segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Um leigo pode ler o Evangelho na Missa?




A ordenação ritual da Missa pode comparar-se a uma partitura musical, em que cada intervenção está programada e dosada para se obter uma execução harmônica; assim, se um cantor ou um instrumentista executar uma parte que não lhe pertença, comprometerá toda a execução. O mesmo acontece com a leitura do Evangelho durante a Missa, se efetuada por um simples fiel, pois não se trata somente de infração disciplinar, mas também provoca uma espécie de grande desafinação. Ao tornar-se uma regra, e ainda por cima com a aprovação do pároco, revela uma incompreensão grave dos diferentes papéis a desempenhar na celebração eucarística e manifesta um enorme atropelo ritual.


O papel dos sacerdotes e dos fiéis


Entre o papel do sacerdote e o da assembleia dos fiéis – os dois polos de convergência que interagem numa relação constante-, há outras pessoas ou atores com tarefas bem determinadas, sem sobreposições nem interferências. Poderá haver quem considere que estas inter-relações têm uma importância secundária ou até mínima; mas a verdade é que o Concilio Vaticano II consagrou-lhes explicitamente um artigo Constituição Litúrgica Sacrosanctum concilium (SC): “Nas celebrações litúrgicas, limite-se cada um, ministro ou simples fiel, exercendo o seu ofício, a fazer tudo e só o que é da sua competência, segundo a natureza do rito e as leis litúrgicas” (SC 28).


A disposição conciliar acabou com o monopólio do sacerdote que tinha centrado em si as diversas funções desde a da presidência à de ler as leituras e os textos destinados ao canto, e voltou a dar plena capacidade de expressão e de participação à assembleia dos fiéis. De fato, a assembleia, à semelhança da Igreja, de que é a manifestação visível e privilegiada – reveladora da sua natureza e das suas características – , não é uma massa indiferenciada e uniforme, mas um povo reunido e ordenado, onde cada membro ou grupo desempenha a sua função específica para serviço de todos.


À frente da assembleia eucarística coloca-se a figura do sacerdote que, por força do sacramento da Ordem (por isso é que se diz "ministério ordenado"), preside em vez de Cristo, dirige a oração, anuncia a Palavra de salvação, associa o povo à oferta e distribui o pão da vida eterna. Ente os ministros ordenados, além do bispo, encontramos o diácono, sempre tido em grande honra, a quem competem diversos ofícios, especialmente a proclamação do Evangelho e o serviço da comunhão no cálice. Para evitar qualquer forma de individualismo e de divisão, exige-se que a assembleia forme um único corpo, participando de modo unitário na escuta da Palavra, na oração, no canto, na oferta, na comunhão e, igualmente, nos gestos e atitudes do corpo.

Mistérios para o serviço



Para serviço do presidente e da assembleia está prevista uma serie de ofícios ou ministérios (etimologicamente nem de poder) exercidos por pessoas oportunamente designadas e preparadas para cada um dos momentos da celebração: para o acolhimento, para a leitura, para a oração, para o canto e para a mesa. O número de pessoas encarregadas varia, consoante as assembleias são mais ou menos numerosas, mas o mínimo requerido para a missa com a participação dos fiéis é de, pelo menos, três ministros: um acólito, um leitor e um cantor. O cantor está encarregado de dirigir e de apoiar o canto do povo, ajudado, se possível, pelo coro. O acólito ajuda o sacerdote no altar e, em determinadas condições, na distribuição da comunhão aos fiéis. O leitor – como o acólito, é um ministério <<instituído>>, isto é, designado de modo estável com um rito apropriado – desempenha a função da leitura dos textos bíblicos, exceto do Evangelho. Estes dois ministérios também podem ser exercidos por simples fiéis, desde que preparados do ponto de vista bíblico, litúrgico, espiritual e técnico.


A Palavra de Deus


Entre os ministérios abertos aos leigos, o de leitor é o mais importante. Este ministério tem um local e um livro próprios. Esse local é o ambão, um lugar elevado dotado de uma estante, para que a voz possa ser ouvida por todos. O livro, chamado leccionário, é uma coleção ordenada das leituras bíblicas para cada celebração. Nunca se celebra a Eucaristia sem a leitura da Palavra de Deus e, quando o leitor lê, todos escutam sentados. Há uma exceção para a leitura do Evangelho, para a qual todos se levantam, fazem o sinal da cruz, aclamam no início e, no fim, enquanto o leitor beija a página evangélica.


A antiquíssima tradição do Oriente e do Ocidente atribuiu grande importância à leitura do Evangelho, honrando-o com um livro diferente, com decorações valiosas – ao longo da história e, mesmo atualmente, fizeram-se e publicaram-se verdadeiras obras de arte! -, entregando ao diácono ou, na sua ausência ao sacerdote, a sua proclamação. Ensina o Concílio Vaticano II (SC 33) que, na palavra do Evangelho, Cristo anuncia, hoje, o seu "Evangelho" e torna-Se presente (SC 7). Os gestos litúrgicos que acompanham a leitura do Evangelho: canto, incenso, círios, procissão, etc.) exprimem a fé  da assembleia na presença de Cristo através da sua Palavra. Por isso, confiar a uma pessoa qualquer a leitura do Evangelho tem o direito de explica-lo ou de fazer a homilia), mas também uma falta de respeito por Aquele que é a Palavra viva.



[Fonte: FALSINI, Rinaldo. A LITURGIA, Respostas às perguntas mais provocadoras. Trad. Antonio Maia da Rocha. Ed. Paulus.2ªedição. Portugal:2003]
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Fonte: Aleteia

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