Hoje é muito mais importante uma refutação
filosófica (racional) do espiritismo que uma refutação teológica extraída da
Sagrada Escritura, tão desprestigiada está a teologia.
Cumpre, em primeiro lugar, dizer que a
metempsicose defendida por Platão e fundamentada em mitos e mistérios
escatológicos da antiguidade deve-se ao fato de o filósofo não ter conseguido
explicar bem o conhecimento humano a partir dos sentidos e, então, propor a
teoria do mundo das ideias, segundo a qual o conhecimento se daria por
recordação e, consequentemente, só ser possível se a alma fosse preexistente.
Ademais, Platão não soube explicar bem a união entre a alma e o corpo. Para
ele, no homem não há uma união substancial entre corpo e alma. Concebe o corpo
como um cárcere da alma. Aliás semelhante equívoco foi defendido por Orígenes
que dizia serem as almas preexistentes e, por castigo de uma culpa grave, se
transformavam em demônios ou se uniam a corpos materiais.
Ao contrário, Aristóteles e Santo Tomás de
Aquino explicaram o conhecimento humano com base na distinção entre
conhecimento sensível e conhecimento intelectivo. No homem não há ideias
inatas; a alma não é preexistente, o conhecimento não se dá por recordação nem
iluminação (salvo uma revelação sobrenatural), mas a partir dos sentidos. A
alma (ou princípio vital) é a forma do corpo; é ela que organiza o corpo de um
ser vivo e lhe garante uma unidade em suas operações. Como forma substancial de
um ser vivo, a alma não pode informar senão o corpo do qual é forma, não pode
encarnar em outro corpo, porque é parte constitutiva do homem.
Como explana de modo admirável o Padre Enrico
Zoffoli em sua obra Principi di Filosofia: “Toda alma difere das outras da sua espécie segundo
a determinada e inconfundível porção de matéria que é destinada a informar.
Trata-se de uma distinção profunda, que a caracteriza como substância
absolutamente única, inédita, irrepetível. E acrescenta logo a seguir: “À luz
da genética pode-se dizer que a individuação deriva de uma entre milhares de
bilhões de combinações dos cromossomos maternos com os paternos que fixam o
código genético da cada zigoto. Portanto, as diferenças entre as almas dependem
da relação de cada uma à particular constituição do corpo ao qual Deus a
destina em sintonia (misteriosa) com a causalidade desenvolvida pelos
respectivos genitores. (…) Resulta que não seria humana uma alma que, por
absurdo, não se relacionasse a um determinado corpo” (o. c. p. 325).
Por conseguinte, é um desarrazoado e contra
os dados da ciência genética afirmar que a alma possa reencarnar em diferentes
e sucessivos corpos.
O espiritismo, independentemente da boa fé
das pessoas que por ignorância o abraçaram como uma filosofia de vida, é uma
grave ofensa ao Deus Criador. Efetivamente, a alma humana, por ser imaterial, é
incorruptível e após a morte está sob o domínio de Deus, aguardando o Juízo
Final e a ressurreição da carne para voltar a unir-se ao corpo de que é a
forma. É uma injuria ao Criador, é uma forma de magia diabólica pretender
evocar uma alma para entrar em comunicação com os homens aqui na Terra. Nisto
só pode haver charlatanismo ou ocasião para que o demônio possa enganar as
pessoas que ousam desobedecer à lei de Deus que interdiz tal prática. Ademais,
a crença no espiritismo e suas diversas práticas como as mesas falantes,
mediunidade etc levam muitas pessoas a perder a sua própria identidade, a não
saber mais quem elas são depois de terem “incorporado” tantos espíritos . É,
portanto, um grande mal para o homem, também.
Nós católicos, nestes tempos de grande
confusão de ideias, de ignorância religiosa, em que parece que os homens,
cansados da verdade que lhes impõe graves responsabilidades diante de Deus e do
próximo, correm atrás de fábulas e novidades, devemos permanecer firmes na
doutrina católica tradicional, na qual não há lugar para nenhuma fantasia perturbadora
da nossa mente , mas sempre plena harmonia entre a fé e a razão.
_____________________________________
A Fé Explicada
Nenhum comentário:
Postar um comentário