Por que
o Hamas não aceitou o cessar-fogo proposto pelo Egito e aceito por Israel?
Primeiro, porque o grupo possui uma série de divisões internas tanto entre as
lideranças na Faixa de Gaza como entre eles e os líderes do grupo no exílio.
Cada um deles tem um interesse político distinto que em grande parte das vezes
não leva em consideração a situação dos palestinos.
Em segundo lugar, o Hamas imaginou que as condenações da
comunidade internacional jogariam a seu favor. Sem dúvida, até Israel concordar
com o cessar-fogo, os israelenses vinham sendo condenados por uma reação
considerada desproporcional por entidades como a ONU e mesmo governos aliados
como Grã Bretanha e França. Até os EUA pediam ao governo de Benjamin Netanyahu
para conter os ataques, que mataram mais de 180 pessoas, incluindo mulheres,
crianças e bebês de colo, além de destruir inclusive hospitais.
Mas Netanyahu aceitou o cessar-fogo, batendo de frente com membros
extremistas de sua coalizão do governo, como Naftali Bennet e Avigdor Lieberman
– o primeiro, inclusive, é contra a criação de um Estado palestino. Isto é, o
premiê cedeu mais às pressões externas do que às pressões domésticas. Ao Hamas
bastava concordar com o cessar-fogo e negociar os termos em 48 horas no Egito.
Não aceitou e manteve o lançamento de foguetes em direção a Israel. Agora
ficará mais difícil para a comunidade internacional condenar Netanyahu.
Terceiro, de uma forma infantil, o Hamas tentará vender a ideia de
que os israelenses cederam porque perderam o conflito. Seria uma busca de se
posicionar como o Hezbollah depois da Guerra do Líbano em 2006. Mas o grupo
libanês realmente possuía argumentos para vender uma ideia de vitória pois
centenas de israelenses, inclusive muitos militares, foram mortos no conflito –
claro, mais libaneses morreram e grande parte do país foi destruído nos
bombardeios israelenses. O Hamas até agora parou no escudo de defesa de Israel.
Quarto,
o Hamas afirma que queria também o fim do bloqueio. Mas este argumenta não se
sustenta para o cessar-fogo inicial. O fim do bloqueio deveria ser negociado no
Cairo durante a trégua de 48 horas.
Por último, algumas facções do Hamas até torcem por uma incursão
por terra de Israel, apesar de saberem que isso multiplicará o número de
mortos. O motivo? Nesta ação israelense, poderiam capturar um ou mais
militares, como ocorreu com Gilad Shalit, e trocá-lo por palestinos presos em
Israel.
Gustavo Chacra
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Fonte: Estadão
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