O governo
israelense reagiu com irritação à decisão do ministro das Relações Exteriores
do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, de chamar de volta ao país para consultas o
embaixador em Tel Aviv, Henrique Sardinha Filho. O Brasil foi o segundo país a
tomar essa decisão depois do Equador, na semana passada. Em nota oficial, a
chancelaria israelense expressou “desapontamento” com a decisão do governo do
Brasil:
“A decisão não reflete o nível de relacionamento entre os países
e ignora o direito de Israel de se defender. Passos como esse não contribuem
para promover a calma e a estabilidade na região. Ao contrário, dá respaldo ao
terrorismo e, naturalmente, afeta a capacidade do Brasil de exercer influência.
Israel espera apoio de seus amigos em sua luta contra o Hamas, que é
reconhecido como uma organização terrorista por muitos países pelo mundo”.
— Essa é uma infeliz demonstração de porque o Brasil, um gigante
econômico e cultural, se mantém um anão diplomático. O relativismo moral por
trás dessa medida transforma o Brasil num parceiro diplomático irrelevante, que
cria problemas em vez de contribuir para soluções — disse à imprensa israelense
o porta-voz da chancelaria, Yigal Palmor.
O embaixador de Israel em Brasília, Rafael Eldad, disse ao
GLOBO, que o governo de seu país está surpreso e decepcionado com a atitude do
governo brasileiro. Lembrado que o principal argumento usado pelo Itamaraty foi
a morte de centenas de civis palestinos, boa parte mulheres e crianças, na
Faixa de Gaza, Eldad afirmou:
— (As autoridades brasileiras) só veem um lado. Não vimos, uma
única vez, qualquer menção do Hamas. Nossa expectativa era de pelo menos uma
palavra de simpatia, de compaixão para com os civis israelenses, que também
estão sob fogo de foguetes e mísseis. Foi uma surpresa. Como sabemos, nenhum
país do mundo atuou desta maneira.
Eldad, que na última quarta-feira foi chamado ao Itamaraty para
ouvir que o governo brasileiro está desapontado como a “desproporcionalidade”
na ofensiva de Israel na região, disse que a população do país não consegue
mais ter uma vida normal. Lembrou que todo o tráfego aéreo foi paralisado por
causa do Hamas, “esse grupo terrorista”.
— Não vimos nenhuma crítica (do Brasil) citando claramente o
nome do Hamas. Não vimos simpatia ou solidariedade — disse ele.
O diplomata afirmou ainda não saber o que levou o governo
brasileiro a agir dessa maneira. Enfatizou que o Brasil sempre teve uma relação
de amizade e diálogo sincero e aberto com Israel. E deu a entender que esse
tipo de atitude reduz a possibilidade de uma participação mais ativa nas
negociações entre Israel e Palestina para um acordo de paz duradoura.
Eldad conversou com O GLOBO por telefone, momentos depois de
presenciar, em frente à embaixada, uma manifestação contra seu país.
— E muito triste que existam brasileiros que apoiam e glorificam
o terrorismo e alimentam o ódio. Graças a Deus são muito poucos, em torno de 20
a 25 pessoas — disse o diplomata, que reside há três anos em Brasília e deve
deixar o Brasil nos próximos dias.
Na conversa de quarta-feira, o embaixador Figueiredo demonstrou
a Rafael Eldad seu descontentamento quanto à situação na Faixa de Gaza. Em
seguida, o ministério emitiu uma nota oficial explicando por que chamou o
embaixador em Tel Aviv de volta.
“O Governo brasileiro considera inaceitável a escalada da
violência entre Israel e Palestina. Condenamos energicamente o uso
desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza, do qual resultou elevado
número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças. O Governo brasileiro
reitera seu chamado a um imediato cessar-fogo entre as partes”.
Na nota, o Itamaraty explica porque o Brasil votou na
quarta-feira a favor da criação de uma comissão de inquérito para investigar
supostos crimes de guerra de Israel numa votação do Conselho de Direitos
Humanos das Nações Unidas (UNHRC, na sigla em inglês), em Genebra: “Diante da
gravidade da situação, o Governo brasileiro votou favoravelmente a resolução do
Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas sobre o tema, adotada no dia de
hoje”.
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Fonte: O Globo
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