Missa de Beatificação de Paul Yun Ji-Chung
e 123 companheiros
mártires
Porta de Gwanghwamun a Seoul, Coreia do Sul
Sábado, 16 de agosto de 2014
Porta de Gwanghwamun a Seoul, Coreia do Sul
Sábado, 16 de agosto de 2014
«Quem nos separará do amor de Cristo?» (Rm 8,
35). Com estas palavras, São Paulo fala-nos da glória da nossa fé em Jesus:
Cristo não só ressuscitou dentre os mortos e subiu ao céu, mas uniu-nos a Si
mesmo, tornando-nos participantes da sua vida eterna. Cristo é vitorioso e a
sua vitória é nossa!
Hoje celebramos esta vitória em Paulo Yun
Ji-chung e nos seus 123 companheiros. Os seus nomes vêm juntar-se aos dos
Santos Mártires André Kim Taegon, Paulo Chong Hasang e companheiros, aos quais
pouco antes prestei homenagem. Todos viveram e morreram por Cristo e agora
reinam com Ele na alegria e na glória. Com São Paulo, dizem-nos que Deus, na
morte e ressurreição de seu Filho, nos deu a maior de todas as vitórias. De
fato, «nem a morte, nem a vida, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer
outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus,
nosso Senhor» (Rm 8, 38-39).
A vitória dos mártires, o testemunho por eles
prestado à força do amor de Deus, continua ainda hoje a dar frutos na Coreia,
na Igreja que recebe incentivo do seu sacrifício. A celebração do Beato Paulo e
dos seus companheiros nos dá oportunidade de voltar aos primeiros momentos, aos
alvores da Igreja na Coreia. Convido-vos, católicos coreanos, a lembrar as
grandes coisas que Deus realizou nesta terra e a guardar, como um tesouro, o
legado de fé e caridade que vos foi confiado pelos vossos antepassados.
Na providência misteriosa de Deus, a fé
cristã não chegou às costas da Coreia por intermédio de missionários; mas
entrou através dos corações e das mentes do próprio povo coreano. Este foi
estimulado à fé pela curiosidade intelectual, pela busca da verdade religiosa.
Foi através dum encontro inicial com o Evangelho que os primeiros cristãos
coreanos abriram as suas mentes a Jesus. Queriam saber mais sobre este Cristo
que sofreu, morreu e ressuscitou dos mortos; e este aprender algo sobre Jesus
bem depressa levou a um encontro com o próprio Senhor, aos primeiros batismos,
ao desejo duma vida sacramental e eclesial plena e aos inícios dum compromisso
missionário. Além disso, frutificou em comunidades que se inspiravam na Igreja
primitiva, onde os fiéis formavam verdadeiramente um só coração e uma só alma,
sem olhar às diferenças sociais tradicionais, e possuíam tudo em comum (cf. Act
4, 32).
Esta história é muito elucidativa sobre a
importância, a dignidade e a beleza da vocação dos leigos. Dirijo a minha
saudação a tantos fiéis leigos aqui presentes, especialmente às famílias
cristãs que diariamente, com o seu exemplo, educam os jovens para a fé e o amor
reconciliador de Cristo. De modo especial, saúdo os inúmeros sacerdotes aqui
presentes: através do seu ministério generoso, transmitem o rico patrimônio de
fé cultivado pelas passadas gerações de católicos coreanos.
O Evangelho de hoje contém uma mensagem
importante para todos nós. Jesus pede ao Pai que nos consagre na verdade e nos
guarde do mundo. Antes de mais nada, é significativo que Jesus, ao pedir ao Pai
que nos consagre e guarde, não Lhe pede para nos tirar do mundo. Sabemos que
envia os seus discípulos para serem fermento de santidade e verdade no mundo: o
sal da terra e a luz do mundo. Nisto, os mártires mostram-nos o caminho.
Algum tempo depois que as primeiras sementes
de fé foram lançadas nesta terra, os mártires e a comunidade cristã tiveram que
escolher entre seguir Jesus ou o mundo. Tinham escutado a advertência do
Senhor, ou seja, que o mundo os odiaria por causa d’Ele (cf. Jo 17, 14); sabiam
qual era o preço de ser discípulo. Para muitos, isso significou a perseguição
e, mais tarde, a fuga para as montanhas, onde formaram aldeias católicas.
Estavam dispostos a grandes sacrifícios e a deixar-se despojar de tudo o que
pudesse afastá-los de Cristo: os bens e a terra, o prestígio e a honra, porque
sabiam que somente Cristo era o seu verdadeiro tesouro.
Hoje, muitas vezes, experimentamos que a
nossa fé é posta à prova pelo mundo, sendo-nos pedido de muitíssimas maneiras
para condescender no referente à fé, diluir as exigências radicais do Evangelho
e conformar-nos com o espírito do tempo. Mas os mártires chamam-nos a colocar
Cristo acima de tudo, considerando todas as demais coisas neste mundo em
relação a Ele e ao seu Reino eterno. Os mártires levam-nos a perguntar se há
algo pelo qual estamos dispostos a morrer.
Além disso, o exemplo dos mártires ensina-nos
a importância da caridade na vida de fé. Foi a pureza do seu testemunho de
Cristo, manifestada na aceitação da igual dignidade de todos os batizados, que
os levou a uma forma de vida fraterna que desafiava as rígidas estruturas
sociais do seu tempo. Foi a sua recusa de separar o duplo mandamento do amor a
Deus e do amor ao próximo que os levou a tão grande solicitude pelas
necessidades dos irmãos. O seu exemplo tem muito a dizer a nós que vivemos numa
sociedade onde, ao lado de imensas riquezas, cresce silenciosamente a pobreza
mais abjeta; onde raramente se escuta o grito dos pobres; e onde Cristo
continua a chamar, pedindo-nos que O amemos e sirvamos, estendendo a mão aos
nossos irmãos e irmãs necessitados.
Se seguirmos o exemplo dos mártires e
acreditarmos na palavra do Senhor, então compreenderemos a sublime liberdade e
a alegria com que eles foram ao encontro da morte. Além disso, veremos que a
celebração de hoje abraça os inúmeros mártires anônimos, neste país e no resto
do mundo, que, especialmente no século passado, ofereceram a sua própria vida
por Cristo ou sofreram duras perseguições por causa do seu nome.
Hoje é um dia de grande alegria para todos os
coreanos. O legado do Beato Paulo Yun Ji-chung e dos seus Companheiros – a sua
retidão na busca da verdade, a sua fidelidade aos supremos princípios da
religião que tinham escolhido abraçar, bem como o seu testemunho de caridade e
solidariedade para com todos – tudo isso faz parte da rica história do povo
coreano. O legado dos mártires pode inspirar todos os homens e mulheres de boa
vontade a trabalharem harmoniosamente por uma sociedade mais justa, livre e
reconciliada, contribuindo assim para a paz e a defesa dos valores
autenticamente humanos neste país e no mundo inteiro.
Possam as orações de todos os mártires
coreanos, em união com as de Nossa Senhora, Mãe da Igreja, obter-nos a graça de
perseverar na fé e em toda a boa obra, na santidade e pureza de coração e no
zelo apostólico de testemunhar Jesus nesta amada Nação, em toda a Ásia e até
aos confins da terra. Amém.
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Disponível em: Canção Nova
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