Entre as coisas
admiráveis (inter mirífica)
de nossa época, estão “aqueles meios que não só por sua natureza são capazes de
atingir e movimentar os indivíduos, mas as próprias multidões e a sociedade
humana inteira, como a imprensa, o cinema, o rádio, a televisão e outros deste
gênero, que por isto mesmo podem ser chamados com razão de Instrumentos de
Comunicação Social” (Decreto do Vaticano II).
O Vicariato de
Comunicação Social e a Assessoria de Imprensa da Arquidiocese do Rio de Janeiro
confirmam as palavras do documento conciliar. Os meios de comunicação, e também
as forças políticas, foram capazes de movimentar se não multidões em número
(pois muitos católicos apoiaram a primeira decisão da Arquidiocese), ao menos o
“espírito de multidão”. Com efeito, parece que, com este espírito, os órgãos arquidiocesanos,
sensíveis ao jornalismo e ao mundo artístico carioca, reverteram o parecer da
nossa querida Arquidiocese sobre o veto ao uso da estátua do Cristo Redentor do
Corcovado, na cena do filme em que um ator termina suas lamúrias ao símbolo
religioso mais famoso do Rio com um gesto obsceno (uma “banana”, conforme o
declarado no Globo há cerca de duas semanas). Dizia ontem a respeito do artigo
de Bellotto: “diurnarius
diurnarium fricat”.
Que
dizer dos achincalhes, da falsa doutrina, do deboche, do vilipêndio contra os
católicos que pulularam no Globo com as matérias de Cora Rónai, Arnaldo Bloch,
Frei Betto, Tony Bellotto, além dos próprios envolvidos no filme?
Esperamos
que a Comissão de Doutrina da Fé da Arquidiocese reafirme as belas mensagens da
fé cristã que foram “vilipendiadas” nesses artigos. Os Evangélicos, que não têm
imagens em seus templos, hão de estar ofendidos e admirados (“mirífici”) com a
decisão do Vicariato e da Assessoria de Imprensa da Arquidiocese. Eles nunca
imaginariam que católicos pudessem recuar assim no tema em pauta, especialmente
porque estes, com certa razão, e num passado recente, clamaram contra um pastor
que chutara a imagem da Virgem, a Mãe do Redentor.
Lamento
por ter participado com a Arquidiocese, da propaganda do filme em pauta, ainda
que involuntariamente. Lamento ademais por ser um filme de José Padilha, que
ainda não disse a que veio no cinema nacional, ou melhor, disse, na ordem da
movimentação de verba, mas seus filmes não trazem grande interesse à vida do
espírito. Contudo, guardarei na memória, do Globo de hoje, a mais consequente
proposta defendida por Padilha em resposta à generosidade da nossa
Arquidiocese: “Não há espaço para a censura religiosa em países civilizados,
que respeitem a liberdade de expressão e a crítica aberta de ideias. Resta
saber se a sociedade carioca e a prefeitura vão agir para formalizar
juridicamente a ideia de que o direito sobre a imagem do Cristo pertença a
todos, como deve ser o caso para monumentos desse tipo”.
Carlos Frederico Gurgel Calvet da Silveira
Presidente do Centro Dom Vital
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Fonte: Centro Dom Vital
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