A polêmica contra a Igreja
Católica é falsa. O cardeal dom Orani Tempesta recusou liberar o Cristo
Redentor para o filme ironicamente chamado “Inútil paisagem”, do cineasta José
Padilha — que faria parte do longa-metragem “Rio, eu te amo” —, mas não o
proibiu. As ofensas à Igreja Católica são parte da sacrofobia, e da cristofobia
em particular, e muito comuns em artistas que se valem do escândalo como
marketing pessoal. Uniram-se contra a legítima defesa do divino. Há uma clara
manifestação de ódio contra a Igreja. Saudades do gênio Glauber Rocha, que
respeitava o sagrado.
Dom
Orani tem a governança sobre o Cristo Redentor. A proteção à imagem sagrada é
dever do cardeal. Cristianismo, budismo, judaísmo, hinduísmo, islamismo e
outras religiões governam a si mesmas. A cena pode ser realizada em qualquer
outro lugar, mas negar à Igreja Católica o direito constitucional sobre si
própria é uma expressão do autoritarismo cultural. É negar ao católico o
direito de ser católico. Herbert Marcuse e Theodor Adorno estudaram esse
fenômeno da liberação repressiva.
O
culto da teofobia pretende destruir todas as dimensões do sagrado, negando sua
autonomia. É a lógica da repressão black bloc. A ofensa não é à Cúria, mas ao
Deus por ela anunciado. A imposição do profano como exercício da “liberdade de
expressão” é típica do nazibolchevismo. Eis a liberdade repressiva tal como
vimos nos regimes nacional-socialista, comunista e no terrorismo islâmico
contemporâneos. A repressão quer exercer a dominação da intolerância e da
censura prévia ao sagrado. Nietzsche propôs a destruição de todos os valores da
civilização judaico-cristã, seguida à risca pelo nazismo.
A
Igreja rejeitou o pedido do cineasta e o desagradou, mas a dom Orani cabe
agradar a Deus. A separação entre Igreja e Estado não significa destruir a
Igreja ou destruir o Estado. Houve a recusa de uma cena ofensiva em local
sagrado. Da mesma forma agiriam todos os líderes religiosos em qualquer lugar
do mundo. Qual líder autorizaria um crime contra o sentimento religioso e o
vilipêndio público de seu próprio objeto de culto religioso?
A
sacrofobia quer impor seus dogmas às religiões, expondo debochadamente a
profanidade no seio do espaço divino. Autor de filmes do mais baixo nível
cultural, explorador comercial da violência urbana, um artista pode vender
muito, mas não pode comprar a consciência religiosa, nem impor às religiões os
códigos da estética da barbárie. Nem toda liberdade de expressão é expressão da
liberdade. Heidegger escreveu que a “raça” pura ariana tinha o direito à
liberdade do genocídio e da dominação escravocrata de povos e raças
consideradas inferiores pelo nacional-socialismo. Somente uma ditadura
totalitária alcançaria a liberdade de silenciar as religiões através do
sacrocídio.
João Ricardo Moderno
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Fonte: O Globo
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