Uma das passagens bíblicas mais
deturpadas pelos cristãos é aquela em que Jesus diz “Não julgueis, e não sereis
julgados” (Mat 7, 1). Muitos católicos-jujuba, que se acham os profetas da misericórdia, adoram usar essa
expressão de forma totalmente mutilada de seu sentido autêntico.
Lendo essa passagem do Evangelho de
Mateus em seu contexto, vemos que Jesus não censura quem alerta o irmão de
estar agindo errado. De forma alguma! Ele alerta
contra o julgamento hipócrita e imprudente; se não tiramos a sujeira do nosso
próprio olho – o ímpeto de julgar de forma precipitada e sem caridade – não
temos capacidade para julgar as coisas de forma justa e santa.
“Por que olhas a palha que está no olho
do teu irmão e não vês a trave que está no teu? Como ousas dizer a teu irmão:
Deixa-me tirar a palha do teu olho, quando tens uma trave no teu? Hipócrita!
Tira primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do
teu irmão.” (Mat 7, 3-5).
Devemos pensar bem antes de apontar o
erro alheio, pois, como somos limitados, é comum
emitirmos um juízo errado. Ninguém deve ter prazer em chamar a atenção dos
outros, mas o amor ao destino do irmão que erra não nos deixa calar, quando,
dentro de um espírito de caridade, estamos certos daquilo que falamos.
São João Batista, por exemplo, não se
calou e apontou o pecado do adultério de Herores e Herodíades. Acaso ele
deveria ser censurado por estar “julgando o irmão”?
Infelizmente, a misericórdia vem sendo
confundida em nossas comunidades com o RELATIVISMO, que nega a possibilidade de
identificar qualquer atitude como objetivamente boa ou má. Muitos vivem
arrotando “eu não julgo ninguém” pra tirar onda de bonzinho e tolerante; na
verdade, estão mais preocupados em ficar bem na fita e não se indispor com
ninguém. São os católicos-jujuba: sempre doces, mas sem sustança.
Te cuida, jujubada! Deixar um irmão
pecar sem alertá-lo sobre seu pecado não é compaixão: é cumplicidade com o erro. Diz a Bíblia: “Se eu disser ao
pecador que ele deve morrer, e tu não o avisares para pô-lo de guarda contra
seu proceder nefasto, ele perecerá por causa de seu pecado, mas a ti pedirei
conta do seu sangue.” (Ez 33,8)
Do mesmo modo, nos ensina D. Orani
Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro: “Se um irmão está errado (…), mas em
nome de uma falsa amizade ou do medo, se você o deixar
continuar nessa lacuna, acabaremos sendo corresponsáveis pelo delito dele
porque não o ajudamos com a correção fraterna” (Fonte: Zenit).
Devemos ficar atentos: corrigir não é apedrejar. Corrigir é um ato de amor, reflexo do
desejo de que o irmão não perca a sua vida e nem desvie outros com seus erros;
apedrejar, por sua vez, é um ato de arrogância de quem deseja a meramente a
condenação do outro. E a correção nem sempre deverá ocorrer de uma forma
gentil. É bom lembrar que Judas traiu Jesus com um beijo, enquanto São Paulo
devolveu o juízo a São Pedro por meio de uma voadora sinistra!
Vocês não tão sabendo desse barraco,
não? Eu lhes conto.
No Concílio de Jerusalém, as
autoridades da Igreja já haviam decidido que os pagãos convertidos não tinham a
menor necessidade de seguir os preceitos da lei mosaica, que incluía, entre muitas
outras práticas, a circuncisão. Bastava que fossem batizados e seguissem os
mandamentos.
Pois bem… Passado algum tempo, em uma
visita aos gálatas, São Pedro estava relax, convivendo naturalmente com os
pagãos e agindo conforme os seus costumes. Mas quando um grupo de
cristãos-judeus chegou, o homem passou a agir diferente: evitava comer com os
pagãos convertidos, com medo de ser acusado de comer com gente “impura” e de
praticar atos impuros (tipo, comer carne de porco).
Os gálatas ficaram confusos ao ver o
comportamento de São Pedro. Afinal, eram obrigados ou não a seguir a lei
mosaica? Ao notar a situação, o Apóstolo dos Gentios veio pra cima, sem meias
palavras:
Quando Pedro foi a Antioquia,
enfrentei-o em público, porque ele estava claramente errado. De facto, antes de
chegarem algumas pessoas da parte de Tiago, ele comia com os pagãos; mas,
depois que chegaram, Pedro começou a evitar os pagãos e já não se misturava com
eles, pois tinha medo dos circuncidados. Os outros judeus também começaram a
fingir com ele, de modo que até Barnabé se deixou levar pela hipocrisia dele. Quando
vi que eles não estavam a agir conforme a verdade do Evangelho, disse a Pedro,
na frente de todos: “Tu és judeu, mas vives como os pagãos e não como os
judeus. Como podes, então, obrigar os pagãos a viverem como judeus?” (Gálatas 2,11-14)
And the winner is… São Pauloooooo, o Pé de
Chumboooooo! Não, não! Quem venceu foram ambos os santos, pois o efeito da correção
fraterna é naturalmente a consolidação dos laços de irmandade.
Mas, pra muitos católicos, a correção
fraterna não é expressão de virtude, um instrumento de santificação; antes, é
um crime, uma ação contrária à caridade cristã. Esse pessoal tá precisando
entrar no octógono com São Paulo!
“No momento em que é aplicada, qualquer
correção parece não ser motivo de alegria, mas de tristeza; porém, mais tarde,
produz um fruto de paz e de justiça naqueles que foram corrigidos.” (Hebreus 12,11)
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Fonte: O Catequista
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