Lidar
com crianças e adolescentes exige precaução. Não esperar o mal, mas
antecipar-se à sua mera ameaça. Isso dá vigília, alma alerta, olheira em
plantão. Vale a pena. Pois a dor do descuido é sempre cruel. Bem o sabe o pai
do zoológico de Cascavel que incorreu nessa falta de precaução.
Aos 11 anos, seu filho já devia ser consciente de
limites que, claramente, desconhecia. Derramou-se em insana brincadeira à volta
do tigre. Uma hora, fera que é, o felino Hu reacendeu os instintos de selva,
onde a lei dita que meninos provocando presas de tigre dilacerados serão.
Consta que o pai primeiro incentivou a brincadeira
suicida! Quando viu o braço do filho na boca do tigre, atirou-se na área
reservada, para socorrer o atacado. Hoje, aos prantos, o pai se desculpa com o
mundo. E lembra que o filho, já sem braço, ainda teve fôlego de revelar o bom
coração (apto, portanto, a acolher educação e limites), dizendo: não matem o
tigre.
Após a instigação irresponsável, o pai teria
convocado o filho. Que não obedeceu. Filho tem que obedecer a pai e mãe! É da
necessidade de sobrevivência e desenvolvimento de crianças e adolescentes, é do
bom senso, e – acima de tudo, por mais que digam o contrário – é da lei! Código
Civil: pais devem exigir de suas proles respeito, obediência e serviços.
Exigir.
No caso, temos um filho de pais separados. Problema
dos tempos, o caso comprova. Pais separados tendem a afrouxar disciplinas.
Certa culpa se instala, e não quer o pai, que não detém a guarda, gastar fim de
semana a ser antipático disciplinador. Um erro caro. Ao mesmo tempo, a mãe
guardiã, a quem sobra o encargo disciplinar, além de padecer tolerâncias
hormonais femininas que retardam o pronto castigo, também não quer ser a vilã
nessa história em que o pai visitante é sempre o divertido parque de diversões.
Ou permissivo zoológico.
Exigir obediência, respeito e serviços significa
determinar. De modo claro e audível. Fazer lei familiar. E lei só tem eficácia,
assim sabe o acadêmico de direito, se sanção existir. Sanção é castigo.
Pedagogia da consequência, hoje tão esquecida. Quando aquele pai mandou
frouxamente o filho sair da frente da jaula da fera e não foi atendido, devia
ter arrancado o menino de lá, se necessário arrastando-o pela orelha. Na
situação de extremo perigo, não há diálogo possível. Primeiro, a disciplina e o
socorro, depois, a conversa. Ele podia espernear, reclamar, gritar, dar-se uma
cena. E daí? Ah, não quero cair em “bocas de Matilde”, como pai ditador. Então.
Para evitar maledicentes, prefere o filho na boca do tigre?
Ser pai ou mãe produz indescritível prazer afetivo.
Mas implica responsabilidades graves e irrenunciáveis. Preços altos, que
precisam ser pagos. Inclusive o da incompreensão social aqui e ali, até o da
inimizade do filho que recebe disciplina necessária.
Tem pai e mãe nesta cidade que, se não está empurrando
a prole para a jaula da fera, passivamente assiste ao filho brincar com a
cabeça dentro da boca do tigre. Presenteiam meninos com games proibidos,
permitem filhas de comportamento cachorra, autorizam álcool a meninos curiosos,
consentem sexo precoce, dão vista grossa ao pífio rendimento escolar, e deixam
filhos se desperdiçarem na maconha pública dos gramados desolados de
autoridade.
Levante-se. Vá arrancar seu filho da boca do tigre.
Em alguns casos, talvez tenha que arrastá-lo pela orelha. Faça. E dialogue. Mas
faça.
Denílson Cardoso de Araújo
________________________________________
Fonte:
In Guardia
Nenhum comentário:
Postar um comentário