quarta-feira, 9 de julho de 2014

Copa: depois do pesadelo, a hora é de acordar e pensar no futuro

Mesmo se conquistar outros cinco títulos,
a seleção pentacampeã mundial nunca poderá apagar o vexame.

Foi mais do que uma derrota. Um massacre. Uma humilhação sem precedentes. O 'Maracanazo' de 1950 ficou para trás, e a goleada por 7 a 1 para a Alemanha pode ser um novo divisor de águas na história da seleção brasileira, que precisa se reinventar.

O 'Rei' Pelé afirmou no Twitter poucas horas depois do desastre que o Brasil vai conquistar o 'hexa' em 2018, na Rússia, mas para isso muito trabalho precisa ser feito. Depois da ressaca, é preciso ter consciência de que o 'Mineiratzen' deixa clara a necessidade de uma revolução no futebol brasileiro.


Mesmo se conquistar outros cinco títulos, a seleção pentacampeã mundial nunca poderá apagar o vexame de ver novamente frustrado o sonho de levantar o troféu em casa, numa derrota dessa magnitude.


"Poderíamos ficar marcados positivamente pelo resto da vida, e vai acontecer o contrário. Vamos ficar marcados pelo resto da vida por um 7 a 1. Um resultado que acabou com nosso sonho e de todos os brasileiros", resumiu Thiago Silva, que não jogou no Mineirão por estar suspenso.


Problemas na base


Quando foi perguntado sobre que lição o Brasil poderia tirar da humilhação, Daniel Alves cobrou mudanças profundas na gestão do esporte no país.


"O futebol brasileiro precisa evoluir, num contexto geral. A gente tinha pela frente uma equipe muito bem posta, foi possível notar o tempo de trabalho e a qualidade que resultou desse trabalho", explicou o lateral do Barcelona.


"O futebol no Brasil e seu entorno precisam melhorar", insistiu.


Os problemas começam na base, onde técnicos preferem incentivar um futebol físico, sem espaço para criatividade, para buscar resultados a curto prazo ao invés de valorizar as maiores riquezas do futebol brasileiro: o talento natural, a improvisação e a imprevisibilidade.


"Precisamos rediscutir a formação de jogadores e a educação, não só da vida, como do esporte. A base precisa ser revista. Os jogadores não podem ser olhados apenas como um objeto de negócio. O grande legado que a Alemanha deixa para gente é que não se faz um grande time sem formação", declarou Ricardo Caetano, diretor de futebol do Vasco, em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo.


Pela sua história, o Brasil continua sendo visto como o país do futebol, mas, para muitos, o futebol-arte morreu em 1982, quando Sócrates, Zico, Falcão, Cerezo e companhia foram vencidos por 3 a 2 por uma Itália pragmática e implacável.


Depois do fiasco da Copa do Mundo de 2010, com derrota de virada por 2 a 1 para a Holanda nas quartas de final, o estilo 'durão' de Dunga foi criticado e Mano Menezes foi chamado para dar uma nova identidade à seleção.


Mano até que tentou dar uma renovada ao apostar na 'geração olímpica', mas algumas incoerências e a derrota para o México na final dos Jogos de Londres-2012 levaram os dirigentes da CBF a demiti-lo para convocar o conhecido Luiz Felipe Scolari, que levou o Brasil ao penta em 2002. Como coordenador técnico foi contratdo Carlos Alberto Parreira, treinador do tetra de 1994.


O
s dois títulos tiveram uma coisa em comum: a seleção jogou bem, mas não encantou a torcida.

Futebol previsível


Para dar a volta por cima depois do desastre de terça-feira, não basta ter um técnico vencedor. A seleção precisa de uma comissão técnica com um projeto de jogo que faz jus à história do futebol brasileiro, e, sobre tudo, acompanha o movimento do futebol moderno.

O título da Copa das Confederações, no ano passado, com vitória por 3 a 0 sobre a Espanha na final, devolveu a confiança ao torcedor, mas o jogo, baseado na agressividade e na pressão no campo do adversário, com um número excessivo de faltas, acabou se tornando previsível. Ao mesmo tempo, a Alemanha impressionou pela inteligência tática e a movimentação exemplar.


Neste Mundial, a seleção chegou às semifinais, mas em nenhum momento convenceu, e ainda mostrou uma fragilidade emocional pela qual acabou pagando caro no primeiro tempo contra a Alemanha, quando ficou perdida em campo e levou quatro gols em seis minutos.


"Quando a gente saiu atrás do placar, acho que a gente não estava preparado para esse cenário. Tivemos alguns minutos de blecaute. Queríamos ir para frente, mas estávamos um pouco desorganizados", admitiu o zagueiro Dante, que espera ver nessa derrota "um aprendizado".


"Temos que esfriar a cabeça agora e conversar entre nós para ver o que podemos melhorar", resumiu.



Para melhorar, o Brasil precisa reencontrar sua identidade.
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Fonte: Aleteia

Um comentário:

  1. Outro ponto importante a respeito deste assunto, meus prezados, é o fato de que toda a nação, impulsionada pela mídia delirante e irresponsável, vinha incutindo maciçamente na cabeça desses pobres jovens atletas que eles tinham obrigação de conquistar aquela taça, a começar pelo próprio treinador, que o vinha afirmando há mais de ano.

    "A seleção é a pátria de chuteiras": eis a máxima estúpida que ouvíamos a todo instante, nos meios de comunicação, nas ruas, em todo canto... Ao invés de entrarem em campo conscientes de que iriam disputar apenas e tão somente uma partida esportiva, para curtir o momento e fazer o que mais sabem e gostam, aqueles garotos carregavam uma pressão absurda, desnecessária e imensa sobre os ombros. Pelas lágrimas fáceis, pelo pranto desatado a todo instante e pela expressão de pavor mal disfarçado em seus olhos, qualquer observador mais atento podia ver: cada um daqueles atletas carregava o mundo nas costas, oprimido por uma obrigação estapafúrdia.

    Se as coisas estivessem colocadas em seus devidos lugares, se fosse permitido a esses pobres coitados enxergar a simples verdade, isto é, que tudo não passa de um jogo (o nome já diz), uma competição esportiva, uma disputa que deve ser entre cavalheiros, certamente o resultado teria sido outro.

    Poderiam ser superados, sim, pelos admiráveis atletas alemães, mas por certo não se daria um vexame homérico como este, não haveria toda a humilhação que de fato houve. A seleção brasileira, se caísse, tombaria com honra.

    Infelizmente, porém, hoje este nosso povo parece que deposita todas as suas melhores esperanças num campeonato de futebol, como se uma vitória pudesse nos resgatar, nos salvar, nos remir de toda a corrupção, toda a desonestidade, falta de educação, indignidade e lama em que vivemos mergulhados.

    E aí, dá-lhe demonstração de idiotice, como vaiar hino nacional alheio, cantar "Sou brasileiro", e "Neymar, Neymar" em jogos de outras seleções, vaiar os maiores craques dos outros países, como Messi e Robben... Desrespeito e despeito puro. E a babaquice não para por aí. Os brasileiros também torcem pela vitória dos times mais fracos, para não ter que disputar os próximos jogos com as equipes mais fortes...

    Abro meu coração: muitas vezes, em muitas situações, sim, eu sinto vergonha de ser brasileiro. Muita. Não temos noção de meritocracia, queremos obter tudo pela sorte, ou pelo jeitinho, ou pela malandragem, ou, até, com a ajuda dos deuses. – Haja vista a postura dos jogadores brasileiros quando a decisão vai para os pênaltis: todos de joelhos, clamando ajuda dos Céus... Que vergonha. Ao invés de trabalhar duro e se contentar em fazer o melhor, resignando-se com o fato de que o melhor sairá vitorioso no final, rezamos para que Deus nos garanta a vitória, de qualquer jeito....

    Será que esses coitados realmente acreditam que o Deus Todo-Poderoso se dignaria a favorecer este ou aquele time de futebol? Será que Deus não prefere, simplesmente, que vença o melhor, o mais digno, o mais bem preparado, aqueles que sabem dar o devido valor a cada coisa? Aqueles que entendem que futebol não é a coisa mais importante do Universo?

    Precisamos crescer, povo brasileiro, e muito.

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