Galileu Galilei é o nome que sai
automaticamente da boca de todos aqueles que desejam apresentar a Igreja
Católica como inimiga do progresso científico. Infelizmente, poucas são as
pessoas que se dedicam a estudar os fatos; a maioria se conforma em crer piamente
naquilo que ouviu dizer na escolinha ou na TV. Pior ainda são os pseudo-sabidos
que querem se exibir com base em “conhecimentos” adquiridos em sites furrecas.
São essas pessoas que nutrem um grande preconceito contra a Igreja, e perpetuam
as mentiras sobre o caso Galileu.
Entretanto, os fatos, documentalmente
provados, mostram que Galileu teve seus dias de glória em Roma. Esse católico
devoto – que morreu em paz em sua casa, fiel à Igreja – foi inicialmente
aclamado pelo clero por suas descobertas. Mas o que mudou para que a a relação
entre ele o clero se azedasse? É o que veremos hoje.
Galileu pop-star
Galileu defendia que a Terra girava em
torno do próprio eixo e em volta do Sol, assim como os demais planetas do
sistema Solar; o primeiro a propor essa teoria não foi ele, mas sim o padre
Nicolau Copérnico. Então, você aí que vive dizendo que Galileu queria
provar que a Terra era redonda, tome tento: até o mais analfabeto dos homens
medievais estava careca de saber que a Terra era uma esfera (saiba mais aqui).
Pouco antes de morrer, em 1543,
Copérnico foi incentivado por membros do alto clero para publicar seus estudos.
Publicou, então, o célebre “De revolutionibus” e o dedicou ao Papa Paulo III.
Por mais de 60 anos – reparem nisso – a
teoria heliocêntrica de Copérnico circulou livremente em toda a Europa, sem
qualquer restrição.
Em 1610, Galileu entra em cena. Seu
grande mérito foi o de, com seu telescópio, ter feito observações
importantíssimas, que pareciam confirmar as afirmações de Copérnico sobre o
movimento da Terra. Suas descobertas no campo astronômico foram mais do que
reconhecidas pela Igreja: em 1611, Galileu foi
recebido com uma festa no Colégio Romano dos padres jesuítas. Era uma homenagem
pública entusiasmada e sincera; se não o fosse, teriam colocado veneno na
bebida do astrônomo ou teriam chamado Fernanda Takai para cantar, culminando o
show com um solo de guitarra do Chimbinha – aí era morte por indigestão, na
certa!
Pelas ruas de Roma, Galileu era só
sucesso. Apesar de suas muitas rugas, por onde ele passava, as marias-luneta
(versão mais sofisticada das marias-chuteira) gritavam: “Lindo. Tesão. Bonito e
gostosão!”. Caio Castro perdia. Mas o grande homem não estava satisfeito.
Galileu estava determinado a fazer com que suas conclusões fossem aceitas como
verdade científica, e não como mera hipótese astronômica.
Qual foi a treta?
Faltou humildade e bom-senso de ambos
os lados. Galileu tentou provar o movimento da Terra com base nas marés, e
nisso mandou muito mal; obviamente, foi ridicularizado. O fato é que Galileu não tinha elementos irrefutáveis para comprovar sua tese. Não sei bem se por
ansiedade ou por arrogância, tomou as objeções à sua tese como ofensas pessoais
e, imprudentemente, dizia que a interpretação que
os teólogos faziam da Bíblia estava errada. Aí começou a treta…
Talvez Galileu estivesse muito seguro
de si, na sua condição de afilhado do Papa e amigo de membros do alto clero.
Assim, começou uma campanha para cobrar da Igreja uma interpretação não-literal
do trecho da Bíblia que parece sugerir que é o Sol que gira em torno da Terra.
“O sol se levanta, o sol se põe;
apressa-se a voltar a seu lugar; em seguida, se levanta de novo.” (Eclesiastes 1,5).
Galileu acertou ao
dizer que as Escrituras não pretendem ser um tratado de ciências naturais.
Porém, errou ao armar um barraco tão grande sem ter provas científicas para lhe
sustentar (e ele sabia que não tinha). O astrônomo já era um homem velho, e
tinha pressa; talvez não suportasse a ideia de que não viveria para ver sua
tese ser comprovada. De fato, o movimento de translação da Terra só seria
fisicamente provado no século XVIII, por meio dos estudos de James
Bradley sobre a “aberração da luz”; e a prova definitiva da rotação da
Terra só viria no século XIX, com o pêndulo de Foucault.
Se fosse feita alguns séculos antes, é
bem possível que a sugestão de interpretação não-literal do citado trecho de
Eclesiastes fosse melhor aceita pelo clero. Afinal, a mente dos teólogos medievais era bem mais aberta do que a dos
teólogos do século XVII (que afirmou isso em uma entrevista foi Annibale Fantoli, doutor em Matemática e Física, e mestre em
Filosofia e Teologia). Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, os pensadores
mais respeitados da Idade Média, diziam que se evidências irrefutáveis viessem
a contrariar a usual interpretação das Escrituras, essas evidências deveriam
ser acatadas.
Mas Galileu quis cantar de galo sem ter
crista, e resolveu dançar lambada em um campo minado. Naquela época, o
protestantismo espalhava pelo mundo seus males e seus erros, defendendo que
qualquer leigo poderia interpretar a Bíblia, sem precisar se submeter à autoridade
da Igreja. Sabendo disso, podemos entender o zelo da Igreja diante de um leigo
que queria impor a sua interpretação da Bíblia, sem ter ao menos evidências
irrefutáveis para isso.
A justa preocupação em combater a livre
interpretação das Escrituras e o excessivo apego ao “argumento de autoridade”*
levaram o alto clero da Igreja a cometer o erro de condenar Galileu (erro este
admitido por São João Paulo II, em 1992). E que fique claro: Galileu NÃO foi torturado nem morto pela Inquisição. Ele foi condenado à
prisão domiciliar e passou seus últimos dias vivendo em sua luxuosa residência.
Ali, continuou a trabalhar e até mesmo publicou um livro.
Há centenas de exemplos que poderíamos
citar – historicamente documentados – de que a Igreja Católica, desde a Idade
Média e até hoje, promove e incentiva intensamente o avanço científico e o
conhecimento em geral. Contra isso, só há um – UM exemplo negativo, o caso
Galileu. Porém, é como se a realidade fosse invertida. Ao erro da
condenação se somaram séculos de calúnias, estupidez e todo o ódio dos
anticatólicos. E o mito se perpetua. Eis a penitência que todo o povo católico
terá que pagar, talvez até o fim dos tempos, por essa falta cometida há séculos
por nossos irmãos de fé.
É importante notar: a condenação de
Galileu não compromete o dogma da infalibilidade papal. Afinal, não foi um ato
de magistério infalível nem definitivo.
*****
Quem quiser saber um pouco mais sobre
esse assunto, veja aqui o vídeo do professor Thomas Whoods. Agora, se
você quer estudar esse tema a fundo, uma excelente leitura é o livro “Galileu – Pelo copernicanismo e pela Igreja”, do dr. Fantoli; o site Tubo de Ensaio publicou um ótimo
resumo da obra (veja aqui). O argumento de
autoridade* é explicado nesse resumo.
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Fonte: O Catequista
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