No último
domingo do mês de setembro celebramos o Dia Nacional da Bíblia. A Igreja no
Brasil dedica este mês à Bíblia. A motivação deste mês temático vem do fato de
a Igreja celebrar em 30 de setembro a memória do grande santo e doutor da
Igreja, São Jerônimo, que, a pedido do Papa Dâmaso (366-384), preparou a
tradução da Bíblia em latim, a partir das línguas originais. Foi um trabalho
gigantesco, que demandou muitos anos e estudos. São Jerônimo dizia que quem não
conhece os Evangelhos não conhece Cristo.
São Jerônimo
(347-420), chamado de “Doutor Bíblico”, nasceu na Dalmácia e educou-se em Roma;
é um dos Padres da Igreja Latina; sabia o grego, o latim e o hebraico. Viveu
alguns anos na Palestina como eremita. Em 379, foi ordenado sacerdote pelo
bispo Paulino de Antioquia; foi ouvinte de São Gregório Nazianzeno e amigo de
São Gregório de Nissa. De 382 a 385 foi secretário do Papa São Dâmaso. Pregava
o ideal de santidade entre as mulheres da nobreza romana (Marcela, Paula e
Eustochium) e combatia os maus costumes do clero. Na figura de São Jerônimo
destacam-se a austeridade, o temperamento forte, o amor à Igreja e à Sé de
Pedro.
Conhecer a
Palavra de Deus é fundamental para todo cristão. A Carta aos hebreus diz que “a
Palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois
gumes, e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e
discerne os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4,12). Jesus conhecia
profundamente o Antigo Testamento. Isso é o suficiente para que todos nós
façamos o mesmo. Na tentação do deserto, Ele venceu o demônio lançando em seu
rosto, por três vezes, a santa Palavra. Quando o tentador pediu que Ele
transformasse as pedras em pães para provar Sua filiação divina, Jesus lhe
disse: “O homem não vive só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor”
(Dt 8,3c).
É preciso
acolher, ler e estudar a Bíblia todos os dias! O Papa Francisco insiste sempre
em levarmos no bolso (e nos aplicativos) um exemplar do Evangelho para ler
durante o dia onde quer que estejamos. Isso nos faz aquecer a alma com um
trecho dela; e saber usá-la nos momentos de dor, dúvida, angústia, medo etc.
Abra a Palavra, deixe Deus falar a seu coração. E fale com Deus; é a maneira
mais fácil de rezar (Leitura, Meditação, Oração e Contemplação). O Espírito
Santo nos ensina essa verdade pela boca do profeta Isaías; cuja boca tornou
“semelhante a uma espada afiada” (Is 49,2): “Tal como a chuva e a neve caem do
céu e para lá não voltam sem ter regado a terra, sem a ter fecundado e feito
germinar as plantas, sem dar o grão a semear e o pão a comer, assim acontece à
Palavra que minha boca profere: não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter
executado a minha vontade e cumprido a sua missão” (Is 55,10).
A Palavra de
Deus é transformadora, santificante! São Paulo explica isso a seu jovem
discípulo Timóteo, com toda convicção: “Toda a Escritura é inspirada por Deus,
e útil para ensinar, para persuadir, para corrigir e formar na justiça” (2Tm
3,16). Ela é, portanto, um instrumento indispensável para a nossa santificação.
Não conseguiremos ter “os mesmos sentimentos de Cristo” (Fl 2,5) sem ouvir,
ler, meditar, estudar e conhecer a sua santa Palavra. São Jerônimo dizia que
“quem não conhece o Evangelho não conhece Jesus Cristo”. Jesus nos ensina que
“a Escritura não pode ser desprezada” (Jo 10,34). São Paulo recomendava a
Timóteo: “aplica-te à leitura da Palavra” (1Tm 4,13). Ela não é palavra humana,
mas “palavra de Deus... que age eficazmente em vós” (1Ts 2,13).
Jesus é a
própria Palavra de Deus, o Verbo de Deus que se fez carne (Jo 1,1s). “No livro
do Apocalipse, São João viu o Filho do homem”… “e de sua boca saía uma espada
afiada, de dois gumes” (Ap 1,16). É o símbolo tradicional da irresistível
penetração da Palavra de Deus. Além da leitura, é muito importante aprofundar o
conhecimento das escrituras. Cada ano, no Brasil, no Mês da Bíblia somos
convidados a aprofundar um dos livros bíblicos. É preciso estudar a Bíblia,
fazer um curso bíblico ou outros tipos de aprofundamento para que não caiamos
em fanatismos e fundamentalismos. Ela não é um livro de ciência, mas, sim, da
revelação da vontade de Deus para nossa salvação.
É a Igreja quem
tem o serviço de interpretar os textos bíblicos. E isso é feito de maneira
especial através do Sagrado Magistério, dirigido pela cátedra de Pedro (o
Papa), e da Sagrada Tradição Apostólica, que constitui o acervo sagrado da
Igreja e de tudo quanto o Espírito Santo lhe revelou no passado e continua
fazendo no presente. (Jo 14, 15.25; 16, 12-13). Conduzidos pelo Espírito
e alicerçados no Magistério poderemos caminhar com segurança, acolhendo a
Palavra de Deus em nossas vidas: “Quando vier o Paráclito, o Espírito da verdade,
ensinar-vos-á toda a verdade” (Jo 16,13a).
Que a leitura
orante (lectio divina) juntamente com o aprofundamento e conhecimento
das Sagradas Escrituras neste mês temático nos ajude ainda mais a amar as
Escrituras e encontrar, na revelação, Jesus Cristo Nosso Senhor, nossa vida e
salvação. A Ele queremos seguir e anunciar aos irmãos e irmãs. Ele é a Palavra
que se fez carne e veio habitar no meio de nós! N’Ele está a vida e a salvação!
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
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