quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Papa Francisco aos cristãos Iraquianos: Vocês estão no coração da Igreja que sofre com vocês



 CATEQUESE  
Praça São Pedro – Vaticano  
Quarta-feira, 3 de setembro de 2014



Queridos irmãos e irmãs, bom dia.



Nas catequeses anteriores, tivemos a oportunidade de confirmar uma vez mais que não nos tornamos cristãos por si só, isso é, com as próprias forças, de modo autônomo, nem nos tornamos cristãos em laboratório, mas se gerados e feitos crescer na fé dentro daquele grande corpo que é a Igreja. Neste sentido, a Igreja é realmente mãe, a nossa mãe Igreja – é belo dizer assim: a nossa mãe Igreja – uma mãe que nos dá a vida em Cristo e que nos faz viver com todos os outros irmãos na comunhão do Espírito Santo.



1.                  Nesta sua maternidade, a Igreja tem como modelo a Virgem Maria, o modelo mais belo e mais alto que se pode ter. É o que as primeiras comunidades já colocaram à luz e o Concílio Vaticano II expressou de modo admirável (cfr Const. Lumen gentium, 63-64). A maternidade de Maria é certamente única, singular, e se realizou na plenitude dos tempos, quando a Virgem deu à luz o Filho de Deus, concebido por obra do Espírito Santo. E, todavia, a maternidade da Igreja coloca-se propriamente em continuidade com aquela de Maria, como um prolongamento seu na história. A Igreja, na fecundidade do Espírito, continua a gerar novos filhos em Cristo, sempre na escuta da Palavra de Deus e na docilidade ao seu desígnio de amor. A Igreja é mãe. O nascimento de Jesus no seio de Maria, de fato, é o início do nascimento de cada cristão no seio da Igreja, do momento que Cristo é o primogênito de uma multidão de irmãos (cfr Rm 8, 29) e o nosso primeiro irmão Jesus nasceu de Maria, é o modelo, e todos nós nascemos na Igreja. Compreendemos, então, como a relação que une Maria e a Igreja é tão profunda: olhando para Maria, descobrimos a face mais bela e mais terna da Igreja; e olhando para a Igreja reconhecemos os traços sublimes de Maria. Nós, cristãos, não somos órfãos, temos uma mãe, temos uma mãe, e isto é grandioso! Não somos órfãos! A Igreja é mãe, Maria é mãe.



2.                  A Igreja é nossa mãe porque nos gerou no Batismo. Toda vez que batizamos uma criança, torna-se filho da Igreja, entra na Igreja. E daquele dia, como uma mãe atenta, nos faz crescer na fé e nos indica, com a força da Palavra de Deus, o caminho de salvação, defendendo-nos do mal.



A Igreja recebeu de Jesus o tesouro precioso do Evangelho não para retê-lo para si, mas para doá-lo generosamente aos outros, como faz uma mãe. Neste serviço de evangelização, manifesta-se de modo peculiar a maternidade da Igreja, empenhada, como uma mãe, em oferecer aos seus filhos o alimento espiritual que alimenta e faz frutificar a vida cristã. Todos, portanto, somos chamados a acolher com mente e coração abertos a Palavra de Deus que a Igreja a cada dia oferece, porque esta Palavra tem a capacidade de nos mudar de dentro. Somente a Palavra de Deus tem esta capacidade de nos mudar bem de dentro, das nossas raízes mais profundas. A Palavra de Deus tem esse poder. E quem nos dá a Palavra de Deus? A mãe Igreja. Ela nos amamenta desde criança com esta Palavra, ensina-nos durante toda a vida com esta Palavra e isto é grandioso! É justamente a mãe Igreja que, com a Palavra de Deus, nos muda de dentro. A Palavra de Deus que nos dá a mãe Igreja transforma-nos, torna a nossa humanidade não palpitante segundo a mundanidade da carne, mas segundo o Espírito.


Na sua solicitude materna, a Igreja se esforça em mostrar aos crentes o caminho a percorrer para viver uma existência fecunda de alegria e de paz. Iluminados pela luz do Evangelho e apoiados pela graça dos Sacramentos, especialmente a Eucaristia, nós podemos orientar as nossas escolhas para o bem e atravessar com coragem e esperança os momentos de escuridão e os sentimentos mais tortuosos. O caminho de salvação, através do qual a Igreja nos guia e nos acompanha com a força do Evangelho e o apoio dos Sacramentos, nos dá a capacidade de nos defendermos do mal. A Igreja tem a coragem de uma mãe que sabe ter que defender os próprios filhos dos perigos que derivam da presença de satanás no mundo, para levá-los ao encontro com Jesus. Uma mãe sempre defende os filhos. Esta defesa consiste também em exortar à vigilância: vigiar contra o engano e a sedução do maligno. Porque mesmo que Deus venceu satanás, este volta sempre com as suas tentações; nós sabemos disso, todos nós somos tentados, fomos tentados e somos tentados. Satanás vem “como leão que ruge” (1 Pt 5, 8), diz o apóstolo Pedro, e cabe a nós não sermos ingênuos, mas vigiar e resistir firmes na fé. Resistir com os conselhos da mãe Igreja, resistir com a ajuda da mãe Igreja, que como uma boa mãe sempre acompanha os seus filhos nos momentos difíceis.



3.                  Queridos amigos, esta é a Igreja, esta é a Igreja que todos amamos, esta é a Igreja que eu amo: uma mãe que tem no coração o bem dos próprios filhos e que é capaz de dar a vida por eles. Não devemos nos esquecer, porém, que a Igreja não é só os padres, ou nós bispos, não, somos todos! A Igreja somos todos! De acordo? E também nós somos filhos, mas também mães de outros cristãos. Todos os batizados, homens e mulheres, juntos somos a Igreja. Quantas vezes nas nossas vidas não damos testemunho desta maternidade da Igreja, desta coragem materna da Igreja! Quantas vezes somos covardes! Confiemo-nos, então, a Maria, para que Ela, como mãe do nosso irmão primogênito, Jesus, nos ensine a ter o seu mesmo espírito materno nos confrontos dos nossos irmãos, com a capacidade sincera de acolher, de perdoar, de dar força e de infundir confiança e esperança. É isto o que faz uma mãe.



Boletim da Santa Sé Tradução: Jéssica Marçal

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