permaneceu firme
em Cristo durante épocas cambiantes e conturbadas. Mas, na minha experiência, a
maioria das igrejas evangélicas não observava o calendário litúrgico, o credo
dos Apóstolos nunca era mencionado, muitos cantos só foram escritos a partir de
1997 e, quando se contava algum relato sobre um herói da história da Igreja,
invariavelmente se tratava de alguém posterior à Reforma. A maior parte da
história cristã, portanto, passava em branco.
Pela primeira vez, eu entrei em pânico. Encontrei uma cópia
do catecismo católico e comecei a folheá-lo, encontrando as doutrinas mais
polêmicas e rindo das tolices da Igreja católica. Indulgências? Infalibilidade
papal? Esses disparates, tão obviamente errados, me tranquilizaram no meu
protestantismo. A missa me soava bonita e a ideia de uma Igreja visível e
unificada era atraente, mas... à custa do Evangelho? Parecia óbvio que o
demônio construía uma grande organização para afastar muita gente do céu.
Sacudi
a maioria das minhas dúvidas e aproveitei o restante do meu tempo me divertindo
com o grupo de jovens e compartilhando a minha fé com os alunos. Qualquer
dúvida, resolvi, seria tratada no seminário.
Comecei
as minhas aulas em janeiro, com a mesma emoção de um fanático roxo por futebol
indo para a final da Copa do Mundo. As aulas eram fantásticas e eu pensei que
tinha finalmente me livrado de todos aqueles problemas católicos.
Mas,
poucas semanas depois, mais dúvidas me assaltaram. Estávamos estudando as
disciplinas espirituais, como a oração e o jejum, e eu fiquei cismado com a
frequência com que o professor pulava de São Paulo para Martinho Lutero ou
Jonathan Edwards ao descrever vidas admiráveis de piedade. Será possível que
não aconteceu nada que valesse a pena nos primeiros 1500 anos do cristianismo?
Este salto na história continuaria me incomodando em muitas outras aulas e
leituras propostas. A maior parte da história da Igreja anterior à Reforma era
simplesmente ignorada.
Eu
logo descobri que tinha menos em comum com os padres da Igreja primitiva do que eu pensava. Diferentemente
da maioria dos cristãos na história, a comunhão sempre tinha sido, para mim,
apenas um pouco de pão e suco de uva ocasionais e o batismo só me parecia
importante depois que alguém tinha sido "salvo". Esses pontos de
vista não apenas contradiziam grande parte da história da Igreja, mas, cada vez
mais, evocavam passagens desconfortáveis da Bíblia que eu sempre tinha
desdenhado (João 6, Romanos 6, etc.).
Outras
perguntas que eu tinha enterrado começaram a reaparecer, mais ferozes, exigindo
uma resposta. De onde foi que veio a Bíblia? Por que a Bíblia não se
autoproclamava "suficiente"? As respostas protestantes, que tinham me
bastado no passado, já não eram satisfatórias.
Foi
lançado nesse tempo um vídeo viral de Jefferson Bethke no YouTube, "Por
que eu odeio a religião, mas amo Jesus". O jovem tinha boas intenções,
mas, para mim, ele apenas validava o que o Wall Street Journal tinha chamado de
"perigosa anarquia teológica dos jovens evangélicos", tentando
separar Jesus da religião e perdendo muito no processo.
O
ponto de inflexão foi a quarta-feira de cinzas. Uma igreja batista em
Louisville realizou uma cerimônia matutina e muitos estudantes compareceram às
aulas com as cinzas ainda na testa. Na capela, naquela tarde, um professor
famoso pelo empenho apologético anticatólico expôs a beleza dessa tradição
milenar.
Depois
disso, eu perguntei a um amigo do seminário por que a maioria dos evangélicos
tinha rejeitado essa linda tradição. Ele respondeu com alguma coisa sobre
fariseus e "tradições meramente humanas".
Eu
balancei a cabeça. "Não, eu não consigo mais".
A
minha resistência ao catolicismo começou a se desvanecer. Eu me sentia atraído
pelos sacramentos, pelos sacramentais, pelas manifestações físicas da graça de
Deus, pela Igreja una, santa, católica e apostólica. Não havia mais como negar.
Foi no
dia seguinte que eu liguei para a minha mãe e contei a ela que estava pensando
em me tornar católico.
Faltei
às aulas da sexta-feira. Fui para a biblioteca do seminário e olhei os livros
que eu tinha me proibido de olhar, como o catecismo e os últimos textos do papa
Bento XVI. Eu me sentia como se estivesse vendo pornografia. No sábado, fui à
missa das cinco da tarde. O grandioso crucifixo da igreja me fez lembrar de
quando eu considerava os crucifixos um prova de que os católicos não tinham
mesmo entendido a ressurreição.
Mas desta vez eu vi o crucifixo de modo diferente e comecei a
chorar. "Jesus, meu Salvador sofredor, Tu estás aqui!".
A paz
tomou conta de mim até a terça-feira, quando a realidade me atropelou. Fico ou
vou? Fiz vários telefonemas em pânico: "Eu literalmente não tenho ideia do
que eu vou fazer amanhã de manhã".
Na
quarta-feira de manhã, eu acordei, abri meu laptop e digitei "77 razões
pelas quais estou deixando de ser evangélico". A lista incluía coisas como
a “sola scriptura”, a justificação, a autoridade, a Eucaristia, a história, a
beleza e a continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento. Os títulos e os
parágrafos fluíam dos meus dedos como a fúria das águas que explodem uma
represa secular.
Poucas
horas depois, em 29 de fevereiro de 2012, eu saí de Louisville para evitar
confundir mais alguém e esperando que eu próprio não estivesse cometendo um
erro.
Os
meses seguintes foram dolorosos. Mais do que qualquer outra coisa, eu me sentia
envergonhado e na defensiva, indagando de mim mesmo como é que a minha
identidade e o meu plano de carreira tinham se deixado abalar tão rapidamente.
Mesmo assim, eu entrei para a Igreja no dia de Pentecostes com o apoio da minha
família e comecei a procurar trabalho.
Muita
coisa mudou desde então. Eu conheci Jackie no site CatholicMatch.com naquele
mesmo junho. Casei com ela um ano depois e comemoramos o nascimento da nossa
filha Evelyn em 3 de março de 2014. Vivemos agora no Estado de Indiana e eu
estou feliz no meu novo trabalho.
Ainda
sou novato nesta jornada católica. Para todos os que ainda se questionam, eu
posso dizer que o meu relacionamento com Deus só tem se aprofundado e
fortalecido. Enquanto vou me envolvendo com a paróquia, me vejo muito grato pelo
amor à evangelização e à Bíblia que aprendi no protestantismo.
Não
acho que eu tenha abandonado a minha fé anterior, mas sim que eu consegui
preencher as suas lacunas. Hoje eu dou graças a Deus por ter recebido a
plenitude da fé católica.
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Fonte: Aleteia
Autor: Anthony Baratta
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