quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Guilherme de Sá: "O laico Brasil precisa de Deus"






Desde 1988, a banda Rosa de Saron trilha uma estrada que a leva a um lugar de consagração na música católica – e também secular – no Brasil. Na última edição do prêmio Louvemos o Senhor!, realizado em junho deste ano, o grupo ganhou em sete categorias, entre elas melhor música e DVD do ano.

Formada por Guilherme de Sá (voz), Eduardo Faro (guitarra), Rogério Feltrin (baixo) e Grevão (bateria), o Rosa compõe letras profundas, resgatadas de uma vivência humana fincada no coração de Cristo. Por aí caminha o sucesso da banda, que atrai uma juventude sedenta de plenitude.

O termo rosa de Saron aparece no livro do Cântico dos Cânticos como uma expressão simbólica de Jesus Cristo, o Amado que desposa a Sua Igreja: ‘Eu sou a rosa de Saron, o lírio dos vales’. (Cânt 2,1). Esta Rosa traz ao coração da humanidade aquilo que de mais sublime se busca: o amor eterno e invencível, que é o próprio Cristo.

É neste conceito que Guilherme de Sá, casado há 4 anos e com uma filha, mergulha para viver e cantar. Ele concedeu entrevista a Zenit, em meio à correria de shows no Brasil para a divulgação do álbum Cartas ao Remetente. Como ícone para a juventude católica, Guilherme revela histórias e opiniões sobre música católica, testemunho de vida, religião, política e eleições, em meio a um cenário de expectativas na realidade do país. 

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Zenit: A banda Rosa de Saron levou sete prêmios na última edição do Troféu Louvemos o Senhor. Em 26 anos de caminhada, qual o segredo de tanto sucesso, sobretudo com os mais jovens?

Guilherme: O mesmo segredo que faz um profissional de qualquer área obter êxito no que faz: dedicação e amor. Não demorou muito para percebermos o verdadeiro valor disso, logo, tratamos o Rosa de Saron com muito zelo. Parece discurso feito, mas é a pura verdade. A banda é uma parte importante das nossas vidas e cuidamos dela na mesma proporção. O jovem vem neste embalo, ele respira vida, então colocamos vida no que fazemos. Este é o nosso maior troféu.

Conseguiram vencer as críticas a respeito das letras, que falam de Deus de uma forma mais implícita?

Para quem aprecia a banda, sim. Para quem nos detesta, não. Então a resposta desta pergunta é não. Mas não procuramos nos apoiar na aceitação, até porque nesta hora cai muito bem aquela frase: "Toda unanimidade é burra". Não pretendemos viver uma alienação, nós escrevemos experiências íntimas, sinceras. Sempre que lançamos algo, este algo diz muito pra gente. Então costumamos dizer que somos quatro caras de muita sorte por fazermos o que gostamos e podermos ter um público que se identifica com o nosso gosto. Isso não tem preço. A liberdade não tem preço.

Para ser um bom cantor católico é necessário viver o que se canta. Como você encara a missão e vocação de cantor sendo referencial para a juventude católica? Como é sua relação com Deus?

Primeiro que eu não "cutuco a onça com vara curta". A carne é fraca para todos. Não faço aventuras. Não me envolvo com ninguém distante da minha família. Não tenho amigos, não tenho MSN, WhatsApp. Minha família me basta muito e eu sou muito feliz por tê-los ao meu lado. Faço isso exatamente por saber o peso que meu nome leva, cansei de ouvir histórias de gente grande na Igreja se perdendo por aí, queimando seu ministério. Essas histórias vêm a granel, infelizmente. E, infelizmente, muitos perdem a fé por apoiá-la nos homens. A Igreja é santa, é onde podemos apoiar nossa fé, é isso que professo no Credo. Acho que é por aí que temos de ir. As pessoas não são espólios de guerras, são almas que passam por nossos dedos. 

Segundo: A minha relação com Deus é muito pessoal, não a uso para autopromoção, ninguém sabe quanto rezo ou quanto doo. Meu chamado são minhas músicas, é onde expresso minha fé e é assim que gostaria de ser lembrado. 


O Rosa esteve na Jornada Mundial da Juventude, onde lançou o DVD Latitude Longitude. Qual foi a sensação de estar lá, cantando para o maior público da vida de vocês? Conseguiram falar com o Papa?

Imagina, quem dera falarmos com o Papa, ele deve é ter tapado os ouvidos nas nossas apresentações e dado graças a Deus quando nos retiramos (risos). Mas, falando sério, ainda não temos a dimensão do feito, já se passou mais de um ano da jornada e o que ficou é uma sensação de sonho. Nós somos uma banda muito pequena para um feito tão grande, fica um imenso sentimento de gratidão a quem nos escalou. Estar diante daquele homem santo fazendo o que gostamos de fazer foi indescritível, então paro por aqui.

O Papa Francisco fala de ir às periferias existenciais. As músicas do Rosa visitam estas periferias nos corações de quem escuta. São muitos os casos de conversões pessoais depois de ouvir alguma música da banda. Qual caso você guarda com mais carinho?

Não tenho um preferido, tenho vários. Impressiona o número de coisas trágicas que chegam pra gente. São casos que me ajudam a entender se estamos no caminho certo ou não. Já pensei em parar várias vezes, mas muitas vezes essas histórias me seguraram aqui. Já compus várias músicas pensando nelas serem um presente para determinadas histórias, tipo: "Tomara que você, fulano, a ouça... Pensei em você, viu?"

 As letras das músicas do Rosa são fortes, profundas. De onde vem tanta inspiração?

Posso falar apenas por mim, já que compomos de maneiras diferentes entre nós. Sou exigente comigo mesmo, tenho um padrão pessoal de qualidade que me irrita muitas vezes. Eu faço uma pré-produção lírica enorme. Tudo que penso, vejo e leio, eu anoto. Simples assim. Quando vou escrever sobre um tema, tenho várias visões ou formas de escrever. Então misturo com o que vivo e com o que a melodia me inspira (já que componho primeiro a melodia, depois a letra). Tenho um gosto musical muito definido. Então, tudo isso tem de fazer muito sentido para mim, antes de qualquer coisa, senão engaveto a música e vou pra outra. Acho nossas canções nota sete. No máximo.

Em junho do ano passado, milhares de jovens foram às ruas. Entre as diversas reivindicações, houve pedidos de maior investimento em saúde e educação. O que você achou de tudo aquilo?

Achei lindo, um sonho! Então a política apoderou-se muito rapidamente de tudo e eu voltei a sentir aquela sensação de impotência que impera sobre mim há anos. O que me faz ter vontade de abandonar o país não é o bandido da favela. É o de terno, que não investe em educação porque sabe que quanto mais burros estiverem nas urnas, melhor para eles. É um ciclo vicioso.

Por outro lado, as manifestações juvenis indicam uma busca por uma mudança maior, talvez uma mudança de vida. Do que a juventude brasileira realmente precisa?

Precisa descer do salto e parar de se achar a mais legal, a mais bonita e a mais esperta. Somos legais sim e os outros também o são. Precisamos estar sempre no primeiro lugar? O Brasil está na UTI faz tempo. Só uma educação muito bem planejada e realizada pode mudar este país, mas está longe de acontecer. Neste assunto, esta geração está perdida, talvez a próxima inspire algo. O laico Brasil precisa de Deus.

Como deve ser traçado um caminho de mudança?

Não sei, talvez sabendo que revolução sem sangue não é revolução, é militância. Somos uma nação de fortões que ameaça a irmãzinha pequenina e quando ela nos dá um tabefe a gente sai chorando, gritando. Nunca houve (ou há muito tempo não há) uma guerra aqui que pudéssemos chamar de nossa. Não sabemos o verdadeiro valor de paz e guerra, apesar do terror do tráfico e da insegurança, desta guerrilha que vivemos diariamente.
Acredito que tudo começa com uma boa família, bons amigos, bons estudos. Pode mudar sim, quando entendermos que trânsito é lugar de cordialidade e não de direito. Que o nosso direito começa onde termina o direito do outro.

Estamos a poucos dias das Eleições. Como você encara a situação política do Brasil?

Como um circo. Tenho amigos no picadeiro da política e torço para que eles consigam algo para o nosso povo. Alguns são extremamente honestos. Mas um apartidário como eu tem de ser o último a tocar neste assunto, deixo isso para os que tem fé (ou interesses) na política. 

Este cenário político também deixa em voga três delicadas questões, que também dizem respeito à juventude: aborto, homossexualidade e família. O que você pensa sobre cada um destes temas?

Penso que tudo conspira contra a família. O lobby hoje é a favor do prazer momentâneo, não do amor duradouro. Acho que precisamos compreender as fases da vida e saber que há uma responsabilidade em tudo o que fazemos. Interromper uma vida é fácil, ser um “João sem braço” e fingir que está em voga é simples. Mas se o estado não define aborto como crime (ou futuramente não definirá), Deus define e o perpetuou nos dez mandamentos. Aí talvez a falta de um braço do João faça toda a diferença perante o julgamento final.

É difícil fazer parte de uma geração que se acostumou "a tirar o seu da reta". Graças a Deus minha mãe optou por mim, consequentemente existe um Guilherme, mas veja, foi uma guerreira, me criou sozinha. Venho de uma família pobre, meu avô quando bêbado era violento, ela teve tudo para escolher o atalho e escolheu o caminho. Deixou a muleta para quem precisava dela. 

Hoje todos querem uma para apoiar sua covardia. Todos em busca de um álibi.

Partindo desta realidade, quais os maiores desafios do Rosa de Saron daqui pra frente?

De compreender que o mundo mudou ao mesmo tempo em que a fé não. Que muda todos os dias. Isso não é apenas para o Rosa na minha vida, mas para minha vida como pai de família. É preciso lidar com a verdade do outro, acolher seu sofrimento e deixar que a nossa realidade transforme primeiro a nós. É preciso adorar a Deus, amar a Igreja. Este é o desafio de uma banda amada e odiada, às vezes por quem não dá valor ao amanhã. "É preciso amar como se não houvesse amanhã", lembra? Somos apenas canais de algo maior, muito maior. 

"É necessário que Ele cresça e eu diminua.” Esta sempre foi a minha passagem predileta da Bíblia, então quando encerrar o ciclo, acho que tudo terá valido muito a pena. Obrigado pela entrevista.

Conheça mais sobre o Rosa de Saron: www.rosadesaron.com.br
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Fonte: ZENIT

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