Este quarto
domingo de agosto é dedicado aos leigos. A data chega bem, para situar uma
iniciativa importante que está em andamento, relativa à identidade eclesial e à
missão dos leigos.
Trata-se do
documento que está sendo construído pela CNBB, no qual se procura aprofundar e
atualizar a compreensão da vida e da missão dos leigos, na Igreja e na
Sociedade. Ainda estamos em tempo de colaborar com nossas ponderações e
sugestões, para que o documento receba a aprovação oficial da CNBB na próxima
assembleia, em abril do ano que vem.
Este trabalho
está sendo conduzido pela Comissão especial, nomeada pela CNBB, que conta
sobretudo com a participação de leigos, que recolhem as colaborações através
das diversas instâncias da organização dos leigos, entre as quais se destaca o
Conselho Nacional do Laicato do Brasil, com os respectivos Conselhos Regionais,
a Assembleia Nacional dos Organismos do Povo de Deus, e outros.
Por estas
referências, já percebemos um fato muito promissor: os leigos estão encontrando
caminhos para se articularem, e para atuarem, seja no contexto da Igreja como
da Sociedade.
Em termos de
processo histórico, tomando como ponto de partida o Concílio Vaticano II,
percebemos uma cadência interessante. São 50 anos do Concílio, são 25 anos da
Exortação Christifidelis Laici, e são 15 anos do documento da CNBB sobre a
Missão e os Ministérios dos cristãos Leigos e Leigas.
Tudo parece
pedir uma retomada das reflexões, para situar de novo esta questão,
atualizando-a face às muitas mudanças ocorridas depois do Concílio.
Uma boa
aquisição, fruto desta caminhada de reflexão e de inserção dos leigos na vida e
na missão da Igreja, foi a mudança semântica, consignada a partir da
Christifidelis Laici, que consistiu na inversão de funções literárias das
palavras. O que era substantivo passou a adjetivo, e inversamente, o que era
adjetivo foi guindado a substantivo. Não se fala mais os “leigos cristãos”, mas
em “cristãos leigos e leigas”.
Isto sinaliza
uma visão teológica bem mais abrangente, decorrente da visão conciliar de
“Igreja Povo de Deus”, em que todos, em primeiro lugar, somos cristãos, a título
igual, com a mesma dignidade e a mesma pertença à Igreja.
A partir desta
visão teológica de Igreja Povo de Deus foi se firmando a mudança de enfoque. O
que nos identifica a todos, é o fato primordial de todos sermos membros do Povo
de Deus. Esta nova ênfase, suscitada nos embates teológicos do próprio
Concílio, permanece como a afirmação de maior potencial teológico do Concílio
Vaticano II. A partir dela se produziu o que o Cardeal Döfner qualificou como a
“revolução copernicana” na compreensão da Igreja. Como Copérnico descobriu que
era a terra que girava ao redor do sol, e não o contrário, assim na Igreja, é a
hierarquia que está a serviço do Povo de Deus, e não o Povo de Deus que está ao
serviço da hierarquia.
Isto tudo tem
suas consequências, que demandam tempo para serem assimiladas, e mais tempo
ainda para serem implementadas.
Por isto tudo é
conveniente voltarmos a refletir sobre a identidade e a missão própria dos
cristãos leigos e leigas, sobre quem mais incidiu esta “revolução teológica”
causada pela eclesiologia conciliar.
Mas para isto, a
melhor maneira é conferir de perto como está sendo preparado este novo texto,
para o qual ainda podemos colaborar.
O fundamento já
está lançado: em primeiro lugar, somos todos cristãos. A partir daí, cada um veja
como qualifica esta realidade substantiva.
Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)
Bispo de Jales (SP)
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