sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Síria: piores do que as armas são os pregadores da violência






O pior não é apenas a ocupação armada, mas o fato de que as milícias do Estado Islâmico levem os pregadores até as mesquitas e templos para pregar o ódio e envolver as mentes mais frágeis, afirmou ontem, terça-feira, em coletiva no Meeting de Rimini, o vigário apostólico de Aleppo, dom George Abou Khazen, acompanhado pelo seu antecessor, o bispo Giuseppe Nazzaro.

Respondendo a ZENIT sobre a impressão existente de que os muçulmanos desses países sejam todos extremistas, ele disse: “Na Síria, a população muçulmana é muito moderada e continua sendo”. Mas as milícias estrangeiras “não somente trouxeram as tropas, como também os ulemás e os sauditas que começaram a pregar um islã absolutamente diferente, tentando cooptar até as crianças”. Os extremistas instituíram tribunais islâmicos em que um sírio pode ser julgado por um radical checheno, por exemplo. Se um pai vir a filha sendo sequestrada por um islâmico, encontrará no tribunal outro miliciano igual ao agressor.

Para dar ideia de quem são esses radicais, dom Nazzaro lembrou que, no ano passado, o Grande Mufti da Arábia Saudita emitiu uma fatwa [decreto islâmico, ndr], divulgada nos jornais, em que declarava: “Quem acreditar que a terra gira em torno do sol é um infiel, porque assim o disse o meu predecessor dos anos 1970, e quem omite este fato não merece viver”.

Sobre a situação atual de Aleppo após três anos de guerra, dom Kazhen respondeu a ZENIT que há muitos problemas de abastecimento de água e luz e que a falta de segurança é crítica: mísseis continuam sendo lançados e há novos mortos todos os dias. A cidade está dividida, com bairros dominados pelos rebeldes e outros pelo governo. Os rebeldes tinham sitiado e dominado toda a cidade, mas o exército recuperou uma parte e hoje consegue abastecê-la. O aeroporto está fechado porque os combatentes “disparam também contra os voos civis”. Até hoje, recordou Kazhen, não se sabe nada sobre os dois bispos e sacerdotes sequestrados. Por outro lado, os mosteiros de religiosas residentes em Aleppo continuam em atividade.

Quanto ao financiamento dessas milícias, o vigário apostólico explicou a ZENIT que “todos sabem: vem da Arábia Saudita e do Qatar. A Turquia dá menos apoio, só de tipo logístico. Se eles realmente quisessem que esta situação terminasse, não enviariam gente, não treinariam gente, não armariam essa gente”. Dom Kazhen afirmou “também há mais algum país envolvido”.

“Até um ano atrás, quando os rebeldes eram somente sírios, as coisas eram outras, havia respeito, não havia esta violência nem este extremismo. Agora os milicianos são majoritariamente estrangeiros. Muita gente que esperava que essa primavera florescesse já viu que não era bem assim”.

A respeito da visita do papa à Terra Santa, o vigário apostólico disse que a população ficou sabendo da viagem apostólica. “As informações ainda chegam quando há luz, o que permite ver os noticiários. Além disso, nós também informamos. As pessoas diziam: ‘Tomara que o papa venha aqui também’”.

Sobre a emigração dos cristãos, dom Khazen disse que em 1968, quando o governo anterior ao do pai de Bashar Al-Assad nacionalizou as escolas, houve o primeiro êxodo de cristãos rumo ao Líbano, porque eles queriam dar instrução cristã aos filhos numa época que era de terror. “O pai de Assad foi duro no início, mas, nos últimos anos de vida, começou a abrandar as coisas. Com seu filho, a abertura foi maior, quase total em alguns setores como o turismo e o comércio, e havia bastante segurança”, contou o vigário apostólico.

Dom Khazen acrescentou que "não há estatísticas sobre os cristãos que ficaram na Síria, mas, antes da guerra, totalizavam cerca de 250 mil, numa cidade com 4,5 milhões. Hoje, aproximadamente 60% dos cristãos foram embora".

“Que a Síria atual, como país laico, pluralista e moderado, possa continuar existindo”, desejou, encerrando a entrevista.
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Fonte: ZENIT

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