terça-feira, 2 de setembro de 2014

Guerras do século XX - Teologia da história (1)




O 2014 é um ano para se lembrar de eventos muito tristes para a humanidade: em agosto, cem anos do início da Primeira Guerra Mundial; o 1º de setembro, 65 anos do início da segunda.

O Papa Bento XV (1914-1922) na sua primeira encíclica ("Ad beatissimi Apostolorum Principis, 1º de Novembro de 1914), exprime a sua dor frente à guerra: "O terrível fantasma da guerra domina por todo lado [...]Nenhum limite às ruínas, nem às matanças. Cada dia a terra banha-se de sangue novo, recobrindo-se de mortos e feridos [...] É preciso diligentemente agir para extirpar tais desordens relembrando os princípios do cristianismo” (n. 4).

O próprio Papa, Falando aos Cardeais, chamou-a: "um suicídio da Europa" (4 de março de 1916), “a mais tenebrosa tragédia da loucura humana” (4 de dezembro 1916).

Pio XI (1922-1939) morreu poucos meses antes do início da segunda. Observando as densas nuvens de tempestade que já invadiam o céu da humanidade, na rádio mensagem do 29 de setembro de 1938, disse que oferecia sua vida com tal de afastar o novo conflito: "Esta vida que o Senhor nos concedeu, nós, de todo o coração, a oferecemos para a saúde e paz do mundo”.

Mas as boas intenções dos dois Pontífices não foram ouvidas. O ódio e a arrogância submeteram a razão e o diálogo.

Os livros escritos sobre o primeiro conflito lembram os terríveis massacres realizados e milhões de pessoas mortas.

Para a segunda guerra as recordações estão mais frescas. Calcula-se que o custo geral da guerra foi de um bilhão de dólares (da época) e os mortos entre militares e civis são calculados em 55 milhões. Surge a pergunta: do que valeu tudo isso?

Mas uma outra, ainda mais terrível, surge: é possível que tudo isso aconteça novamente? Se após a segunda guerra não aconteceram outras "guerras mundiais”, estima-se que aconteceram cerca de 150 ‘guerras locais’, causando outras devastações e mortes.

Aqui é urgente analisar a história por trás dos bastidores da oficialidade e da conveniência para analisar as causas intrínsecas que produziram tudo isso e que abriram o mundo dos cemitérios.

Descobrimos, assim, que as verdadeiras causas residem no coração do homem. É neste profundo humano que se deve descer para uma remoção e purificação. As causas apresentadas nos livros de história não são as ‘verdadeiras’, mas só a ‘consequência’ daquela desarmonia existencial que faz o ser humano prisioneiro e o priva da sua racionalidade.

Jesus disse: "É do Coração que saem as más intenções: homicídios, adultérios, imoralidade, roubos, falsos Testemunhos e calúnia" (Mt 15, 19).

Para entender aquele conflito dialético, ajuda também reler aquela página de São Paulo sobre o antagonismo entre as obras da carne e aquelas do espírito: “as obras da carne são: imoralidade sexual, impureza, devassidão, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, ciúmes, iras, intrigas, discórdias, facções, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes” (Gálatas 5, 19-21).

Mas não é necessário recorrer à Bíblia. Já a sabedoria antiga nos ilumina.

"A arrogância, quando dá os seus frutos, produz a espiga do erro, e a messe que se recolhe é feita só de lágrimas” (Ésquilo, Os Persas, v, 821 s). Esquilo demonstrou que um fato não é causal mas é consequência de atitudes mentais e de escolhas do coração.

Heródoto tentou penetrar na história. Fez residir a felicidade não na glória e riqueza, mas na honestidade; o homem é e continua fraco apesar da abundância numérica das forças bélicas, mesmo nos momentos de glória encontra-se "humano". O que se vê é apenas a chama; mas o jogo que o acende se encontra no mal que se esconde nas profundezas da alma. (Cf . Heródoto, As Histórias, episódio de Sólon e Creso, Livro I, 30-32; episódio Artabano e Xerxes, Livro VII, 46).

Cícero desceu ao abismo: "As paixões, ou distúrbios da alma, produzem infelicidade, enquanto que a calma faz o homem feliz [...] Está bem o que é honesto. Segue-se que a felicidade da vida está contida apenas na honestidade. Não é necessário, portanto, chamar e considerar bens aquelas coisas pelas quais se pode ser totalmente infelizes embora tendo-as em abundância "(Cicero, Tusculanarum Disputationum, Livro V, 15 e 43). Em outro escrito: "Os homens, assim como muitos para muitas outras características, especialmente por esta somente, se diferencia dos animais: têm a razão [...] Seguindo os impulsos básicos amamos tudo o que é verdadeiro, ou seja, leal, simples, constantes, e odiamos o que é vão, falso, enganoso, como a fraude, o perjúrio, a maldade, a injustiça "(Cícero, de finibus honorum et malorum, Livro II, 14, 45 s.).

O provérbio diz: a gota que transbordou o copo. Esta gota pode ser detectada em vários fatores. É preciso analisar não só aquela gota que saiu, mas todas aquelas que encheram o copo.

Os séculos XIX e XX podem ser considerados como os séculos do 'Super': super-estado (Hegel), super-homem (Nietzsche), super-eu (Freud). É a eterna tentação de ir além de colocar-se acima dos outros.

Hegel, Marx, Schopenhauer, Stirner, Nietzsche, Freud, Rosenberg: os principais responsável das matrizes culturais da guerra. As armas são movidas pelas paixões humanas. Todas essas correntes de pensamento têm ajudado a desenvolver uma cultura de morte.
_______________________________
Fonte: ZENIT

Nenhum comentário:

Postar um comentário