CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 10 de agosto de 2014
Queridos irmãos e irmãs, bom dia
No nosso
itinerário de catequeses sobre a Igreja, estamos nos concentrando em considerar
que a Igreja é mãe. Na última vez, destacamos como a Igreja nos faz crescer e,
com a luz e a força da Palavra de Deus, nos indica o caminho da salvação e nos
defende do mal. Hoje gostaria de destacar um aspecto particular desta ação educativa
da nossa mãe Igreja, isso é, como ela nos ensina as obras de misericórdia.
Um bom educador
aponta para o essencial. Não se perde nos detalhes, mas quer transmitir aquilo
que realmente conta para que o filho ou aluno encontre o sentido e a alegria de
viver. É a verdade. E o essencial, segundo o Evangelho, é a misericórdia. O
essencial do Evangelho é a misericórdia. Deus enviou o seu Filho, Deus se fez
homem para nos salvar, isso é, para nos dar a sua misericórdia. Jesus diz isso
claramente, resumindo o seu ensinamento para os discípulos: “Sede
misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 36). Pode existir um
cristão que não seja misericordioso? Não. O cristão necessariamente deve ser
misericordioso, porque isto é o centro do Evangelho. E fiel a este ensinamento,
a Igreja só pode repetir a mesma coisa aos seus filhos: “Sede misericordiosos”,
como o é o Pai, e como o foi Jesus. Misericórdia.
E então a Igreja
se comporta como Jesus. Não faz lições teóricas sobre amor, sobre misericórdia.
Não difunde no mundo uma filosofia, uma via de sabedoria… Certo, o Cristianismo
é também tudo isso, mas por consequência, reflexo. A mãe Igreja, como Jesus,
ensina com o exemplo, e as palavras servem para iluminar o significado dos seus
gestos.
A mãe Igreja nos
ensina a dar de comer e de beber a quem tem fome e sede, a vestir quem está nu.
E como faz isso? Com o exemplo de tantos santos e santas que fizeram isto de
modo exemplar; mas o faz também com o exemplo de tantos pais e mães, que
ensinam aos seus filhos que aquilo que sobra para nós é para aqueles a quem
falta o necessário. É importante saber isso. Nas famílias cristãs mais simples,
sempre foi sagrada a regra da hospitalidade: não falta nunca um prato e uma
cama para quem tem necessidade. Uma vez uma mãe me contava – na outra diocese –
que queria ensinar isto aos seus filhos e dizia a eles para ajudar e dar de
comer a quem tem fome; ela tinha três filhos. E um dia, no almoço – o pai
estava fora a trabalho, estava ela com os três filhos, pequenos, 7, 5 e 4 anos,
mais ou menos – e bateram à porta: era um senhor que pedia o que comer. E a mãe
lhe disse: “Espere um minuto”. Entrou e disse aos filhos: “Há um senhor ali que
pede o que comer, o que fazemos?”. “Demos a ele o que comer, mãe, demos a ele!”.
Cada um tinha no prato um bife com batatas fritas. “Muito bem – disse a mãe –
peguemos a metade de cada um de vocês e demos a ele a metade do bife de cada
um”. “Ah não, mãe, assim não é bom!”. “É assim, você deve dar do seu”. E assim
esta mãe ensinou aos filhos a dar de comer da própria comida. Este é um belo
exemplo que me ajudou muito. “Mas não me sobra nada…”. “Dai do teu!”. Assim nos
ensina a mãe Igreja. E vocês, tantas mães que estão aqui, sabem o que devem
fazer para ensinar aos seus filhos para que partilhem as suas coisas com quem
tem necessidade.
A mãe Igreja
ensina a estar próximo de quem está doente. Quantos santos e santas serviram
Jesus deste modo! E quantos simples homens e mulheres, a cada dia, colocam em
prática esta obra de misericórdia em um quarto de hospital, ou de uma casa de
repouso, ou na própria casa, ajudando uma pessoa doente.
A mãe Igreja
ensina a estar próximo a quem está preso. “Mas, padre, não, isto é perigoso, é
gente má”. Mas cada um de nós é capaz… Ouçam bem isto: cada um de nós é capaz
de fazer a mesma coisa que aquele homem ou aquela mulher que está na prisão
fez. Todos temos a capacidade de pecar e de fazer o mesmo, de errar na vida.
Não é pior que eu ou você! A misericórdia supera todo muro, toda barreira e te
leva a procurar sempre a face do homem, da pessoa. E é a misericórdia que muda
o coração e a vida, que pode regenerar uma pessoa e permitir a ela inserir-se
de modo novo na sociedade.
A mãe Igreja
ensina a estar próximo de quem está abandonado e morre sozinho. É aquilo que
fez a beata Teresa pelos caminhos de Calcutá; e aquilo que fizeram e fazem
tantos cristãos que não têm medo de estender a mão para quem está prestes a
deixar este mundo. E também aqui a misericórdia dá paz a quem parte e a quem
fica, fazendo-nos sentir que Deus é maior que a morte e que permanecendo Nele
mesmo a última separação é um “até logo”… Beata Teresa havia entendido bem
isto! Diziam a ela: “Madre, isto é perder tempo!”. Encontrava gente morrendo
pelo caminho, gente que começava a ter o corpo comido por ratos das ruas, e ela
os levava para casa para que morressem limpos, tranquilos, acariciados, em paz.
Ela dava a eles o “até logo”, a todos estes… E tantos homens e mulheres como
ela fizeram isto. E eles os esperam, ali [aponta para o céu], na porta, para
abrir a porta do Céu. Ajudar as pessoas a morrer bem, em paz.
Queridos irmãos
e irmãs, assim a Igreja é mãe, ensinando aos seus filhos as obras de
misericórdia. Ela aprendeu este caminho com Jesus, aprendeu que isto é o
essencial para a salvação. Não basta amar quem nos ama. Jesus diz que isso o
fazem os pagãos. Não basta fazer o bem a quem nos faz o bem. Para mudar o mundo
para melhor é necessário fazer o bem a quem não é capaz de nos retribuir, como
o Pai fez conosco, doando-nos Jesus. Quanto pagamos pela nossa redenção? Nada,
tudo de graça! Fazer o bem sem esperar nada em troca. Assim fez o Pai conosco e
nós devemos fazer o mesmo. Faça o bem e siga adiante!
Que belo é viver
na Igreja, na nossa mãe Igreja que nos ensina estas coisas que Jesus nos
ensinou. Agradeçamos ao Senhor, que nos dá a graça de ter como mãe a Igreja,
ela que nos ensina o caminho da misericórdia, que é o caminho da vida.
Agradeçamos ao Senhor.
Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
Disponível: Canção Nova
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